Capítulo 22

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A minha vida tinha sido planejada por mim até os mínimos detalhes, desde o dia que fui adotada e a esperança voltou a brilhar dentro de mim - é tanto que não tenho grandes recordações da minha infância antes dos meus 13 anos de idade. Eu sonhava em cursar medicina, e trabalhar como uma médica sem fronteiras. Porém, agora eu estou dentro de uma van com homens armados até os dentes, e com o meu corpo todo machucado e dolorido. Me pergunto o que fiz de errado para me desfiar tanto dos meus objetivos, dos meus sonhos.

Assim que a van para, as portas de trás se abrem e mostra uma praça repleta de pessoas sorrindo felizes com suas vidas perfeitas – eu as invejo tanto, e ao mesmo tempo sinto um certo ódio por elas. Um dos homens me arrasta para fora do veículo e escuto um grito inconfundível chamando pelo meu nome. A voz é tão clara quando a luz forte de um poste que cega os meus olhos, quem está me chamando é o Alex – e quanto eu implorei aos céus que ele me salvasse como naqueles filmes clichês da Disney.

Mas, ele não veio.

Ninguém veio.

Mesmo assim, eu grito o seu nome com todas as minhas forças, com todas as minhas esperanças de que tudo isso tenha sido um grande pesadelo. Minha voz não é tão alta como a dele, mas isso não importa só quero desesperadamente chegar até ele, até os seus braços fortes e quentes – mesmo sabendo que eles não me pertencem. Cambaleio até finalmente ser acolhida em seu abraço tão aconchegante, e enfio a minha cabeça em sua camisa de rock velha, sentindo aquele mesmo perfume de antes.

- Nunca mais... saia de perto de mim, entendeu? - ele sussurra com seu habito tão fresco em meus ouvidos, e meu corpo arrepia por inteiro.

- Uhum... - murmuro e desabo em lágrimas, sujando toda a sua camisa. Ele, gentilmente, acaricia os meus cabelos e beija o topo da minha cabeça.

Pelo conto do olho vejo a van que me trouxe até aqui indo embora com a mesma velocidade que veio. Alex se afasta de mim tentando alcança-los, mas eu sei que não adiantara nada correr atrás deles. Então, puxo o braço do loiro e balanço negativamente a cabeça - não quero que ele se afaste de mim. Ao longe, noto o Miguel se aproximar com sua expressão séria de sempre, mas desta vez um pouco triste.

- Vamos para casa, agora – diz Alex entrelaçando os seus dedos nos meus.

Eu não digo nada, apenas balanço a minha cabeça positivamente e ele me leva em direção ao carro de Miguel. Porém, continuo mancando muito e assim que o loiro percebe, o mesmo se agacha indicando para que eu suba nas suas costas. Fico um pouco envergonhada, mas aceito a sua ajuda e noto que o Miguel nos encara ainda mais sério que antes, quase parecendo estar com raiva. Logo, eu desvio o meu rosto, o encostando na camisa de Alex para sentir novamente o cheiro tranquilizante da mesma.

Gentilmente, o loiro me coloca no banco de trás do carro e não demora muito para começarmos a ir em direção ao galpão do Yon. Miguel, de vez enquanto me observa pelo retrovisor e eu dou um sorriso de canto de boca, para deixa-lo mais aliviado em relação a minha condição. Como estou com saudades dessa atmosfera de proteção e segurança que só ele proporciona. Sei que foram poucos dias que passei fora, mas pareceram uma eternidade, extremamente, torturante e angustiante.

- Os seus pais voltaram – diz Alex me puxando dos meus pensamentos. - Quer ir vê-los?

Antes estava tão esperançosa com a volta dos meus pais, mas eles demoraram muito e chegaram tarde demais. Acho que não há muito que eles possam fazer contra o Louis, não existe ninguém que consiga impedi-lo. Respiro fundo e olho para um Alex com a mesma expressão que tinha antes, a qual acha que poderá solucionar o que é insolucionável.

- Não, agora não - respondo secamente.

O silencio toma de conta do lugar, o loiro está com uma cara de dúvida e surpresa, e Miguel fixa seu olhar em mim novamente.

O Que Os Olhos Não VeemOnde histórias criam vida. Descubra agora