Ele fala, e eu estava prestes a manda- lo se lascar. Mas não tive tempo, um minuto eu estava entrando em um estacionamento deserto, e no minuto seguinte tinha uma criança aparecendo do nada na frente do meu carro.- Puta que Pariu! Puta que Pariu! - escuto Danton falar ao meu lado a medida que solta o cinto de segurança.
Eu por um breve momento fico com as mãos grudadas no volante e o pé tão forte que já já é capaz de não sentir minhas pernas.
- Será que pegou? - Danton fala já abrindo a porta e saindo.
"Será que pegou?"
Pegou.
Criança.
Meu Carro.E é como se minha alma tivesse voltado pro corpo, o sangue voltado a correr em minhas veias e meu raciocínio voltasse. Não vejo a hora que solto o cinto e pulo pra fora do meu carro.
Vejo Danton se aproximar com calma da menina que está sentada no chão, olhando em volta assustada e com um bico nos lábios.
Vou até lá e me abaixo, tentando não tocar nela antes de saber se ela está bem ou não.
- Ei, você está bem? - pergunto tentando olhar todo seu corpo ao mesmo tempo.
Ela me olha assustada, mas balança a cabeça com um sim.
- Você se machucou? O ... o carro te acertou?
- Não. - ela fala baixinho me olhando.
Um olhar tão lindo e inocente.
Um olhar que eu jurava já ter visto em algum lugar.
Assim como o azul daqueles olhos.- NINA! - escuto um grito, e logo em seguida uma mulher completamente apavorada se atirar quase em cima da menina, batendo em meu corpo e por muito pouco não me jogando no chão. - Meu Deus do céu! Você tá bem? Se machucou?
A louca pega a menina pelos braços, a levantando e a virando de todos os lados.
- Ela está bem! Foi apenas um susto, e você não deveria ter levantado ela assim. Se ela tivesse com algum machucado, você poderia ter piorado tudo. - falo me colocando de pé.
- Falou o louco que quase a matou! Você é médico por acaso?
Meu Deus! Que bicho tinha mordido as mulheres do Rio de Janeiro?
Primeiro a louca do trânsito, agora a louca do estacionamento.- Não sou médico! Apenas tenho bom senso, e fui as aulas de primeiro socorros da auto escola, e sei que na dúvida de ferimentos ou não, não se deve mexer na pessoa. E não sou louco!
Ela pega a menina no colo e me olha com raiva.
- Ah não? É um inconsequente então! Porque entrou a mil em um estacionamento de supermercado!
- Ei ei ei perai! - Danton se mete. - Ele não entrou a mil coisa nenhum! Estávamos na velocidade certa! E você não tá na condição de apontar dedo pra ninguém não viu, minha querida?!- ele fala - Não é minha filha que estava correndo sozinha e solta num estacionamento desse tamanho!
- Eu não deixei ela solta! Ela se perdeu de mim dentro do mercado!
- Pior ainda! Aposto que estava no celular e esqueceu da própria filha!
- Eu não devo satisfação de nada pra vocês, dois loucos! - ela fala, mas continua falando. - Eu não estava no celular coisa nenhuma! Nina estava perto de mim o tempo todo enquanto eu pegava coisas pra mãe dela.
- Pior, perdeu uma criança que nem é sua! A mãe dela tem que saber disso, pra vê o tipo de pessoa que cuida da filha dela!
- O tipo de pessoa? Olha aqui meu filho, eu sou madrinha dela! Madrinha! A mãe dela confia em mim de olhos fechados!
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• Une Nuit •
RomanceUm bar. Uma despedida de um amigo. O aniversário de uma amiga. Uma noite que muda tudo, a cabeça, o ego, o coração.