[12.] dia 4 - neve a perder de vista

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"I ask the traffic lights
If it will be alright
They say: I don't know"

Acordei achando que as coisas ficariam estranhas entre nós. O que eu faço agora depois de ter beijado meu colega de viagem, que por acaso é meu ex e terminou comigo depois de cogitar me pedir em casamento?

Ontem era seu aniversário, e eu esqueci todos os nossos problemas quando fiquei na ponta dos pés e lhe tasquei um beijo. Simples.

Claro que na hora pareceu que quem tinha ganhado o presente fui eu. O cara era lindo, ele já foi o meu Bruno, e ainda por cima me olhava com aquele mesmo sorriso enorme de antes com os olhinhos recolhidos. Mas quem falou que a ressaca moral não viria depois?

Tínhamos uma boa relação depois de tanta merda transcorrida embaixo do esgoto, e eu mudei isso. Com certeza não pra melhor. Sentei na cama de lençóis mais que confortável e esfreguei o rosto.

Por que esse quarto é tão convidativo mesmo? Talvez seria uma boa passar o dia aproveitando aqui... Nessa luz escurinha agradável e nessa temperatura fria na medida certa...

Não. Preciso encarar essa. Preciso me vestir, comer e sair pra ver qual é a desse nosso dia de hoje, não importa o quanto eu me expus sem necessidade na noite passada, já foi.

Eu levanto, vou ao banheiro, e estou minimamente arrumada em questão de minutos. Meu cabelo está preso, visto o meu melhor moletom "Taylor's Version" da Taylor Swift, indicando que sim, sou sempre minha versão melhorada, minha legging preferida e saio do cômodo.

- Lise! - ainda estou esfregando os olhos quando percebo que não, as coisas hoje não devem ficar muito estranhas entre nós, porque toda a família do pai de Bruno está aqui. A voz de criança que escuto de imediato não nega.

- Vivi! - desperto na hora, genuinamente feliz. - Oi!

Ela corre até mim.

Seus olhinhos me estudam ansiosos, mas não recebo um abraço, porque a menina não parece saber bem como agir. Sinto vontade de chorar de saudades daquele rostinho e em saber que perdemos parte da intimidade.

- Claramente não tem muito como arquitetar uma surpresa nessa casa - Fernanda, mãe de Vivi, está ao lado do marido e debocha do jeito pouco discreto da filha mais nova ao me ver - ou talvez quisesse só aliviar o momento mesmo.

- Vem cá, faz tempo mas ainda sei como te dar um bom abraço - tento fazer piada e Vivi me aperta nos seus bracinhos, com aquele perfume infantil de sempre que cheirava a mel e morango. Em pouco tempo, Bernardo e Fernanda também estão me cumprimentando com abraços. - A Júlia?

Pela primeira vez no dia me volto para Bruno atrás de uma resposta, mas ele já está me olhando. Parece encantado vendo aquele clima de reencontro com a família. Ele é pego de surpresa, então pisca os olhos algumas vezes antes de abrir a boca para responder alguma coisa e se desencosta da mesa.

- Ela foi almoçar com uma amiga da cidade antes de vir aqui - seu pai sai na frente. - Júlia trouxe um presente pra você, Lise, achou um tênis muito legal no caminho. Daqueles que vocês colecionam.

Bernardinho diz, com aquele jeito de falar meio treinador que ele adotava também pra fora de quadra, não conseguia mais se livrar. Sorrio e agradeço, sem jeito. Se eu já não tinha muito jeito para receber presente...

- Como eu disse: surpresas nessa família, pouco provável - Fernanda brinca, e Bruno é o próximo a falar, com seu tom grave e esfregando as palmas das mãos:

- E então, partiu regar os estômagos?

°°°

- Nossa, eu perdi o horário completamente, não fazia ideia de que já era hora do almoço - disse, para ser sincera, enquanto comíamos. Pro meu alívio era um sábado e Bruno não tinha treino, então preparou tudo. Na verdade, como eu não sabia que todos eles estariam ali?

Devaneio, com Bruno RezendeOnde histórias criam vida. Descubra agora