Nós dois nos levantamos em um pulo, olhamos um para o outro antes de começarmos a correr em direção ao salão principal.
Quando chegamos a Lucy estava de joelhos, chorando aos soluços e quando eu estava chegando no que parecia ser dois corpos Bae se jogou na minha frente e tentou me parar.
– Hannah, não olha!
Mas já era tarde, a cena era impactante demais para que eu conseguisse falar alguma coisa. Senti o suor escorrendo pela minha testa e me senti enjoada de repente. Rafael parou atrás de mim e tentou me tirar dali.
Fiquei parada olhando os dois corpos, duas pessoas importantes para mim. Os corpos da Sophi e de Ayla, não haviam decomposto com o tempo, pareciam que haviam sido mortas naquele momento. Olhei para o rosto das duas com o corpo tremendo e logo vi a mensagem impressa na barriga das duas. No corpo da Sophi dizia: "Que orgulho, querida filha", e no da Ayla continha a seguinte mensagem: "Bem vinda ao jogo, experimento 42".
– Ele sabia que eu estaria aqui – falei enquanto continuava tremendo e sem conseguir desgrudar os olhos das minhas amigas – Tenho que ir embora.
Olhei para os rostos ansiosos ao redor dos corpos e reparei que a Agnes ria sem parar enquanto repetia "Bem na hora, bem na hora".
O espanto, misturado com a raiva do momento fez com que toda a pena que eu sentia dela até aquele momento desaparecesse e eu fiquei cega pela ira. "Ela sabia, talvez não soubesse da porta, mas sabia o que estava acontecendo. Como eu sou burra, claro que sabiam onde eu estava. Ela veio até aqui." Fiquei encarando-a por um tempo até que não aguentei mais. Em um impulso, me soltei dos braços do Rafael que continuava a me dar suporte e a derrubei com o primeiro soco, ela continuou rindo e eu dei um segundo, um terceiro, um quarto... ela continuava rindo e eu finalmente havia conseguido chorar após o choque.
Vi que quem me tirou de cima dela foi o Rafael e o Bae, que conseguiam se manter centrado. Aliás, os vampiros eram os únicos que estavam analisando a situação. Eu, Lucy e Matteo estávamos atordoados demais para qualquer reação normal.
Vi que o Matteo ficou ao lado do corpo da Ayla, segurando a mão fria dela, enquanto chorava baixinho.
Lucy continuava agachada chorando enquanto o Elon tentava consolá-la.
Aruna havia ido buscar algum lençol nesse meio tempo e agora estava cobrindo o corpo de Sophi. Meu corpo continuava tremendo, eu não conseguia controlar, depois de muito tempo tive a sensação de sentir novamente o sofrimento das 42 essências dentro de mim. O sofrimento que eu estava fadada a carregar.
Bae e Rafael seguiam me segurando e pouco depois começamos a andar. Me deixei levar pelos dois, enquanto largávamos Agnes com o rosto desfigurado jogada no chão. Me levaram para o meu quarto e me deixaram de maneira atônita na cama. Eu já não tinha reação. Escutei Bae dizendo para o Rafael que iria ajudar o Aruna a remover os corpos dali e o Rafael disse que ficaria comigo.
Escutei de longe Matteo gritar para não a tirarem dele de novo. Aquilo me doeu ainda mais. Acho que o Aruna e o Bae resolveram a situação, pois depois de um tempo não escutei mais nada. O orfanato estava em um silêncio mortal. Eu não havia me movido desde que me levaram para o quarto, nem sabia quanto tempo havia se passado. Sentia o corpo pesado e o peito dilacerado pela dor. Era como se eu as houvesse perdido de novo. Revi a cena da morte de Sophi na memória várias vezes enquanto encontrava ao mesmo tempo o corpo de Ayla sem vida jogada em um beco qualquer.
Sophi morreu me protegendo, estavam atrás de mim. Duas cobaias da alquimia vieram me buscar e lutamos, eu já estava cansada então a Sophi me defendeu. Ela morreu me ajudando.
Não havíamos sido criadas juntas no orfanato. As duas foram mandadas para me buscar como outras alquimistas e acabamos ficando juntas. Passaram a ser foragidas porque acreditaram e confiaram em mim, e agora elas estavam mortas.
A raiva irracional foi se transformando em um desejo de vingança e com esse desejo veio uma vontade de ficar mais forte. Eu não poderia vencer do jeito que estava, precisava abrir todos os selos. Algo que eu nunca tinha feito antes. Rezava para que meu corpo suportasse toda a energia dentro de mim.
Rafael respeitou meu silêncio, apenas ficou ali, deitado e abraçado comigo. Isso me ajudou. Me ajudou a parar de tremer e de chorar. Me sentia de certa forma segura com ele ali, apesar que sabia que na verdade eu só o estava colocando em risco, mas continuava sendo egoísta o suficiente para querê-lo junto a mim.
Ficamos horas daquele jeito, mas eu não podia mais ficar parada. Havíamos perdido tempo demais esperando.
– Vamos entrar pela porta – falei baixinho tentando convencer a mim mesma mais do que querendo informar de fato o que iríamos fazer.
– Hannah, não é melhor você descansar hoje?
– Não posso ficar parada esperando. Ele me desafiou da pior maneira possível. Preciso entrar, descobrir como matá-lo e treinar. E o mais importante. Tenho que sair daqui.
– Hannah, já conversamos sobre isso.
– A situação é diferente agora Rafael, e espero que você entenda. Quem quiser entrar nessa briga terá que vir comigo. Vou esperar alguns dias só para ver se o Apollyon volta com notícias e novidades, mas depois disso não posso mais ficar aqui como se nada tivesse acontecido.
– Eu vou com você – ele disse olhando para mim.
Eu acenei me sentindo agradecida e repousei a cabeça no abraço dele de novo e o abraçando com um pouco mais de força.
– Sei que eu não deveria falar isso mas, obrigada. Obrigada por estar comigo – eu disse baixinho. Eu realmente estava agradecida – Mas, sobre a gente, acho melhor ninguém ficar sabendo... Não quero que ninguém te use para me atacar. Quero evitar o máximo possível esse tipo de coisas. Por favor.
– Eu entendo, Hannah – ele pareceu triste com a situação, mas eu realmente achava melhor. Pelo menos por enquanto, deixar as coisas como estavam.
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Experimento 42
VampirBom, essa é a minha primeira história. Estou tentando revisar, mas nota-se o quanto é imatura. Eu tenho um carinho especial por ter sido a minha primeira história, mas espero que entendam o fato de ter sido a primeira ^^. Hannah poderia ser uma garo...