1- O início

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A morte passou diante dos meus olhos e tornou-se minha melhor amiga. Com o passar do tempo apenas ela voltava para sussurar seu recado durante meu choro lamentoso. Ela sempre vinha, sempre carregando árdua tarefa de levar os meus. E foi assim que eu morri.

Morri para a vida humana, para minha família e amigos. Morri para a possibilidade de casar e ter filhos. Morri para a sociedade e para a minha própria felicidade, no entanto eu estava viva, mais viva que todos eles pois a minha morte era eterna e eu jamais morri.

— Considerando os últimos acontecimentos, acredito que teremos problemas quando voltarmos! — Diz a jovem de cabelos encaracolados ao meu lado movimentando seu corpo de acordo com o som da música instigante.

— Você acha, prefiro afogar-me nessa bebida ruim a ter que pensar em voltar! —  Afirmo levando o copo de cerveja barata a boca apreciando o movimento de pessoas circulando no amplo espaço pouco iluminado.

Micaelly sorri percebendo minha indiferença ao sermão que receberemos da orientadora educacional por sair no meio da semana para festas mundanas e pouco diplomáticas.

Depois de algumas décadas vivendo em meio ao animal humano se auto destruindo em busca do seu bem maior( dinheiro) ser vigiada por uma velha dotada de princípios religiosos e regra arcaicas é aceitável, mesmo eu dando preferência a uma rotina mais viva.

—  Bi, olha só o cara gostoso olhando para nós.  Podemos fazer um menáge. O que você acha?
— Ela me abraça buscando uma resposta positiva enquanto acena para o homem de cabelos loiros e pele bronzeada.

Visualizo um homem o observando dos pés a cabeça, porém algo me incomoda no instante que olho dentro do seus olhos.

— Não — Respondo ríspidas ao ver que sua  áurea manchada, significando que sua alma está marcada.

— Mas, porque, ele pode ser interessante. Olha aqueles músculos —  Observo mais uma vez o homem sorrindo para nós, no entanto, vejo um pobre coitado.
Sua aparência bem dotada sob o jeans e camisa polo de marca disfarça sua mente fraca, tão frágil que já vendeu a alma.

Vender a alma para muitos mortais é a única alternativa para conquistar suas realizações, muitos são gestos bonitos com boas intenções, as vezes a única alternativa no seu momentos de desespero, outros é pura ganância e esse cara com certeza buscou algo fútil já que sua áurea está tingida de vermelho e preto demonstrando sua ganância.

— Não vou perde meu tempo com gringos. Vamos? — Caminho em direção ao balcão de vidro negro com dois Barmans ousando em malabarismo enquanto atende.

Uma pessoa com a alma marcada para mim, é um problema. A qualquer momento o trato pode acabar e um deles virá, ou pior, podem ser usados e levados a cometer atos indesejáveis, principalmente para mim, uma fugitiva do submundo. 

Pode parecer estranho, mas ver almas marcadas é mais fácil do que parece. A vida resumida em fama, dinheiro, poder e glória  tornou as pessoas cada vez mais fúteis as levando a atitudes idiotas como essa. O que é bom somente para um único ser...

— Você é fluente em inglês, deveríamos ir lá conversar, mostrar a hospitalidade e simpatia brasileira.

Os questionamentos de Micaelly são toscos, desprovidos de qualquer conhecimento ou maldade sobre o mundo, afinal ela não é igual a mim, o mundo da jovem é mortal o que a torna desconhecedora do caus que há além dos seus olhos.

Olho para a jovem com um certo aborrecimento, bufo e retorno a atenção para o balcão negro.

Suas atitudes impensadas e muitas vezes desconcertantes me fazem cuspir ofensas terríveis que a qualquer um, seria o suficiente para ir embora e jamais voltar. Micaelly, no entanto, ouve tudo com paciência e em  muitos momentos com a teimosia de uma criança, para nunca se deixar ofender o que a torna uma pessoa fácil de lhe dar e receptiva a mim.

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