- Boa Noite, Luísa!
Eu havia pensado em mil coisas pra dizer a ela durante todo aquele dia. Mil coisas!
E nenhuma delas havia sido um " Boa noite, Luísa".Mas vê-la ali, parada na minha frente, de camisola, como já havia a visto tantas vezes, fez aquele Pedro apaixonado querer voltar a tona, querer tomar as rédeas da situação de novo. E eu não podia permitir isso. Não mesmo!
Ela não havia mudado nada! O tempo, assim como tudo na vida parecia ter sido ainda mais generoso com ela. Ela estava se eu podia dizer, mais linda do que eu me lembrava. Na verdade, nenhuma lembrança que eu tinha dela, vejo agora, fazia jus a sua beleza.
- Majestade? - escuto sua voz falar trêmula.
Majestade?
Minha mente apita indicando que tudo estava fora do lugar.Sorrio balançando a cabeça, abaixando meus olhos.
- Eu deveria tê-la chamado de Condessa também? - pergunto voltando a encara-la. - Pelo visto esses cinco anos mudaram mais coisas entre nós do que eu imaginei.
- Pedro! - ela fala e a vejo suspirar. - Entra! - finalmente se afasta me dando passagem da sua casa.
Casa essa que estava tudo no lugar. Tudo exatamente igual estava na última vez que estive ali, e nem sonhava ser a última vez. Tudo cheirava Luísa, tudo gritava Luísa. Vejo seu robe e um livro abandonados em cima do sofá. Vejo alguns brinquedos de criança e não consigo evitar sorrir ao me lembrar de Pierre. Tudo estava igual, mas ao mesmo tempo muito diferente.
Escuto seus passos atrás de mim, e me viro pra encara-la e ao fazer isso, minhas dúvidas de cinco anos atrás voltam, fortes, potentes, latentes.
- Eu confesso que estava esperando o dia .... -
- Por que? - falo atropelando suas palavras ou questionamentos. - Eu passei todos esses anos me perguntando isso, por que? Por que, Luísa?
A vejo abaixar os olhos pras próprias mãos.
- Nenhum adeus! Um, um até breve! Nada! Nenhuma mísera carta de despedida! - falo tentando me controlar. - Eu passei cinco anos tentando entender o que eu tinha feito de tão errado pra não merecer nenhuma consideração da sua parte! Pra merecer aquele mentira de datas! Pra merecer chegar aqui no dia seguinte e dar de cara com uma casa vazia, com móveis cobertos e você já longe!
- Pedro ...
- Eu juro que eu tentei entender! Juro! - respiro fundo. - Eu te mandei uma, duas, três, 20, 50, 100, incontáveis cartas! Todas me foram devolvidas! Você simplesmente nos apagou da sua vida!
- Eu não apaguei vocês da minha vida! Nem se eu quisesse eu conseguiria isso, Pedro! - ela fala. - Mas eu precisava ir embora! Eu precisava! Eu já tinha cumprido minha função aqui! Isabel e Leopoldina já estavam casadas, já não precisavam mais de mim! Eu tinha ... eu tinha meu filho! Eu tinha Dominique que ainda precisava de mim! Eu não era mais necessária aqui!
- Você era sim! Eu precisava de você!
- Ai que estava o problema Pedro! Você nunca me perguntou se eu queria continuar! Você simplesmente fazia planos e planos e adiava minha partida, partida essa que sabiamos ser necessária! - ela suspira.
- Eu jamais te prenderia aqui! Eu sempre soube de Dominique, eu sempre entendi a sua necessidade de rever seu filho! - falo de uma vez. - Você sabe que por mim, você teria ido buscar Dominique e o teria sempre aqui com você! Ele nunca teria nem ido pra França na verdade! Eu sempre, sempre gostei dele, Luísa! - abaixo os olhos. - Em todas as cartas eu perguntei sobre ele, sobre nosso garoto! Mesmo que ele nunca tenha sido de fato nosso!
O silêncio que se faz entre nós dois a seguir é tão forte, que eu podia jurar que seria capaz de pega-lo com as mãos se isso fosse possível.
- Só que nada justifica você ter fugido como uma covarde como fez!
- Covarde? - ela fala uma oitava mais alto. - Covarde? Você não sabe a dor que foi pra mim deixar você, deixar as princesas! Deixar pra trás aquilo que eu achava que tinha construido durante 8 ano, Pedro!
- Achava?
- Vocês nunca foram meus! Nunca! - ela me olha - Isabel e Dina nunca foram minhas filhas, por maior que fosse o amor que eu tinha, e tenho por elas! Eu era só a preceptora! - ela me olha. - Você nunca foi meu! Nunca! Eu nunca tive a honra de acordar ao seu lado, te esperar pra um jantar ou ... nunca sequer dançamos em um baile em público! Eu me iludia dia após dia, mas ao mesmo tempo dentro de mim só crescia essa voz que dizia, eles não são seus!
- Você sabe que não era assim! Você nunca foi só a preceptora! Nem pra mim e nem para as princesas!!
- Até quando? Até quando seria assim? Até que as princesas descobrissem e você ouvisse a razão e coloca-se um ponto final em tudo? Ou até você perceber que não me amava e ....
- Mais eu amava! Eu amava! - falo aumentando meu tom de voz igual o dela. - Eu amo, Luísa! Eu amo!
Vejo sua expressão mudar, seu corpo dar um passo pra trás.
- Eu amo! - repito - Só não sei se posso dizer o mesmo sobre você!
A vejo sorrir e balançar a cabeça.
- Você acha que não o amo? Ou que nunca o amei? Você ainda tem dúvidas Pedro?
Dou de ombros.
- Suas atitudes não foram de uma pessoa que ama! - falo sentindo a raiva voltar pra mim. - Foi fácil pra você lá na França! Você tinha seu filho de volta, sua vida de volta! Os bailes que amava, as pessoas que gostava! - falo e a vejo me olhar incrédula. - Pelo jeito foi tão fácil, que até seu casamento você resolveu dar uma segunda chance, não é mesmo?
- Você não faz ideia do que está falando!
- Ah não sei? - sorrio sarcástico. - Eu conheci Pierre hoje! Muito, muito lindo seu filho mais novo! Imagino a felicidade que não foi pra Eugênio, depois de tanto tempo, quando vocês resolvem se dar uma nova chance, você engravida e ambos tem mais um menino.
- Para! - ela fala.
- Sabe o que eu pensei, só no que eu pensei quando o vi? - falo a olhando, e vejo as lágrimas em seu rosto, assim como estavam soltas pelo meu já - Nosso filho teria quase a idade dele!
- Para!
- E eu me senti mais ainda um miserável, Luísa! Um miserável que perdeu tudo o que mais queria!! Porque eu fiquei aqui, sozinho, lidando com sua ausência, sua partida. Lidando com a tristeza das minhas filhas, uma tristeza essa que eu me sentia culpado por ter causado! Porque eu me sentia culpado por sua partida sem um adeus pra elas!
- Você não ficou sozinho! - ela fala com a voz rouca.
- Eu fiquei sem você! Eu vi meus dias passando, minhas cartas voltando! Minhas filhas tinham a vida delas, a casa delas! Eu não tinha nada! Nem amor mais eu tinha! Você sabe há quanto tempo eu não durmo, Luísa? - pergunto a olhando e vejo que ela não tem a resposta. - Então sim, sua vida foi infinitamente mais fácil que a minha nesses 5 anos!
Coloco a mão dentro do bolso, sentindo o cavalinho de Pierre ali. Pensei muito em não devolve-lo, em te algo daquele menininho pra mim. Ele havia sido um dos poucos a arrancar um sorriso de mim em todos esses anos! Mas não era certo. O tiro do bolso, e me abaixo o colocando sobre a mesinha.
- Pierre esqueceu lá na Câmara hoje! Diga pra ele que o "Pedo" veio devolver.
E sem mais querer saber de nada, ou querer continuar jogando as coisas na sua cara, eu passo por ela indo em direção a porta.
- Pedro? Obrigado! - a escuto dizer, e meu corpo para com a mão na maçaneta. - Obrigado por ter salvado a vida dele! Por ter salvado a vida do nosso filho!
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• Au Revoir •
RomanceUma pequena loucura que se passa após o término Pedrisa. Se eles dissessem não, mas o destino dessisse sim! E um novo pequeno inesperado viesse confirmar isso?