Capítulo 29

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Dizem que a perda da dor nos deixa mais fortes, dizem que quando a nossa raiva vem de uma mágoa muito grande a nossa determinação muda fazendo com que fiquemos descontrolados. 

Não sei exatamente qual é a verdade, mas a dor que eu sentia era imensa e a raiva era muito maior. Fiquei poucos segundos na frente do corpo repassando o que ele havia me dito. "Enterre seus sentimentos dentro de você... Você precisa ganhar por mim".

Me levantei decidida, voltei freneticamente para onde as alquimistas e os outros lutavam. Ainda restavam 8 alquimistas lutando. Elas eram realmente fortes, mas a minha dor era ainda mais forte. 

Ativei selo atrás de selo, sem deixar que respirassem. Afastei quem estava comigo com o vento e lancei sem parar vento e fogo, vento e fogo. Eu gritava para espantar a dor e escutava os gemidos que elas emitiam por conta da dor. Eu não dei tempo de reação para elas. Duas escaparam e me estacaram com uma arma nas costas. As outras 6 não tinham mais corpos. Apenas restos de pele que pareciam derreter e se misturar com as o resto de roupas que havia sobrado. 

Duas estacadas pelas costas... amigos que vinham me ajudar... Nada me importava naquela hora, eu sabia que eu tinha o temperamento forte, que eu tinha uma raiva incontrolável e que eu deixava de pensar na minha vida quando isso acontecia. Eu tentei muitas vezes controlar esse sentimento, mas nesse dia não... nesse dia eu estava cega pela morte de mais um grande amigo.

Afastei o Rafael que estava mais próximo a mim e inclusive a Lucy que tentou fazer um selo para me transportar. Eu não ouvia ninguém. 

Virei com as duas estacas na minha coluna. O selo da águia estava ativo, isso me deixou rápida para qualquer movimento. A adrenalina dissipou toda a dor que eu deveria sentir.

Ativei o selo do ferro e da terra e fiz várias estacas de uma só vez fazendo-as cair, peguei as duas pelo pescoço e fiz com que mais estacas as perfurassem. Senti a dor das minhas próprias estacas entrando no meu braço, mas aquilo não me importava.

Em muitos livros que eu li, o herói ou heroína da história tinham o coração puro, não gostavam de violência e nem eram tomados pelo ódio. Eu não era igual. Eu disfrutava daquilo quando perdia o controle, talvez eu fosse uma vilã e não uma heroína, pois naquele momento eu não tinha mais sentimentos pelas alquimistas. Eu não expressei emoção alguma ao ver os corpos na minha frente e a dor não me incomodava mais. Acho que eu era muito mais parecida com o meu pai do que eu gostaria de admitir.

Ao explicar isso quero que saibam que eu não estou me diminuindo, estou dizendo que tenho sentimento de revolta como qualquer ser humano. Nós só sabemos qual a nossa reação diante da dor quando passamos por ela.

Virei para onde o Rafael estava e vi o olhar assustado dele. Olhei para a Lucy que já havia presenciado minhas crises antes e a vi me olhando fixamente com um ar triste e ao mesmo tempo reprovador. Vivemos falando uma para a outra que mesmo os nossos inimigos mereciam ser respeitados e quando eu fazia isso, eu ia contra tudo o que acreditávamos. 

Segurei o colar que o Rafael havia me dado, aquilo me fez ter um momento de sanidade e senti um certo horror ao que eu havia acabado de fazer, até que eu vi, perto do Aruna o corpo sem vida de Terrin e o Matteo caído. Fixei o olhar no corpo do Matteo, que ainda respirava e vi que um ceifeiro chegava perto dele. Foi o suficiente para que a cegueira voltasse.

Cheguei perto do corpo do Matteo, e vi que ele estava fraco, mas ainda estava vivo.

– Que bom que você veio – ele disse e novamente meu coração estava sendo triturado.

– Matteo, você também não – eu disse voltando a chorar – Aguenta até eu voltar, por favor, aguenta! 

Olhei para o ceifeiro que começou a se afastar. 

– Isso, aguenta por favor.

– Vou aguentar – ele disse dando um sorriso encantador em meio as dores.

– Vou chamar a Lucy para te levar para um lugar tranquilo – fiz isso e ela não me perguntou nada, apenas fez o que eu pedi. Sabia que eles iriam para o navio. 

– Cuida dele Lucy, não deixe que ele morra – eu pedi. 

Antes de eu ir até o lugar onde meu pai estava, vi que o Elon e o Aruna se juntavam com o Rafael. 

Eu não podia perder tempo, eu sabia que meu pai não conseguiria matar o Apollyon, não sabia como ele havia aprisionado um ceifeiro, mas sabia que não era algo que ele poderia fazer em um campo de batalha. Minha preocupação é que o Apollyon sofria também, sentia dores como qualquer outro ser.

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