Thirty Nine

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Coração partido 1.

Não costumava odiar o frio como agora, pelo contrário, antes adorava a sensação do ar gelado no rosto, amava tocar a neve recém chegada, gostava de ver a cidade cinza se tornar branca.

Mas isso foi antes...
Antes dele.

Porque agora, o frio apenas a lembrava que ele não estava por perto, não tinha mais o calor que o corpo dele proporcionava ao seu. Aquela droga de sentimento, a tinha tornado dependente.
E tinham se passado apenas dez dias.

O resto de sua vida ia ser uma droga!

Ela estava sozinha novamente, não literalmente sozinha, seu pai estava presente, mas ainda faltava algo.

O Doutor Yang assinou a alta de seu pai quatro dias depois do dia fatídico em que ela o viu partir.
A sua maior surpresa naquela semana foi descobrir que seu pai não havia vendido a casa em que morará durante a vida toda.
O que fez o remorso corroer mais fundo em seu interior.
"No fin...al das... Contas... Eu... Eu... Não consegui."

Ela era uma péssima filha!

Mas felizmente para ela seu pai não teve nenhuma piora em seu já abalado quadro.
Mas a primeira semana tinha sido difícil, ele relutou em aceitar seu estado atual, não aceitou bem a fisioterapia, e se recusava a sentar na cadeira de rodas.
Ficou pior nos dias seguintes.

Dias em que ela se trancava no banheiro e chorava. Chorava por minutos infinitos antes de lavar o rosto, encarar o espelho, respirar fundo e voltar para a luta.

Durante a noite era pior, se sentia ainda mais sozinha, ocupando seu velho quarto as coisas se tornavam uma avalanche em cima dela. E ela chorava novamente, porque não tinha com quem dividir seus temores.
Temores em relação ao pai e sua recuperação, temores em relação a sua vida a partir dali, temores em relação a saudade que sentia das amigas e de sua plantinha petúnia, temores em relação a ele.

Estava sufocando.

Mas então teve um dia bom, um dia realmente bom em contraste ao furacão em que se encontrava. Seu pai aceitou a fisioterapia pela primeira vez sem pressão dela, ele aceitou a refeição sem pressão dela, ele aceitou seu estado temporário com a promessa de recuperação.
E ela teve um dia bom.

Quando conseguiu finalmente respirar redescobriu seus antigos quadros, redescobriu suas telas, suas tintas e seus pincéis. Quando ela pode respirar ela recomeçou a pintar.

Sabina e Savannah vinheram na semana seguinte, passariam três dias ao seu lado e aquilo era muito bom.

Savannah lhe trouxe Petúnia.
E Sabina lhe trouxe o vislumbre dele.

– Ele não parece o mesmo. - estudou o quadro contra sua janela. - ele está distante.

– Ele vai ficar bem.

– Você vai? - Savannah perguntou se sentando em sua cama.

– Com o tempo...

– Não tente se enganar. - Sabina afastou alguns quadros como se estivesse em uma loja de discos - o tempo só vai mostrar a idiotice que você fez.

A boca dela se abriu para protestar mas a voz de Savannah a cortou.

– Ela está certa! Aquele homem praticamente disse que te amava.

Acaso Perene - Adaptação NoanyOnde histórias criam vida. Descubra agora