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P.O.V. Pamela Isley

Eu estava encarando a paisagem através da janela da sala. Ao mesmo tempo que eu sentia como se não se passasse nada em minha cabeça naquele momento, sentia como se eu tivesse um turbilhão de pensamentos. Era algo tão confuso que até mesmo eles se embaralhavam e invadiam uns aos outros, mas como eu já disse, ainda sim pareciam vazios. Não sei se existe uma definição para este sentimento. Esse conflito em minha mente fora interrompido quando escutei o som da porta, e em reflexo olhei na direção da mesma, deparando-me com Harleen.

— Uau, que chuva! - ela exclamou, fechando o guarda-chuva e retirando os sapatos logo na porta. Somente quando ela ergueu a cabeça e deu alguns passos mais à dentro foi quando ela me notou ali. — Ah, não tinha te visto aí, amor. Foi há floricultura hoje?

— Sim, porém logo que vi as nuvens cinzas no céu e deduzi que iria chover, já comecei a guardar tudo. Quase ninguém entra na loja em dias assim. - a loira concordou e pareceu se aproximar de mim. Senti até mesmo meu coração errar a batida no momento, mas mal tive tempo de me iludir muito, uma vez que a mulher passou direto por mim e se jogou no sofá. — E como foi no trabalho?

— Foi tudo bem, nada de muito novo. - comentou apenas isso, me deixando sem saber como prosseguir um possível assunto. Por que cada vez mais parece que menos tenho assunto para falar com ela? Quer pedir algo para jantar? Sei lá... Uma pizza?

Concordei com a cabeça e a vi pegar o celular. Olhei por alguns instantes para a chuva através da janela e logo me sentei em um das poltronas da sala, a escutando fazer o pedido, o mesmo de sempre. Assim que desligou a ligação, levantou-se.

— Dentro de trinta minutos eles chegarão. Irei tomar um banho, okay?

— Tudo bem, Harls. - abri um sorriso para sua direção, e ela retribuiu, mesmo que não de forma tão radiante.

Antigamente, ela costumaria me chamar para acompanhá-la no banho, ou eu simplesmente entrava quando ela não falava nada... Eu deveria fazer isso? Eu estaria invadindo seu espaço? Quer dizer, ela ainda gostaria que eu fizesse isso? Me perguntava o motivo para que coisas tão comuns que fazíamos antes, agora parecessem tão questionáveis antes de serem realizadas. Suspirei e fui até a estante da sala, começando a olhar os livros em procura de algo que me atiçasse.

Sequer vi o tempo passar quando escutei o som da campainha. Deixei o livro que eu havia pego de lado e fui até a porta atender o entregador, levando comigo a carteira. Já não estava chovendo tanto, apenas uma leve garoa, então foi rápida minha ida e volta até estar dentro de casa novamente. Ajeitei a mesa da sala de jantar, e antes mesmo que eu tivesse de ir para o quarto chamar Harleen, ela já estava atrás de mim.

— Quinzel! Você quer me matar de susto?! - ela tinha uma habilidade incrível de chegar de fininho quando queria, ou seria somente eu absorta demais em meus pensamentos vagos e confusos?

A loira já vestia uma de suas camisolas sob o robe, cheirava a seu shampoo e hidratante — aliás, ambos com um cheiro extremamente doce, mas que nela ficava incrivelmente bom — e estava com o cabelo molhado, recém penteado.

— Não quero, não. Porém, estava te analisando. - lançou um sorriso para mim e se aproximou, abraçando minha cintura. Fazia tempo que isso não acontecia...

— Me analisando? Posso saber o motivo?

— Desde que cheguei, notei que você está mais séria que o normal, ruiva. Quero dizer, sua cara de brava é linda, mas quando você está com o cenho franzido, quer dizer que você está pensando muito sobre algo.

Tenho que admitir que mesmo com tantas inseguranças surgindo à tona em mim, seja lá por qual motivo, essas coisas me faziam sorrir feito uma boba. Droga, o que eu esperava mais?! Harleen me conhecia desde o fim de minha adolescência e início da vida adulta, o mesmo servia para mim em relação à ela. Acho que era de se esperar que tivéssemos reparado em cada pedacinho uma da outra. Ademais, ela era psiquiatra, ela sabia reconhecer a linguagem corporal de um indivíduo. Não era porquê eu estava nos sentindo meio distantes que isso significasse que ela achava o mesmo... E então eu deveria ser uma louca.

Vidas Normais || Harlivy Onde histórias criam vida. Descubra agora