Capítulo 27

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A escada dava para um outro corredor que era bem iluminado e parecia uma ala hospitalar cheia de portas. Eu sentia uma presença em cada porta. 

"Vamos Hannah, se concentra... você só precisa saber onde tem súcubos, vamos ter a chance de salvar os outros depois" 

– Ei, vamos parar um pouco – eu disse me livrando com jeito da ajuda deles – Preciso me concentrar para tentar achar a Erica, temos muitos seres aqui, pelo visto tem de um a dois em cada porta dessa. 

– Então, não seria bom que os libertássemos agora? – o Rafael perguntou.

– Não saberíamos como eles reagiriam, poderia ser arriscado fazer isso estando só nós. Precisamos do Apollyon para salvar os outros. Ele tem uma certa influência em todos pelo que eu notei até agora – disse pensativa. Isso era algo nele que eu até então nunca tinha nem sequer imaginado. 

– Toma o seu tempo gracinha, vamos ficar por perto – Bae respondeu se colocando de lado.

"Gracinha? Ele deve estar de bom humor" pensei olhando pela primeira vez para ele depois das últimas lutas. Ele já estava com o rosto completamente limpo. Apenas pelas roupas eu podia ter uma certa noção da quantidade de sangue que ele já havia tirado de outras pessoas. Eu sorri para ele agradecendo com a cabeça e vi que o Rafael dava um olhar de reprovação para o Bae que acabou rindo da reação do amigo. Não pude evitar sorrir por um momento, mas eu sabia que não era hora para aquilo, então passei a tentar me concentrar, igual eu havia feito com relação as pedras. Eu conseguia aguentar a sensação de desconfortobem melhor já. Havia aprendido a separar o que eu sentia realmente e o que era devido as pedras, o que me facilitava na hora de identificar seres, mas aqui nessa ilha estava praticamente impossível.

Levei cerca de quinze minutos de olhos fechados tentando distinguir o que havia em cada porta, até que finalmente senti uma presença muito parecida com a do Matteo... 

– Achei – disse abrindo os olhos – vamos! 

Esse tempo que eu levei para localizá-la foi tempo suficiente para o meu corpo descansar. Dispensei a ajuda dos dois e me levantei do chão, onde eu estive sentada esse tempo.

– Ela está mais para a frente – comentei aumentando o passo. 

Achamos com uma certa facilidade a porta da Erica e eu ativei o chip para poder chamar o grupo da Lucy. Ela primeiro apareceu como um holograma para mim, expliquei a situação e em seguida todos apareceram fazendo com que todas as luzes piscassem. Percebi que apenas eles vieram. O grupo de vampiros que os acompanhou não havia vindo junto e nessa hora dei falta do nosso grupo que já deveria ter acabado a luta.

– Onde está a Erica, Hannah? – o Matteo perguntou muito ansioso. 

– É essa – eu disse apontando para uma porta que estava a nossa direita.

A porta era de um aço reforçado e tinha um sistema avançado de segurança. A Lucy se encarregou com facilidade dessa parte.

Matteo foi o primeiro a entrar após a porta destravar. Dentro do quarto havia um súcubo que parecia muito mais jovem que nós. Tinha os cabelos presos em dois rabos um de cada lado da cabeça e não aparentava ter mais que 10 anos, apesar que eu sabia que poderia ser muito mais do que isso.

O olhar dela se iluminou ao ver o irmão, ela deu um gritinho de alegria e pulou no colo dele. 

– Sabia, sabia que você viria! – ela falava animada enquanto seguia pendurada no pescoço dele.

Senti um peso a menos ao ver tudo isso, o sorriso da garota nos braços de Matteo era contagiante. 

– Erica, que bom que você está bem – ele repetia apertando-a – Fizeram alguma coisa com você? – de repente a voz dele voltou a ter um ar preocupado. 

Comecei a pensar que o fato dela ser uma criança não se encaixava. Nos olhos do Apollyon tinha tanto carinho quando ele falava dela que eu cheguei realmente a acreditar que ele estava apaixonado, mas minhas dúvidas foram embora logo depois de eu tentar repassar a cena dele me pedindo ajuda. 

Ele apareceu na porta, parecia um pouco apreensivo.

– Erica – ele disse baixinho. Vi o corpo do Matteo se tensionar um pouco. 

A Erica olhou por cima do ombro do irmão e abriu um sorriso ainda maior.

– Pai!! – ela gritou com muito entusiasmo. 

– Pai? – eu e a Lucy falamos com a voz alta pelo espanto. Era óbvio que estávamos surpresas com isso. 

Nos entreolhamos tentando entender toda a situação. Se ela era irmã do Matteo e filha do Apollyon, logo...

– Não pensem demais – a voz do Matteo estava áspera.

Olhei para ele para tentar entender o que ele estava sentindo. Não era algo normal isso, mas o Apollyon era muito mais velho que a gente. Será que o Matteo e ele...

– Disse para não pensar muito Hannah – ele me olhava fixamente – Ele é apenas meu amigo.

– Mas... – comecei. 

– Sim, ele realmente é pai dela – a voz dele estava se acalmando. Parecia que ele se forçava a aceitar a situação – Mas isso não pode ser revelado. Em termos, os ceifeiros não podem se apaixonar por ninguém. 

– Mas ela gritou para todos ouvirem – eu disse começando a me preocupar.

– Eles podem ter filhos, mas não podem manter laços. Não quero seguir com esse assunto. Isso é assunto dele e da minha mãe.

Estremeci um pouco lembrando do tempo que havíamos passado juntos. Será que essa relação já existia? Mesmo para mim que já estava viva a tanto tempo me parecia extremamente estranho. 

Dei de ombros e mudei de assunto. 

– Qual o próximo passo agora? Não podemos levá-la para um campo de batalha. 

– Eu sairei daqui para deixá-la a salvo junto com a Lucy e vocês vão libertar os outros. Precisamos voltar para o navio Lucy. Você consegue? – Matteo perguntou.

– Eu deixei aparelhos meus lá, o que facilita bastante – ela disse com um sorriso –  Mas vão precisar nos chamar de novo depois de um tempo, que eu não vou conseguir abrir um portal sem saber a localização exata em que estamos agora.

– Pode deixar Lucy, só me fala de quanto tempo você precisa. O importante agora é deixar a menina em segurança. 

– Me dê uns 20 ou 25 minutos, que será o tempo de protegermos a cabine em que vamos deixá-la – ela me respondeu e acenou para o Matteo mostrando que já estava preparada.

– Vamos Erica – Matteo chamou carinhosamente. 

– Papai, você vem junto, não vem? – ela olhou com um olhar pidão para o Apollyon.

– Não posso princesa, eu preciso salvar mais algumas pessoas, mas você vai ser boazinha e ficar segura aonde o seu irmão te deixar, certo?

– Mas eu quero que você venha!

– Eu prometo que te compenso depois por isso – ele disse abraçando e beijando ela de novo. 

– Promete?

– Prometo – ele confirmou. 

Ela então voltou para o colo do irmão e deu tchau para o pai. Ela não havia reparado em nenhum momento que estávamos ali também.

Libertar os outros prisioneiros foi algo tranquilo com o Apollyon. A Lucy havia deixado uma espécie de cartão que só encostávamos na porta e a porta destrancava, o Apollyon entrava, conversava e alguns saíam das celas e outros não. Quem saía não nos seguia, seguiam seus próprios rumos e os que ficavam muitas vezes pareciam que haviam perdido a razão e segundo o Apollyon não havia nada que pudéssemos fazer por eles. 

Cerca de 25 minutos depois chamei a Lucy de volta. A Erica estava segura.

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