Capítulo XIII - Explicações

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O sininho da lanchonete soou acima de nossas cabeças, quando abrimos a porta, anunciando nossa chegada. Algumas pessoas relancearam o olhar à porta, por mera curiosidade ou apenas reflexo, e logo voltaram a comer. O ambiente da lanchonete era morno, tornando o lugar agradável.

As mesas estavam dispostas quase que aleatoriamente, cada uma de uma cor diferente, dando a impressão de que o lugar não se prendia a regras e focava mais no bem estar do cliente. As cores claras nas paredes formavam uma combinação harmoniosa, e as lizes no teto davam sua contribuição para isso.

Nos sentamos em uma mesa mais afastada, afim de podermos conversar melhor, sem sermos interrompidos. A janela grande ao lado da mesa estava aberta, permitindo que uma leve brisa entrasse, bagunçando meus cabelos, que caíam soltos até a altura dos meus ombros, quando me sentei rente a janela.

— Então, Nátalie... — Sam diz, chamando minha atenção. — É esse seu nome, certo?

Aceno afirmativamente com a cabeça.

— Você nos disse que veio de outra realidade, certo? — Aceno novamente com a cabeça. — Pode nos contar como, exatamente, você veio para aqui?

— Eu... — Começo, mas sou interrompida quando a garçonete aparece.

— Olá, rapazes. Como estão? — Ela pergunta, se dirigindo aos irmãos, como se os conhecesse. Então, me lembro que eles devem vir muito aqui, o que explica a "intimidade".

— Estamos bem, Soraia. — Dean responde. Soraia. Por que tenho a impressão de que esse nome significa problema? — E você? Como está?

— Ah, eu estou bem, também. — Ela responde, sorrindo. — E aí? O mesmo de sempre?

— O mesmo de sempre. — Confirma Sam, e Soraia anota o pedido deles num bloquinho que tem em mãos.

— Vai querer alguma coisa hoje, Castiel? — Ela o chama pelo seu nome de anjo, o que me faz estranhar. Até onde eu sei, Castiel costuma usar o nome Clarence, dado pela Meg, como disfarce.

— Hoje não, Soraia. — Castiel responde.

— E para as moças?

— Eu não vou querer nada também. — Kathe diz.

— E a senhorita? — Ela pergunta para mim, me olhando de uma maneira estranha. Seu sorriso não era nem um pouco... amigável. Uma sensação estranha toma conta de mim. Era como se eu já tivesse visto aquele sorriso antes.

Percebo que ela está me encarando, esperando minha resposta. Balanço a cabeça, na tentativa de me livrar da sensação, e respondo:

— Eu vou querer um x – burguer com bacon extra e um copo de milk shake de chocolate. — Ela anota meu pedido no bloquinho.

— Essa é das minhas. — Dean diz, se referindo ao bacon extra.

— Muito bem! — Soraia exclama, enquanto guarda o bloquinho no bolso do uniforme. — Já volto com seus pedidos.

Observamos ela partir em direção a cozinha. Quando ela já está longe o bastante, me certifico de que não há ninguém por perto, e digo:

— Então, como eu estava dizendo...

— Quebra de Tempo —

— Então, a luz desapareceu e o resto vocês já sabem. — Termino de falar e coloco na boca o último pedaço do lanche. Pego o copo de milk – shake e bebo o restante. Estava tudo muito bom.

— E a moça que entregou o colar? — Dean pergunta, quando também termina seu lanche.

— Bem, não há muito o que dizer sobre aquela trolha — Eles me olham confusos, e digo: — É uma gíria dos Clareanos. Mas depois eu explico. — Completo rápido, ao ver que eles continuam sem entender.

— Tudo bem. Então, continua. — Dean diz, de maneira um tanto relutante, parecendo estar ainda um pouco curioso.

— Bom, a moça não era muito mais alta que Kathe. — Digo, apontando na direção dela. — Ela era magra e usava uma peruca loira. — Forço meu cérebro a se lembrar de mais alguma coisa. Quando estou quase desistindo, algo me ocorre: — Os olhos dela! — Exclamo, e eles se assustam.

— O que tem os olhos dela?

— Kathe pergunta.

— Bem, talvez tenha sido só minha imaginação, mas... — Digo, me lembrando do que havia visto.

— Mas...? — Sam pressiona.

— Os olhos dela eram parecidos com os de gatos. Com pupilas finas.

Eles se entreolham, numa conversa silenciosa. Agora entendo o que os personagens de livros querem dizer, quando falam que detestam quando isso acontece.

— Eu sei o que vocês estão pensando. — Digo, os interrompendo. — Feiticeira.

Digo e eles não discordam. Na mosca.

— Pode ser uma feiticeira, sim. —Dean afirma. — E nesse caso, vamos precisar da ajuda da...

— Rowena. — Concluo, e ele acena afirmativamente com a cabeça. — Legal! — Exclamo, alegre. — Ainda não acredito que isso está mesmo acontecendo. — Digo, quase não me contendo de emoção.

Se minha mãe estivesse aqui, ela com certeza diria "Pare de agir feito criança. Você já tem 16 anos". Mas é inevitável e... De repente, arregalo meus olhos.

— Minha mãe! — Como pude me esquecer dela?

— O que tem sua mãe? — Sam pergunta, preocupado.

— Ela deve estar muito preocupada.

— Bom, mais um motivo para te mandarmos de volta logo. — Dean diz, de maneira gentil.

Nos levantamos e andamos em direção a porta, enquanto Dean vai ao caixa. Do nada, minha bexiga resolve dar sinal de vida.

— Preciso ir ao banheiro. — Digo para Sam.

Ele acena com a cabeça. Me encaminho para a porta com um desenho de uma bonequinha usando um vestido rosa. Abro a porta e entro no local. Até que não está tão sujo quanto eu esperava. De todas as três cabines, apenas uma está funcionando. Ótimo. Banheiro limpo, mas cabines quebradas. Por acaso, isso é uma troca?

Tento me apressar, para o caso de outras precisarem usar o banheiro também. Ainda bem que pelo menos tem papel higiênico. Assim que termino, dou descarga, abro a porta da cabine e caminho em direção a pia. Termino de lavar as mãos e as seco. Me encaminho para a porta, mas, no meio do caminho, esbarro em alguém.

— Ah, me desculpa! — Peço, envergonhada. —Eu não ouvi você entrando e... — Me interrompo bruscamente ao levantar o olhar e encarar o rosto da pessoa em quem esbarrei.

Pela segunda vez naquele dia, eu a via. Não mais do que 30 anos. Aproximadamente 1,70 de altura. Cabelos ruivos um pouco acima da cintura. Pela segunda vez naquele dia, eu via aqueles olhos de gato com pupilas finas.

Porém, não pela segunda, mas sim pela terceira vez naquele dia, eu via aquele sorriso frio e nada amigável. Uma onda de compreensão se abate sobre mim, e dou alguns passos hesitantes para trás, instintivamente.

— Você! — Exclamo, mas antes que eu possa gritar por ajuda, ela avança rapidamente e coloca um pano sobre minha boca.

Começo a me debater, tentando me livrar do aperto. Mas sinto meu corpo pesar. Rapidamente, sinto uma escuridão se abater sobre mim, e eu apago.

Um Amor Entre Um ANJO E Um DEMÔNIO ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora