Vidas Normais || Harlivy

3.

P.O.V. Pamela Isley.

Risadas. Eu estava escutando um riso bem suave, vinha de uma voz fina, como o de uma criança. Dava para perceber que estava se divertindo e a intonação das gargalhadas era de algo puro e genuíno. Demorei um pouco para identificar onde eu estava, mas logo percebi que era a sala de casa, só que estava... Diferente. Alguns móveis haviam mudado de lugar, outros foram substituídos por novos e somente quando meus olhos caíram sobre a mesinha de centro que pude notar alguns desenhos. Aproximei-me, pegando um dos papéis para analisar os rabiscos nada delicados.

Quem poderia ter feito?

  Logo um dos primeiros desenhos que peguei, era bem difícil de entender, mas percebi três pessoas: uma ruiva alta, uma loira um pouco mais baixa e uma criança entre elas. Pareciam estar em um campo fazendo piquenique. Logo no canto superior esquerdo, com letras bastão bem desalinhadas, estava escrito "Lucy".

  Onde eu estou? Não é possível que aqui seja minha casa, eu não conheço nenhuma Lucy, ainda mais uma criança com tal nome!

  Escutei a voz de Harleen vindo do quintal da casa. Deixei os papéis de lado e decidi seguir o som das risadas, chegando até o jardim. A quantidade de flores parecia ter aumentado, a árvore centenária em nosso jardim parecia mais forte do que nunca, e em um de seus troncos havia um balanço de pneu. Harley uma vez sugeriu a ideia, não sei porquê ela não realizou tal vontade antes. Mais ao lado, havia uma toalha estendida no chão e alguns brinquedos espalhados por ali. Minha namorada estava sentada de costas, e me aproximei um pouco mais.

Neste momento, quando meu ângulo de visão mudou, uma garotinha de cabelos ruivos, pele clarinha e olhos extremamente azuis estava sentada no chão também, brincando com carrinhos de brinquedo que usavam saias de bailarina e até mesmo alguns brinquedos feitos de garrafa plástica... A menina era extremamente parecida comigo, mas ao mesmo tempo com Harleen. Que tipo de brincadeira era essa?!

Elas não pareceram perceber minha presença. Logo se ergueram e a ruivinha correu para o tronco da árvore do quintal, apoiando os pézinhos em alguns degraus de madeira que foram colocados ali, até que chegou em uma das ramificações do tronco.

— Mamãe, a mama está aqui também! — apontou na minha direção, e no mesmo instante Harley se virou, abrindo um sorriso.

— Eu não vi você chegando, querida. — ficou a minha frente e fez com que eu passasse meus braços por sua cintura. Sorri involuntariamente com a ação.

  Ela não estava muito diferente fisicamente, parecia um pouco mais madura apenas, e a única novidade que pude notar fora as pontas de seu cabelo coloridas: um lado de azul e o outro rosa, ambos já levemente apagados. "Quando que ela pintou?" pensei. Seu perfume permanecia aquele que me lembrava cheiro de doces ou brinquedo recém aberto. Ainda sim, estava tudo confuso. 

Aquela criança era... nossa?

— É incrível como Lucy ama tanto ficar aqui no quintal, não acha? Acho que ela puxou isso de você. — senti meu corpo gelar por um instante. Foi como se a loira tivesse lido meus pensamentos e confirmado que aquela era nossa filha.

  Minha Filha...

— Mama, olha! — nesse instante, Lucy ficou de pé no tronco. Harleen disse para ela sentar novamente porque poderia desequilibrar e cair, mas a menor não deu ouvidos. Ela começou a andar pelo galho, até que começou a agitar os braços em busca de equilíbrio e a gravidade a puxou para baixo.

Involuntariamente me desvinculei do corpo de Harley e corri em sua direção enquanto ela ainda estava em queda e...

Abri repentinamente os olhos. Eu já estava sozinha na cama, descoberta, suando, com o coração acelerado, assustada. Demorou um pouco para que eu percebesse que raios de sol já atravessavam a pequena fresta da cortina, e um som de chuveiro ligado, mas este logo cessou. Fechei meus olhos, esperando cair no sono de novo ou então cair no sono e saber o final do sonho. Na verdade, parecia tão real, que por um momento achei que fosse a realidade. Eu não sabia quem era aquela criança, mas a cena dela caindo realmente me assustou, e espero que ela tenha ficado bem.