CONFIANÇA

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Não teria medo de recomeçar com Jeyjey por causa do quartinho apertado todo bagunçado em que ele vivia e sim pela pessoa que ele estaria se tornando. Ele não era mais quem eu conheci há alguns  anos atrás. Eu decidi ficar na Austrália depois do casamento do meu filho, mas não morava com Jeyjey e ele sabe dos meus motivos, começando pelo o seu vício na bebida e descompromisso com a vida dele e de nosso filho. Dizer com própria boca que vai mudar é fácil, difícil é fazer na prática.

Eu tive que recomeçar do zero outra vez na questão financeira, peguei um empréstimo com Alec e o paguei aos poucos. Eu consegui trabalhar como orientadora em um Colégio, após fazer um curso de pós-graduação (Graduate Visa). Porém, não estava sendo fácil, estava sozinha nessa empreitada com Jefferson que logo, logo completaria seus dois anos de idade.

No aniversário de 28 anos de Jeyjey preparamos uma surpresa para ele e para nossa sorte ele apareceu sóbrio, nos agradeceu pelo acolhimento e prometeu que se internaria na reabilitação, eu disse que seria bom ele mesmo ir por conta própria, para depois não jogar na cara de ninguém que estaria pressionado a ir. Ele não gostou das minhas palavras, porém elas eram verdadeiras. De certa forma ele já vivia sob pressão constante e não era somente nós que torcia para sua melhora, seria a sociedade toda em si que precisaria dele como todo presente e participativo. Não estávamos na nossa terra natural de nascimento e se não ajudarmos o país com nosso trabalho, não seríamos somente estrangeiros e sim, intrusos e um "peso" por assim dizer e existem leis para isso.

Enquanto os conhecidos foram deixando a casa de Alec após os parabéns, Jeyjey veio falar comigo, brindando com refrigerante.
"Posso ficar essa noite com você?"
Eu o olhei relutante e ele me convenceu dizendo que não encontraria nada de bom no quarto onde morava e isso ele se referia as bebidas e até outras coisas qua não me convinha. Eu decidi dar esse presente a ele, que também seria meu.
Alec e Maitê recolheram para o quarto do casal e nos deixaram a sós com Jefferson (eu senti falta da avó dele quando ela cuidava do bebê à noite). Porém, ele era nosso chaveirinho e tinha que ficar sempre conosco. Aproveitei a companhia de Jeyjey que o fez dormir. Eu fingi dormir quando enfim ele veio até mim, porém Jeyjey não acreditou no meu "golpe"me mantendo bem acordada por um tempo.

Micaela já era uma mocinha da mesma estatura de Jefferson e Jeyjey sempre colocava os dois filhos para interagir pela tela do computador, apesar de Aline não ser muito a minha fã, ela concordava que a filha tivesse contado com o irmão. Eu chegava por trás de Jeyjey, o abraçava e beijava fazendo Aline bufar, e quem disse que eu não tinha ciúmes do meu amor? Ele ria das minhas gracinhas e me beijava ainda mais.

Todos os passeios que Jeyjey queria levar a Jefferson eu os acompanhava, porque bastava ele encontrar um amigo de "copo" que não se lembraria mais da criança e até entregaria para um estranho qualquer. Jeyjey apesar de pai, estava proibido de pegar Jefferson na escola e isso o chateava muito. Porém, foi uma das minhas condições se ficássemos na Austrália.

Jeyjey se internou por conta própria para se desintoxicar, Alec e eu oferecemos ajuda com os custos da instituição. Para ele, nos primeiros dias, segundo relatos dele próprio, foram os piores de sua vida. A aceitação de que ele mesmo é quem precisaria mudar, o deixava depressivo e até potencial suicida, já que não era mais um adolescente inconsequente e a chegada dos filhos exigiram dele um amadurecimento rápido.

Em uma das suas "saidinhas", ele veio chorar comigo e eu o orientava de forma profissional na minha área de atuação. Ele se conformava e voltava para o tratamento.

Depois de alguns meses, fomos Alec, Maitê e eu buscar a Jeyjey na saída da instituição que ele estava. Jefferson ficou na escola e só veria o pai dele mais tarde. Ele estava radiante, lindo como eu não o via a tanto tempo e aquele seria um grande dia, o dia da sua libertação. Ele abraçou o casal e a mim. Entregamos-lhe presentes e dizemos a ele o quanto ele era especial para as nossas vidas.

Você, Outra vezOnde histórias criam vida. Descubra agora