[seis.]

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"She never need a man, she what a man need (man need)
So I keep on falling for her daily"

- Bom dia, meu povo!

Meu sorriso e passos são animados quando eu adentro o cartório, e todos retribuem animados também. Eu tento manter os funcionários ali o mais motivados e satisfeitos possíveis, então sou muito agradecida por termos um relacionamento bom.

E bem, comigo passando tanto tempo me dedicando mais ainda ali nos últimos meses... Seria péssimo se não nos déssemos bem.

- Lise, chegou essa papelada antes de ontem e temos aquela cerimônia marcada para depois da reunião - Ana Luiza, meu braço direito e parceira para todas as horas segue no meu passo. - Você já tá toda gata assim para presidir o casamento, né?

Eu vestia um vestido preto sem mangas, de modelo tubo, que ia até bem abaixo do meu joelho. Para completar, meu escarpim nude favorito e o cabelo preso em um rabo de cavalo.

- Não ia me arrumar de novo, e eu não presido casamentos, meu emprego me permite só casar pessoas - brinco com ela, que faz uma careta insatisfeita de volta.

Entramos na minha sala e eu começo a assinar parte dos papéis.

- Novidades?

- Jorge e Rafa estão namorando. Mas eles não sabem que a gente sabe.

Meu queixo caiu, e logo depois desatamos na risada. Adorava saber das coisas dos outros funcionários e opinar junto com ela. Nos almoços e em toda pausa, ela virou mais do que minha suplente a quem eu confiava o cartório sempre que me ausentava sem piscar duas vezes: era uma boa amiga.

- Ela mandando nele faz ele gamar cada vez mais - Ana deu uma risadinha.

- Você sabe que eu adoro ver mulheres em posições de poder... - digo com um olhar malicioso. - Sério, eu fico feliz por ele dois. São fofos juntos, bem Jim e Pam do Cartório Campinas!

Ana Luiza se revira de tanto rir e me dou por satisfeita.

- Ah, e o Cristiano... Veio inspecionar tudo e te fez mil elogios. Disse que você aqui ligada na potência máxima foi fundamental para esse sucesso todo e blablá.

Olho para baixo. Me dedicar ao meu trabalho era um sonho, mas manter o ritmo que mantive nos últimos meses não era possível por muito tempo. Eu sei o que é exaustão mental e não queria provar dela de novo.

- Eu não queria... Eu precisei estar sempre aqui por razões minhas, e acabei me apaixonando ainda mais pelo que fazemos aqui - me ajeitei na minha mesa, pouco confortável. - Nós somos número 1 em procura nas duas filiais! Mas, Ana, ninguém continua nesse pique sem pirar.

- Você sabe que ele adora se meter na nossa vida, nem escuta, não foi escutando ele que chegamos aqui! - minha parceira tenta me confortar. Cristiano era o inspetor de vários cartórios naquela região, já que as unidades são monitoradas pelo Estado. O cara era o típico homem de negócios que acha que mais, na verdade, é sempre mais. E que está por trás do sucesso das nossas conquistas suadas em equipe.

Mas eu havia ralado e estudado muito para chegar ali, e vir uma vez a cada dois meses ver se as coisas estão legalmente ok aqui não lhe dá o direito de dar palpites sem rumo algum.

- Eu não queria... Eu não quero que seja algo estipulado - consertei. Não era mais uma menina que pelo bem do emprego precisava guardar sua opinião. Eu podia dar a última palavra e mudar a qualidade de vida de todas aquelas pessoas, e fazer isso por eles e por mim era o que eu sempre tentava. - Vamos trabalhar duro mas vamos ter nossos momentos sem nada disso na cabeça.

- De preferência bem longe daqui! E na Europa! - Ana disse, animadíssima.

Sorri sem graça. Há alguns dias alguém havia me chamado para ir até a Europa mesmo. Imagino que Cristiano iria simplesmente passar mal se soubesse do convite, ainda mais num mês de pico de escrituras e outros contratos como esse, e acho aquilo engraçado.

- Ei, você merece curtir mais seu tempo extra escritório - fingi que ouvi-la não me doía, já que era verdade. - Fico feliz que a partir de agora esteja pensando mais nessa Lise também. E você é a pessoa mais equilibrada que eu conheço até quando jura que perdeu a balança das coisas, então vai continuar nos guiando até o guiness book do mesmo jeito.

Ela pisca pra mim, dando de ombros, e rio com seu jeito bobão de me animar às vezes.

- E com o poder concedido a mim pela jurisdição, posso declarar vocês - os encaro com o mais largo dos sorrisos - marido e esposa.

O casal apaixonado troca um beijo, e todos ali aprovam com animação. Eu espalmo as mãos, meus olhos brilhando, orgulhosa e feliz por eles. Tornar aquele momento o mais especial que eu pudesse com uma boa condução de cerimônia era - e eu confesso aqui - a melhor parte do meu emprego. Eu adorava ver sonhos se realizando na minha frente.

- Obrigada vocês por esses docinhos! - eu brinco na saída, provando do buffet maravilhoso. Tiramos fotos, trocamos conversa, e eu volto até minha sala quando vejo o auditório que ocupávamos se esvaziando aos poucos.

Realizo coisas assim muito raramente, pelo zigue-zague para compromissos entre Rio e São Paulo, mas preciso sempre documentar quando as faço num livro à parte dos que já são exigidos, para, segundo Cristiano, eu ter controle sobre "atividades dispersas" que não tenham muito a ver com o trabalho de papelada em si.

Penso agora se não seria uma boa rasgar aquele livro idiota que mais parece crítica disfarçada do que organização, já que a maioria das pessoas com o meu cargo terceiriza essa função de realizar cerimônias para nem se incomodar, e para ele isso é o melhor. Mas eu gosto disso e, se quiser mesmo, posso jogar fora esse livro que pouco tem a ver com a função de Cristiano de monitorar meus cartórios.

Bom, só seria apropriado se você trocasse monitorar por controlar o que acontece. Me distraí tanto que acabo por derrubar no chão o objeto que segurava.

"Boa sorte casando 2 pessoas hoje, Lise. Você é importante para o sonho deles, um colírio para os convidados, uma baita preocupação pra mim..."

O pequeno bilhete de Bruno de um ano e meio atrás, perdido naquele mesmo livro, me fez querer gritar. Sentia falta de seu apoio e sentia falta de me apoiar mais também. Não sei porque, mas queria muito ir pra casa e arrumar um monte de coisa que não estava bem como deveria. E a partir de agora, eu poderia começar sendo mais vulnerável.

Nota da autora: oi oi, gente bonita! Att dupla por motivos de --> fim de semana livre. Nossa Lise tem uma vida profissional meio agitada, né? Também acham que uma viagem lhe faria bem ou nah?! 😇😂 opinem aí pra eu ouvir.

Devaneio, com Bruno RezendeOnde histórias criam vida. Descubra agora