Estava escuro. O único ponto de luz provinha da fortaleza no alto da falésia. Flocos de neve caíam devagar, pequenos e opacos. Uma cena quase tão triste quanto o silêncio daquele mundo. Um mundo que havia chegado ao fim.
Yari avançou rápido pela praia, enquanto Alex reclamava sobre o frio. Em momentos como aquele, ele se lembrava do porque precisava manter uma rotina rígida. Sair da rotina quase sempre significava problemas, e só de olhar para aquela fortaleza, ele conseguia ter alguma ideia do tamanho do problema que o aguardava.
Já estavam quase chegando ao alto da formação rochosa quando a bruxa simplesmente parou de andar.
- A-Alex... Não olha agora, mas tem alguma coisa saindo das pedras. - Yari apontou para o paredão negro que se erguia abruptamente da praia.
A linha do horizonte realmente estava se mexendo, se aproximando. Como se pequenos mecanismos com rodas trouxessem a base do paredão para mais perto deles. Alex estreitou os olhos e viu formas humanóides com roupas que mimetizavam com o ambiente. Mantos da cor das rochas. Botas da cor da areia. E armas camufladas.
Os agressores perceberam que foram descobertos e já não se importavam tanto em se esconder. Tanto que começaram a fazer uns sons graves com a boca. Alex demorou para identificar as palavras.
Sturm... Sturm... Sturm...
- Jesus, Maria e José... Patentearam a capa do Harry Potter! - disse Alex, com um sorriso nervoso nos lábios.
- Você não perdeu a mania de fazer graça nos momentos mais inapropriados! - Yari puxou sua varinha mágica de algum lugar do vestido. Era um emaranhado de ramos de mais ou menos trinta centímetros com uma pedra verde brilhante na ponta.
- Segura a onda. - Alex se posicionou à frente da bruxa e com um gesto pediu que ela abaixasse a varinha. - Esses caras não sabem com quem estão se metendo.
Lascas de cascalho da praia começaram a orbitar ao redor de Alex enquanto seu corpo era envolvido por uma aura azul translúcida e brilhante.
Os soldados camuflados, porém, não recuaram e cantaram seu canto de batalha ainda mais alto.
Alex respondeu ao desafio concentrando um pouco de energia azul brilhante em uma das mãos até formar um pequeno orbe, cuja força magnética atraía até mesmo pedaços do paredão que se desprendiam e se despedaçavam ao se chocar contra Alex.
Um raio de pura luz branca partiu da fortaleza acima e caiu como um meteoro entre Alex e os soldados camuflados. Da pequena cratera que se formou, após a poeira baixar, surgiu um homem velho, alto, com longos cabelos e barba brancos, vestindo uma espécie de armadura tecnológica por baixo de um manto branco. O barulho era grande na praia, mas Alex ouviu claramente as palavras do velho.
Coversus Lucendi...
"Que se acendam as luzes..." uma voz pequena e gentil traduziu para Alex em sua mente.
Todo o resquício de luz que havia no ambiente se apagou e um ponto de luminosidade minúsculo apareceu na palma da mão direita estendida do velho. Uma luz quente, tão quente que dispersava o frio e fazia os flocos de neve se desviarem. Um clarão forte indicou que o velho lançara a esfera de luz. Alex respondeu atacando com éter. As energias se chocaram e a noite invernal se fez dia por alguns breves segundos. Uma coluna de fumaça se erguia da cratera formada pelo choque dos poderes. Pedaços de areia, pedra e algas flutuavam em volta do buraco iluminado por fogo branco, enquanto pequeninos planetas se formavam e se cobriam de vegetação e mares, orbitando a labareda no centro da cratera.
- Encoste em um fio de cabelo dos meus filhos... E eu acabo com você e com sua bruxa! - O velho vociferou. - Nós temos um código, um canto para cada ameaça. E já faz muito tempo que não escuto os cantos para bruxa e ameaça cósmica no mesmo dia!
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O Halloween de Yari (Conto)
Short StoryÉ dia 31 de outubro de 2015, e Alex não comprou doces para distribuir no Halloween. Agora, um grupo de crianças raivosas está amaldiçoando a casa de Suzana. Não que a maldição vá pegar, é claro. Mas se tratando da única noite do ano em que os...