Capítulo 4: Aline

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         Os três sóis cresciam às 6:45 em Salem, o calor gerado em volta deles abraçava a cidade, esquentando rapidamente todas as casas, e o brilho que geravam reluzia no enorme palácio de mármore, casa dos membros da Classe Regente. A construção foi erguida com o simples propósito de significar: "proteção" e "justiça", além de poder ser vista de qualquer lugar da cidade.

          A temperatura começava a subir, marcando os 28,5 graus celsius nos termômetros da cidade, algumas lojas e mercados se preparavam para mais um dia, o barulho de portas e tendas abrindo era ouvido pelas ruas da periferia, o cheiro de frutas sendo expostas e de alimentos sendo feitos viajam pelo ar, alcançando todas as direções daquela área. Algumas donas de casa saíam às 17 horas e 26 minutos, levando sacos de palha e voltando com maçãs, pães, bananas, alfaces, uvas, e até tortas embaladas em plásticos.

          Ao sul da periferia fica um pequeno amontoado de casas de madeira, chamado popularmente como: "a boca de cão", um lugar onde as residências são todas muito próximas umas das outras, inclinadas e apoiadas para poderem se sustentar. O cheiro nessa região é extremamente desagradável, tanto que os moradores mesmo acostumados ainda assim não conseguem deixar de sentir; praticamente não há serviços básicos por ali, como saúde – este principalmente – e educação. As casas mais dignas estão situadas no meio entre essa região e a outra parte da periferia, e mesmo assim carregam o cheiro e identidade da boca do cão.

          Grande parte dos moradores desse pedaço de terra são pessoas normais, e a outra parte são Escavadores. Escavadores são o outro tipo de "abençoados" que existem em Salem além dos Anjos, e possuem como características seus corpos extremamente resistentes e definidos e unhas tão grandes e afiadas que se assemelham a garras. Os Escavadores são também conhecidos como "diabos" ou "demônios", uma nomenclatura que os compara aos Anjos, que, enquanto uns possuem asas e poderes dignos de deuses, outros são bastante brutos e com uma forte ligação com a terra, segundo a igreja. A desigualdade por parte dos Escavadores é tanta que mesmo com suas enormes capacidades físicas ainda sofrem opressão por parte da sociedade de Salem, forçando alguns até de se afastarem da população.

          Uma figura encapuzada surge andando pela rua principal da boca de cão, carregando consigo duas sacolas, uma em cada mão, e cobrindo quase todo o seu corpo, exceto a parte debaixo de suas pernas e seus pés, que a propósito estão descalços. As ruas da boca de cão são incrivelmente sujas, o chão é uma mistura de terra preta com uma lama marrom fria e cheia de embalagens e restos de alimentos, mas o encapuzado anda como se estivesse tomando cuidado para não pisar em nada que possa lhe sujar – não de maneira perceptível. Dois homens surgem na frente desse indivíduo, um deles segurando um bastão cercado com um arame farpado, e outro com um soco inglês enferrujado na mão direita, ambos usando roupas rasgadas e sujas e com rostos igualmente mal tratados.

- Ei seu sujeito! – O homem com soco inglês diz – Você tá carregando compras aí? – O encapuzado levanta um pouco a cabeça para olhar a frente, mas não o bastante para que possam ver seu rosto, e nada diz

- Eu acho que ele é mudo, irmão – Disse o homem que segura o bastão – Então acho que ele não poder gritar por socorro.

- É o que parece... – O outro concorda com o companheiro – Pega ele! – O homem grita e os dois avançam em direção ao encapuzado.

          O sujeito de capuz é relativamente mais alto que os dois homens, mas aparenta ser um pouco magro, e mesmo assim seus únicos movimentos naquele momento foram abaixar para colocar as sacolas no chão e fazer uma pose de batalha, com uma mão para frente e a outra para trás do corpo. O homem com bastão investe tentando atacar com o objeto pelo meio do indivíduo, mas este simplesmente se abaixa e lhe chuta as pernas, o fazendo cair e rolar para a esquerda. O de soco inglês surge pela direita tentando acertar um soco no rosto do encapuzado, que o mesmo desvia e segura sua mão, agarrando forte, girando em 360° graus naquela posição e o arremessando para uma das casas por ali, que ao se chocar faz um barulho de colisão com madeira. O homem que havia caído se levanta, segura o bastão e tenta acertar o braço do encapuzado, e novamente desvia do golpe, dessa vez chutando a mão do marginal, o fazendo soltar a arma, e em seguida desfere alguns socos fortes e pesados no rosto do homem, que fica inconsciente no mesmo instante.

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