— Hey, você tá bem? — Suzana olhou para Alex preocupada, enquanto eles tentavam atravessar a multidão que ocupava a casa.
— Eu tô bem. É você quem tá com uma fratura exposta.
Suzana revirou os olhos.
— Você não tinha dito que ia parar de mascarar o que sente? Você tá quase quebrando seus dentes de tanto ranger, tá com a mão gelada e eu não quero estar por perto se você tiver um meltdown aqui no meio. Então para agora e olha pra mim: primeiro você pega os abafadores de ruído, ou expulsa essa gente daqui, ou faz qualquer coisa do tipo. Você é superpoderoso, lembra? Depois, você liga pra médica! Eu não vou morrer nesse meio tempo.
— Desculpa... — Ele respirou fundo. — Mas eu acho que não posso usar meus poderes agora. Eu tô sobrecarregado, poderia machucar alguém.
Yari se intrometeu na conversa, pela primeira vez. Estava muito quieta desde que haviam retornado da Linha Quatro.
— Eu faço. — Ela tirou a varinha de dentro do chapéu.
Os galhos que formavam a varinha da bruxa se transformaram em um cajado, com uma gema verde na ponta. Yari bateu três vezes com o cajado no chão e recitou um feitiço. As luzes se apagaram e tudo ficou em silêncio. Uma fumaça de um verde tóxico e brilhante se espalhou pela casa, entrando nas narinas dos convidados e conferindo a eles um olhar morto, hipnotizado.
— Vão embora! Agora!
A voz da bruxa percorreu cada cômodo, como milhares de vozes sussurrando ao mesmo tempo. Os convidados começaram a sair, ordenadamente, em silêncio. Restaram apenas Lennon, Vitor e mais algumas pessoas que a bruxa julgou serem membros do tal Sindicato. Todos enfileirados em frente à lareira, olhando para Alex, Suzana e Yari com os olhos arregalados.
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No fim das contas, Alex não precisou ligar para a médica. Yari usou um de seus encantamentos para curar o braço de Suzana e ela pôde ameaçar e chacoalhar os braços à vontade enquanto gritava com Lennon, Vitor, uma imortal ruiva e magricela vestida de diabinha e um homem alto e musculoso com cara de rato usando uma fantasia exagerada de super-herói.
— Beleza. Eu não vou perguntar de quem foi a ideia porque vocês agem como uma consciência coletiva quando se trata de fazer cagada. — Suzana começou com um tom de voz exaltado, mas ainda contido perto de outras ocasiões em que ela passava sermão no seu grupo. — A gente sai pra resolver uma crise no multiverso e vocês metem uma dessas? Puta que me pariu!
— Aí, não xinga a dona Elena não, pô... — Vitor reclamou.
Suzana desferiu um tapa na cabeça do rapaz.
— Cala a boca! Eu vou colar a orelha de todo mundo! Mas por que é que eu tô surpresa? Com vocês é assim, né? Se você não vai ajudar, atrapalhe! O importante é participar!
— Suzana... — Alex procurava interromper.
— Trouxeram a porra do Holmes da Inglaterra. Minha nossa senhora da bicicletinha! Trouxeram o cara da Europa em pleno Halloween. Mano, a gente não tem pessoal suficiente e vocês ainda tiram quem tá trabalhando do trabalho? Meu cacete! MEU CACETINHO!
— Suzana, tem a Anke na Europa... Tá tudo bem... — Alex coçava a cabeça, tentando não rir. As broncas de Suzana eram mais divertidas do que assustadoras.
— Cala a boca, Alex. Não tenta defender o clã, não! Você passa demais a mão na cabeça desses seus filhos, é por isso que eles são assim!
Enquanto Suzana berrava, Yari percebeu que a ruiva não parava de olhar para ela. Às vezes, olhava fixamente.
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O Halloween de Yari (Conto)
Short StoryÉ dia 31 de outubro de 2015, e Alex não comprou doces para distribuir no Halloween. Agora, um grupo de crianças raivosas está amaldiçoando a casa de Suzana. Não que a maldição vá pegar, é claro. Mas se tratando da única noite do ano em que os...