[cinco.]

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lise's p.o.v

Meu corpo inteiro tremia enquanto eu aguardava que o médico à minha frente terminasse de preencher o prontuário do Bruno e finalmente me desse notícias. Ele me adiantou que ele estava bem, e já acordado. Seguro o choro pela enésima vez naquela noite.

- Não houve fratura, o que é uma notícia ótima para o Bruno e a carreira como jogador - suspirei com certo alívio. - Mas seu amigo vai precisar focar de verdade na recuperação. Ocorreu uma lesão na perna esquerda e... Enfim, ele é uma atleta de alto nível, vai saber se disciplinar. Pelo bem dele.

- Eu não sei o que perguntar... - olhei perdida para os lados, procurando alguma solução para tudo aquilo. Não tinha. Bruno havia se machucado tentando me ajudar, e agora era com ele todo o trabalho de melhorar daquilo.

- Talvez você devesse descansar um pouco... - o homem segura meu ombro, recomendando. - A dor está controlada pelos remédios, não vai ser necessário cirurgia... O tempo vai resolver o caso dele se Bruno colaborar. Agora a senhora me parece cansada.

Assenti, em concordância total.

- Vou ver ele e depois tento descansar quando a mãe dele chegar por aqui. Posso vê-lo, não posso? - o médico me responde afirmando com a cabeça. A recepcionista me informou um pouco antes que Vera vinha a caminho, o que me tranquilizou pensando no lado de Bruno. Mas seu filho estava lesionado por minha causa, e o futuro daquilo era incerto. A culpa que antes era uma pontada agora me doía na medida em que eu me aproximava do quarto de hospital.

- ...dizer ao meu pai que a gente atravessava a rua juntos e eu só tive tempo de empurrar a Lise, entendeu? - escuto através da porta Bruno suspirar, como se reprimisse um movimento dolorido. Lucão responde alguma coisa sem que eu entenda.

- E o cara prestou socorro, Bruno, fica tranquilo que não vai pra frente com investigação.

- ...que ela se sinta culpada. Ele conversa demais, então a história certa deve se espalhar.

- ...deve estar mordendo uma bola agora!

A conversa esparsa dos dois me faz respirar fundo, mas resolvo que o mais importante agora é ver como ele tá. Então aproveito a deixa e entro.

Bruno se mexe na cama de hospital, com cara de sonolento e o cabelo todo bagunçado.

Já meu vestido amarelo estava manchado de pingos de lama seca desde a hora em que caí na rua quando ele me empurrou. Eu rasguei fora com ajuda da Bia o que pude da parte de baixo porque não aguentava mais aquele comprimento me impedindo de me mover direito ali. Minha maquiagem também não devia estar das melhores com o festival de choro naquele dia - eu era a headliner.

Nos olhamos e por um tempo não digo nada.

- Lucão... - chamou com dificuldade o amigo, que chega perto em total alerta, pronto para ajudar. - Mas por que tem um anjo na minha porta?

Eu não me aguento e explodo em uma risada enquanto Lucas quase explode também, de raiva.

- Eu morri? - ele continua e o outro jogador pega uma almofada e finge que vai lhe enforcar.

- Ô seu grande imbecil! Eu me preocupei de verdade! - Lucão depois solta uma série de palavrões e se cala. Parece que a minha presença só pairou mesmo agora por ali. Os dois me olhavam para ver qual seria meu próximo movimento, ou se pela aparência quem havia sido atropelada era eu.

Devaneio, com Bruno RezendeOnde histórias criam vida. Descubra agora