Vidas Normais || Harlivy

9.

P. O. V. Harleen Quinzel

  Não estava sendo fácil passar os dias sozinha em casa. No começo, logo após ser praticamente dispensada do trabalho, pensei que aproveitaria para regular meu sono, colocar minhas atividades de lazer em dia, coisas do gênero, mas acabou que foi totalmente o oposto. Mal conseguia dormir, eu continuava sem conseguir me reanimar com meus antigos hobbies e nem descobrir outros novos. Acabou que meus primeiros dias se resumiram em ficar largada pela casa, comendo e tentando me distrair com o celular ou algum seriado que estivesse passando na TV.

  Tudo me remetia a Pamela, de alguma forma. Cada planta, cada flor, cada parque e até mesmo os insetos, os quais eu tinha pavor, mas a ruiva sempre esteve lá para me proteger e afasta-los de mim sem que eles acabassem mortos. Não era novidade quando ela aparecia segurando alguma abelha como se fosse um minúsculo bichinho de estimação, oferecendo água e uma das flores do quintal para ela repousar. Como eu poderia sair de casa e me deparar com coisas assim, tão simples, mas sem pensar em minha esposa... Ex-esposa? Não estava preparada para isso.

A única pessoa com quem eu estava conseguindo conversar nos últimos tempos era Basil. Selina era uma boa amiga, mas ainda era uma ponte entre eu e Pamela, por esse motivo julguei que era melhor me manter relativamente afastada até que meus pensamentos estivessem em ordem; Bárbara e Joan eram minhas amigas, mas conversar com elas me lembraria de meu trabalho e faria eu me sentir inútil por não estar em condições de exercê-lo, deixando-me ainda pior. Basil Karlo era meu melhor amigo e não estava envolvido em nenhum dos casos caóticos que estavam em minha vida no atual cenário, e mesmo sabendo de sua agenda agitada, em seu tempo livre ele parecia estar disposto a manter nossa amizade atualizada.

Ele foi o único a saber de meu término. O homem sabia o quão importante Pamela Isley era para mim e o quanto nosso relacionamento era significativo para ambas, e até mesmo ele ficou sentido com a notícia.

"É como se minhas mães tivessem se separado!", o escutei falar do outro lado do telefone enquanto eu lavava algumas louças acumuladas na pia da cozinha. "Harley, não sei o que te dizer... Só sei que você não pode ficar mofando para sempre dentro de casa".

— Por que você não volta pra Nova Iorque? Deixa essas gravações pra lá e vamos cair na festa, nem que você tenha que me empurrar para uma! — comentei, terminando de lavar meu último prato.

"Olha, bem que eu queria, mas além de ser trabalho, estou saindo com um britânico que é de tirar o fôlego e não quero perder ele de vista tão cedo! Mais fácil você vir para Londres".

— Quem me dera! Mas minha vida está muito turbulenta, Basil, acho que ao mesmo tempo que quero ficar longe de casa para parar de pensar no passado, ficar longe dela me deixaria ainda mais neurótica. Preciso me reorganizar.

"Tenho que concordar com você. Eu te adoro, sabe disso, mas não quero você surtando por aqui! Sério, Harley, acho que eu enlouqueceria junto. Esse filme está me deixando doido".

Acabei rindo da intonação de voz do homem. Eu mal podia esperar para assistir tal filme quando o mesmo estrelasse. Pelo pouco que meu amigo havia comentado sobre, tinha algo relacionado com uma Londres caótica, com seus principais pontos turísticos sendo roubados e diversos mistérios por trás. Romances policiais sempre me encantaram, e ter meu amigo fazendo um era ainda melhor!

— Relaxa, B. Logo esse estresse das filmagens vai passar e você vai estar se vendo nas telas de cinema, quem sabe até nas programações de filmes da tarde na televisão?!

"Ha ha.... Como você é engraçada, não?"

Caí em gargalhada do outro lado da linha. Um dos últimos filmes de Karlo, um de comédia, estava passando na TV em um certo dia em que ele estava em casa. O filme era um tanto fraco, tenho que confessar, mas me arrancou boas risadas ao perceber que a maioria das — poucas — cenas em que o homem aparecia, logo vinha uma propaganda e cortava sua aparição. Mesmo ele acabou levando na esportiva, já sabendo que não era o tipo de filme que iria alavancar sua carreira, e felizmente outros projetos surgiram para ele. De qualquer modo, foi cômico.