[quatro.]

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- Tio Buno!

Reconheci Davi, o priminho de Lise, alguns meses mais crescido, e quase passei mal com o alívio. Claro, apenas muito feliz por reencontrar a criança, e por ele também lembrar de mim. Imaginar que o bebê seria, sei lá, hipoteticamente, filho dela, só me assustou porque era inesperado. Só. Seria um surpresa, imagina só.

Lucarelli me abraçava, e ainda no abraço eu observava Lise de onde estava. Ela também olhava pra mim. Senti minha barriga revirar de nervosismo, mas arrisquei um meio sorriso.

Seus olhos denunciavam uma certa simpatia. Tive tempo de sobra pra cogitar mil vezes se ela me odiava nesse tempo que passei fora sem lhe ver. Ali, com ela se aproximando de onde eu estava, pensei se não era tudo coisa da minha cabeça.

- Buno!

- Ô, meu amor, olha você todo grandão! - abracei a criança, que logo se atirou em mim. De perto, Davi parecia enorme, e me senti feliz de verdade ali ouvindo sua risadinha de novo.

Lise nos olhava sorridente. Sabia que ela nunca o privaria de se aproximar de mim mesmo que me detestasse muito. Ela era justa, antes mesmo de estudar a justiça na faculdade, e acima de tudo era boa, mais do que eu sempre fui. Não tinha porque dar um último golpe em um idiota que já perdeu demais porque não pensa direito.

- Graças a Deus que o Davi é acostumado a você! - ela começou, descontraída, como se tivesse me visto ontem. - Ele não lembra ou não gosta de ninguém aqui fora a Karina, e ela tá ocupada, então vou aproveitar para ir logo ao banheiro antes que ele se esguele sem mim.

- Babysitting no casamento? - brinquei.

- Único date que achei disponível em cima da hora - ela cobriu minha brincadeira com outra, e sorrimos. - Na verdade, minha família tá por aqui e ele quis vir comigo, vai ficar um pouquinho com a prima antes dos pais passarem pra pegar. Né?

Ele concordou todo satisfeito, ainda no meu colo sem reclamar.

- Você me quebrou um galho daqueles, Davi! - fiz cócegas na barriga dele enquanto cochichava com o menino, e Lise já havia saído até o banheiro. - Bora atrás de comida nessa festa?

Depois que lhe entreguei um Davi sonolento de volta e ela me agradeceu, passaram-se horas até que a gente tivesse um momento a sós de novo. Já era o fim daquela tarde, os noivos estavam casados e dançantes, e a música ao vivo alta.

- Como vai o campeonato na Itália esse ano? De volta à casa? - Lise puxou assunto, sentando ao meu lado nos banquinhos altos da área das bebidas e ajeitando o vestido longo.

A sua pergunta me lembrava nossa conversa no sonho de 3 semanas atrás. Tentei afastar tudo aquilo. Tinha mais coisa envolvida naquele sonho/passamento que não era apropriado lembrar...

- Acho que bem. Quando eu fui em 2011 era um moleque, então parece que até a cidade mudou toda desde então. Ainda é difícil ganhar costume.

- Achei que você já tivesse ganhado - ela respondeu com confusão, como se tivesse certeza disso. Sabia na hora que era coisa dos meus - dos nossos - amigos. Talvez pra me dar uma forcinha e ela não pensar que eu vivia miserável pelos cantos de lá, ou talvez só me quisessem longe dela e era melhor para Lise pensar que eu vivia muito bem.

Devaneio, com Bruno RezendeOnde histórias criam vida. Descubra agora