Capítulo Quatro

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Anahi

Escolho dois vestidos que minha mãe gostava muito de usar e um suéter de tricô colorido, eu tenho um igual e foi ela que fez para nós duas.

Pego a caixinha, o perfume, o albúm de fotos, os vestidos e o suéter. Coloco tudo em uma caixa e saio apressada do quarto, com medo do meu pai voltar e me encontrar aqui e tomar de mim as pequenas lembranças da minha mãe.

Chego em meu quarto,  escondo as coisas da mamãe dentro de uma das minhas gavetas do closet e depois vou para o banheiro.

Tomo um banho rápido, me seco, visto um conjunto de pijama bem quentinho, me deito em minha cama com a intenção de descansar um pouquinho.

Ultimamente quase não consigo dormir, com medo de que o papai entre em meu quarto e me bata novamente como ele já fez inúmeras vezes e isso tem me deixado exausta.

Acordo com alguém me balançando sutilmente, abro meus olhos e me deparo com a tia Janice.

— Querida se levante já está quase na hora do jantar e seu pai ligou exigindo a sua presença. — Ela diz e a olho assustada.

— Eu não quero vê-lo tia, tenho muito medo dele. — Lhe respondo.

— Eu sei minha querida, mas por enquanto não podemos desafia-lo. Lembre-se dos nossos planos, logo logo estaremos longe desse lugar. — Ela diz e sorrio.

— Para onde iremos tia? — Lhe pergunto.

— Ainda não pensei meu amor, mas vamos decidir isso juntas. — Ela me responde.

Nos levantamos e fomos até meu closet, ela escolheu um lindo vestido na cor azul para mim, me troquei rapidamente e passei um pouco de perfume.

Me sentei em um banco de frente para o espelho e a tia Janice penteou e amarrou meus cabelos em um rabo de cavalo, calcei minhas sapatilhas e saímos do quarto.

Ao chegar às escadas meu corpo travou e   entrei em pânico, eu não queria ver meu pai e muito menos estar perto dele. Ele é mal, e me machuca muito toda vez que me vê.

— Ane vamos meu amor, eu estarei o tempo todo com você pequenina. — Ela diz e aceno em concordância.

Desço as escadas agarrada ao seu braço como se minha vida dependesse disso, ao chegar a sala de estar me sento em uma das poltronas e fico esperando meu pai aparecer para jantarmos.

Algum tempo depois ele chega acompanhado de uma mulher e um garoto de aproximadamente dezesseis anos, eles se aproximam de mim e me encolhi com medo.

— Ane essa aqui é a Rebecca, a minha esposa e sua madrasta e o garotão aqui é o David filho dela. Quero que os respeite e obedeça a partir de agora eles são a minha família. — Meu pai diz mas não o respondo.

Observo a nova família perfeita dele, a esposa e o filho de pele branca, cabelos loiros e olhos claros do jeito que é aceito pela sociedade Londrina cheia de preconceito.

Ele enfim tem o seu adorado herdeiro, a altura para assumir o seu lugar a frente da empresa quando chegar a hora dele se aposentar, e também conseguiu a família considerada perfeita  que sempre sonhou

A minha mãe e eu nunca tivemos um lugar especial na vida do meu pai, ele não a amava verdadeiramente, como ela tanto sonhava e acreditava. Se ele a amasse, teria me aceitado e jamais teria nos deixado presas como criminosas dentro dessa maldita casa.

— Olá Ane é um prazer te conhecer. — A nova esposa do meu pai diz, mas não vejo verdade em suas palavras.

Ela não me engana, eu vejo o seu olhar de nojo e repulsa, vejo também o seu ódio e raiva de mim sem ao menos me conhecer.

— Será muito bom enfim ter uma irmãzinha mais nova. — O garoto fala, me olha de uma forma estranha com um sorriso cheio de maldade em sua rosto.

— Senhor o jantar está servido. — A tia Janice fala, e respiro aliviada por ela interromper esse momento estranho.

Vamos todos em direção a sala de jantar e nos sentamos em nossos lugares, a tia Janice serve o meu prato, mas não tenho fome. Só de olhar e estar perto dessas pessoas meu estômago se revira em um nó.

— A comida não está boa o suficiente para você Anelise? Ou será que não está feliz com a nossa companhia. — O meu pai pergunta, mas mais uma vez eu não respondo.

— Querido tenha paciência com ela, não é fácil perder a mãe. E ainda mais aceitar que o lugar dela foi substituído por outra mulher. — A Rebecca diz e olha para mim com um sorriso falso em seu rosto.

— Você não substituiu o lugar da minha mãe e jamais irá substituí-lo. — Lhe respondo a olhando com raiva e nojo.

Meu pai se levanta vem até mim e mais  uma vez bate em meu rosto que já estava machucado, sinto o gosto de sangue em minha boca, as lágrimas borrão a minha visão.

— Eu te falei para respeita-la, mas parece que você não me escutou e se recusa a me obedecer. — Ele diz gritando comigo e segurando meus braços com força me causando dor.

— Senhor não precisa bater assim nela, é só uma criança que está sofrendo muito a perda da mãe. — A tia Janice diz, vindo em meu socorro.

— Ela vai aprender por bem o por mal qual é o seu lugar nessa casa. — Ele lhe responde.

— Eu já sei senhor James qual é o meu lugar em sua casa, já sei o quanto me odeia e não me suporta. O senhor me culpa pela morte dela, me agride e me machuca o tempo todo. Me deixa ir, me coloque em algum orfanato ou até mesmo na rua eu não me importo, qualquer lugar no mundo é melhor do que estar perto de você. — Lhe digo e ele levanta a mão para me bater mais uma vez, mas derrepente se afasta e sai de perto de mim.

— Saia e volte para seu quarto, você está de castigo e por causa da sua afronta durante a refeição ficará o dia de amanhã todo sem direito de se alimentar. — Ele me responde volta para seu lugar.

Me levanto e volto para meu quarto, entro, tranco a porta com medo dele entrar e me machucar ainda mais. Vou até o banheiro e olho meu rosto machucado e meus lábios rachados, e as lágrimas mais uma vez rolam por meu rosto.

Escovo meus dentes, saio do banheiro, vou até o closet, retiro o meu vestido e visto meu pijama. Volto para o quarto, pego meu caderno de desenho e volto a trabalhar no desenho que estava fazendo hoje mais cedo.

Desenhar me acalma e me deixa feliz, isso ainda é uma das únicas coisas que me traz alegria e alivia a minha ansiedade.

Fico horas desenhando até meus olhos começarem a pesar de sono, guardo meu caderno e os meus lápis, me levanto e vou para minha cama.

Puxo meus cobertores e me deito, fecho meus olhos e faço uma prece silenciosa, pedindo a Deus que acabe com a minha dor que venha e me leve para ficar com a mamãe.

O Seu amor me salvou Onde histórias criam vida. Descubra agora