[dois.]

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lise's p.o.v

- A gente tá MUITO internacional!

- Bia, tem gente olhando - respondi rápido enquanto minha amiga rodopiava na calçada, fingindo irritação. - Na próxima vez venho sozinha.

- Epa, epa! Eu tô queitinha e não bebi nada no hotel.

- Quase nada! - respondemos as duas em uníssono para Karina, nosso terceiro elemento.

Para falar a verdade, elas poderiam gritar, subir no poste, chorar na calçada... Estar reunida com as duas em Nova York era um presente duplo, com Karina ocupada no novo escritório e Bia cuidando do filhinho Théo enquanto o marido viajava para as partidas de vôlei. Eu também tinha meu emprego e, ah... Tem o fato de ter ficado mergulhada nele nos últimos oito meses.

Trabalhar envolvia minha atenção, e nunca precisei mais disso do que nesse período. Mas agora eu estava colhendo os frutos do meu esforço fora do país com as minhas melhores amigas, e não poderia estar sorrindo mais.

- Nem parece que nos engasgamos com farofa de calabresa antes de chegar no aeroporto.

- Olha pra gente, todas de salto e sobretudo! - Bia concordou comigo.

- O sobretudo não é muito uma escolha fashion... - Karina se encolheu com o frio. - A gente andando assim pela rua parece uma cena mal feita de Sex and the City.

Eu não me aguentei e me juntei à Bia, quase tropeçando de rir enquanto adentrávamos ao barzinho que seria nosso destino final para jantar.

- Então você faz o que, senhora de negócios? - o carinha bonito perguntou em português. Ele escutou a gente falando alto no idioma e se apresentou como conterrâneo. Bia aproveitou na hora para fazer minha fita e agora estávamos no balcão, esperando uma bebida.

- Eu não me chamo assim - revirei os olhos com um meio sorriso, lembrando do que minhas amigas lhe disseram sobre mim.

- Mas deveria, é o que você é.

Sorri com o jeito dele. Guilherme era simpático, parecia valorizar aquele meu lado profissional, e ao mesmo tempo fugir totalmente disso para entrar num assunto descontraído. Além disso, as covinhas do sorriso e o cabelo perfeitamente arrumado não negavam que ele era um gato.

- Tá. Eu sou tabeliã, me formei em direito na UFC, que é a Universidade Federal do Ceará, e passei relativamente cedo para o concurso, foi uma alegria só. O cartório que eu administro fica em Campinas, então tive que mudar. Além disso, tem uma filial menor no Rio, o que eu até gosto porque quando tenho que ir lá é sempre paz e diversão - lhe lancei um sorriso. - E trabalho, claro!

Guilherme era vice-diretor de uma startup famosa do Brasil, e vinha a Nova York sempre a negócios para também resolver questões das filiais.

- Mas parece que eu aproveitei dessa vez para achar mais coisa... - disse piscando, em brincadeira, pegando o celular.

- Lise, o que você tá fazendo aqui? - Karina bateu na mesa, com força.

- Ué, esqueceu que viajou comigo? - me fiz de desentendida, sentando e dando de ombros.

- O que ela quer saber é porque você vai voltar para o hotel com a gente, e não com aquele gostoso - Bia explica, como se estivesse entediada, e eu me viro com os olhos arregalados. - O que foi? Eu sou casada mas também não sou cega.

Devaneio, com Bruno RezendeOnde histórias criam vida. Descubra agora