• Le Visiteur •

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Minhas querida Isabel,

Tantos anos se passaram que eu nem sei se ainda tenho o direito de lhe chamar assim, se a amizade, amor e companheirismo que dividíamos ainda existe em você, porque por aqui continua e sempre continuará o mesmo, a diferença é que agora eles dividem espaço com a saudade em meu coração.

Sei que a magoa por mim e por minha partida tão repentina e sem qualquer despedida, pode morar em seu coração, e eu peço perdão por toda tristeza que talvez eu tenha lhe causado. Espero que algum dia possamos nos encontrar novamente e que agora, com você mais madura eu possa finalmente lhe explicar tudo e o motivo de minha partida tão precoce e sem um adeus.

Me perdoe também, pela única carta que lhe mandei, e a mesma sem um endereço pra resposta, eu apenas queria lhe dizer que eu estava bem e com saudades da filha que a vida me deu. Quero que saiba que eu recebi a carta que você mandou por sua tia Chicá, e que meu coração transbordou de amor e felicidade ao saber sobre a alegria que se encontra seu casamento, assim como minhas orações dobraram pra você ao saber da sua batalha por um filho, a mesma batalha que eu passei por anos até conseguir meu Dominique. Todos os dias, Justina e eu rezamos um terço em prol do seu sonho e tenho certeza que em breve, se já não tiver acontecido, esse bebezinho tão esperado chegará.

Mas minha carta dessa vez, vai como um consolo, como um abraço bem forte, e com minhas mais sinceras palavras de sentimentos e pesar. Sinto muitíssimo pela partida de sua mãe, a Imperatriz, fiquei sabendo apenas a pouco, e não sei ao certo quando ou como aconteceu, mas eu peço a Deus que lhe dê forças e sabedoria pra lidar com tamanha dor nessa hora. A partida de um pai ou uma mãe nunca é fácil, mas eu sei da mulher incrível que você é, e o quão cercada de pessoas boas você deve estar nesse momento, que meu abraço mesmo que de muito longe chegue até você por meio dessa carta, e que você o consiga sentir como se eu ainda estivesse ai. Quero que o transmita também a princesa Leopoldina e ao Imperador, seu pai, junto com meus mais sinceros sentimentos.

Com todo meu amor e respeito,

Luísa.

Termino de ler a carta que Isabel havia me entregado mais cedo. Segundo ela, não achou justo apenas transmitir as palavras de Luísa, pois sabia o quanto ela havia sido importante pra toda nossa família.

Ela havia sido muito mais do que importante. Ela havia sido o amor da minha vida.
A mulher pra quem eu entreguei meu coração, minhas confidências, meus medos e sonhos. Minha amiga, minha amante, não no sentido ruim da palavra, minha amante no sentido de ser minha amada.

A dor da sua partida sem um adeus, um até breve, me machucou de uma forma tão profunda, que eu ainda era capaz de sentir a dor só de me lembrar daquele dia. O dia em que fui até sua casa durante a noite e tudo que encontrei foi a pessoa que ela deixou ali, cuidando da casa, e que me disse sobre sua partida no vapor da manhã.

Me lembro da tristeza de Isabel e Leopoldina quando contei pra ambas. Lembro dos dias que foram se arrastando, das cartas que me foram devolvidas porque o remetente já não era mais o dela. Ela havia não somente se mudado do Brasil, mas de cidade na França também.

Era como se ela dissesse a cada novo dia, que não nos queria mais em sua vida.

Aos poucos, eu fui aprendendo a guardar o amor que eu tinha por ela numa parte intocável de meu coração, porque eu não seria burro ao ponto de dizer que não a amava mais, isso nem quando eu morresse.

Luísa foi, era e sempre seria meu amor.
Mesmo que eu não fosse o dela mais.

Respiro fundo, e olho novamente a carta.

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