Ficamos deitados abraçados. Não conversávamos, ele estava saciado eu sabia disso. Acho que os dois vampiros que estavam na porta desistiram de chegar aqui. Eu os sentia claramente quando vinham, mas me sentia segura com o Rafael perto, e eu não gostava disso. Estava pouco a pouco perdendo a confiança em mim mesma e isso era frustrante.
O dia já estava amanhecendo e eu sabia que logo iriam invadir a ilha. Forcei os punhos e os dentes para tentar não pensar nisso. Senti que o Rafael me abraçava mais forte. Agora sim, de fato esse poderia ser o nosso último momento estando juntos. Isso me deixava triste, mas minha cabeça não descansava pensando no início da batalha.
Aos poucos o cansaço tomou conta do meu corpo e eu dormi, e então o sonho veio...
...Meu pai... a dor da experiência... pessoas mortas..., mas não eram quaisquer pessoas, eram eles... todas as pessoas que estavam comigo agora. A Lucy me perguntava o porquê eu não a tinha protegido como havia prometido. O Rafael estava quase morto do outro lado e via o Apollyon levando cada alma com o aspecto triste enquanto repetia que eu havia falhado.
Eu devo ter gritado durante o sono, senti que o Rafael me chamava e fiz um grande esforço até que eu consegui acordar de vez.
– Hannah, acorda... está tudo bem, foi só um sonho – Abracei ele com força enquanto tentava parar de tremer.
– Eu sinto muito – falei – Não sei se sou capaz de proteger todos.
– Você não tem esse dever Hannah, não tem o dever de proteger todos. Estamos aqui porque precisamos estar – ele afagava minha cabeça, tentando tirar o peso que eu tinha nos ombros.
– A culpa é minha – eu continuei – Eu criei a primeira pedra...
– Para de se culpar, está bem? Só você se culpa. Você tem um olhar muito crítico em relação a você mesma. Ninguém te enxerga pior do que você e apesar dessa visão distorcida que você tem, você é a pessoa mais forte e corajosa que eu já conheci – ele falou me dando um beijo.
Eu havia esquecido toda a raiva que eu havia sentindo dele antes. Era típico meu não guardar mágoas dele.
– Você está bem agora? – ele perguntou me levando para mais perto dele – Você precisa descansar para essa noite.
Me aninhei em seus braços e ficamos assim até que o sol começou a se pôr. E então, chegou a nossa vez de entrar na briga.
Ele se levantou primeiro. Parecia pensativo e preocupado. Me levantei, me vesti e fui surpreendida por um abraço repentino dele. Ele me olhou carinhosamente e pela primeira vez desde que o conheci eu o vi chorar.
– Tenho medo de que você saia da minha vida, que você desapareça – ele começou.
– Por quê? Estou aqui, não estou? Não vamos começar a nos lamentar agora. Vamos ficar juntos de novo.
Ele sorriu carinhosamente e me beijou.
– Eu preciso fazer uma coisa antes de irmos. Eu acho que você vai sentir dor. Eu sinto muito.
Vi ele cortando o próprio braço e fazendo um símbolo que era estranhamente familiar para mim.
– O que você precisa fazer? – eu disse indo um passo para trás, ele parecia distante – Rafael.
– Hannah, eu não posso arriscar a sua vida pela minha.
– Do que você está falando? – me sentia apreensiva e de certo modo assustada – O que é isso que você está fazendo?
Depois dessa pergunta, ele me olhou e eu vi que suas presas estavam bem a mostra.
– Se você precisa de sangue – continuei – Sabe que não precisa disso tudo...
Nem terminei de falar e ele avançou com uma rapidez gigantesca no meu pescoço. Eu fiquei assustada, ele não estava com fome, eu sabia que não estava. Enquanto ele me mordia ele me abraçou e me levou até o centro do símbolo que ele tinha feito e nessa hora eu comecei a sentir uma dor terrível. Não era uma mordida normal. A dor era grande e eu não pude evitar gritar, mas quanto mais eu gritava mais ele me segurava, e foi quando eu lembrei... eu já tinha passado por isso no dia em que fizemos o laço da triquetra tia Shao.
Vi que o Bae arrombou a porta em que estávamos e em seguida entrou o Aruna, o Elon e a Lucy. A Lucy e o Bae tentaram chegar até onde nós estávamos, mas o Aruna segurou firme o Bae e o Elon por sua vez agarrou os braços da Lucy.
"Por que isso me deixa tão triste? Ele está me libertando do nosso laço... não era ser livre de novo que eu queria? Por que me sinto assim? Como eu vou saber se algo o machucar agora? Se ele morrer, como eu vou viver em um mundo sem ele?"
– Rafael... não – eu tentei dizer com a voz falhando – Eu não quero...
Mas ele não parou, apenas me apertou um pouco mais.
– Não... – eu já estava chorando de novo.
Desde que voltei para o orfanato eu chorava por tudo. Meus sentimentos estavam saindo todos de uma vez. Lembrei do sonho onde vi todos mortos. Revi a cena na minha cabeça do Rafael caído no chão morrendo, da Lucy morrendo... Revi o rosto do Apollyon triste enquanto levava as almas.
"Eu não quero mais viver nesse mundo, por favor Rafael, me deixa morrer com você se você morrer. Não retira a triquetra tia Shao, não a retire por favor."
Quando ele soltou meu pescoço a dor aos poucos foi diminuindo, mas mesmo ele tendo parado, ele continuou abraçado comigo. Eu quase não via nada por conta das lágrimas, mas pude notar que o Bae ia em direção a cama junto com a Lucy que parecia estar em choque.
Meu coração estava apertado, eu não queria perder nenhum deles, não queria correr o risco de perdê-los. Queria apenas fugir. Naquele momento sentia como se já tivesse perdido o Rafael, e isso me dilacerava por dentro. Meus braços continuaram caídos do lado do corpo, ele não me soltou do abraço por um tempo, e esse era o único modo em que eu podia senti-lo agora. O Aruna manteve-se no lugar e chamou a nossa atenção de uma maneira delicada dizendo que precisávamos ir.
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Experimento 42
VampireBom, essa é a minha primeira história. Estou tentando revisar, mas nota-se o quanto é imatura. Eu tenho um carinho especial por ter sido a minha primeira história, mas espero que entendam o fato de ter sido a primeira ^^. Hannah poderia ser uma garo...