Capítulo 17

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A imagem de Sara sendo sequestrada não sai da minha cabeça, além disso não tive coragem de voltar ao galpão e encarar todos. Estou deitado no sofá da casa da avó de Theo, tentando tirar forças do além para sair dali e enfrentar a dura realidade. O cabeção está na cozinha já faz um tempo, essa é a hora perfeita para ir embora sem que ele me veja – nem sei porque estou sendo tão cauteloso, esse cara nem merece a minha atenção.

Apesar de ainda não ter pensado exatamente no dizer a eles, também não pretendo me esconder para sempre. Assim, que levanto com dificuldade e vou em direção a porta, o Theo aparece do nada como se já soubesse que eu iria fazer isso.

- Onde pensa que vai? - diz ele rapidamente vindo até mim e agarrando o meu braço. - Você ainda está machucado...

- Quem você pensa que é? - interrompo ele, o encarando com desprezo. - Não fique achando que pode mandar em mim, só porque me tirou da beira da estrada.

Ele me solta e serra os punhos.

- Estou indo embora, obrigado pelos curativos – falo abrindo a porta.

- Por favor, Alex acredite em mim – ele vira o rosto, provavelmente, escondendo seus olhos marejados. - Sei que fui um babaca com você, que te feri muito. Mas, eu realmente quero te ajudar... sei que você não fez nada do que andam falando...

Não acredito que Theo Garcia, o ser mais tóxico que já pisou por essas terras, o mesmo que sempre reafirmou tantas vezes o quanto é macho, está na minha frente prestes a se desmanchar em lágrimas para me pedir perdão. Só podia ser uma grande piada do universo mesmo.

- Onde estão as câmeras? - fala com tom de ironia, olhando para os lados. - Porque só pode ser brincadeira.

Ele continua com o rosto virado, sem ousar me olhar nos olhos. E num impulso de raiva puxo a gola de sua camisa, deixando nossos rostos a poucos centímetros de distancias um do outro. Sinto meu coração saltar levemente ao estar tão próximo dele - não podia negar que o otário é bonito e ainda me atrai.

- Se você quer me ajudar, me leva para casa do Yon.

- Yon, aquele seu ex? - nossos olhos finalmente se encontram, e quase me perco na imensidão dos seus lindos olhos verdes.

Estaria mentindo para mim mesmo se não admitisse que ainda sinto algo por esse verme, infelizmente não posso controlar as batidas aceleradas do meu peito – eu só posso ser muito masoquista mesmo. O empurro para trás, esperando que ele não percebesse minha confusão e confirmo com a cabeça a pergunta dele.

- Ok, mas você ainda está todo machucado... - o encaro com desgosto e o mesmo apenas bufa. - Vou pegar a caminhonete da minha avó para te levar lá.

Assim ele estica o seu braço em direção a minha cabeça, para pega um molho de chaves num chaveiro atrás de mim – meu coração dá outro salto. Depois o mesmo abre a porta e vejo a parte exterior da casa, o lugar é um pacato sítio afastado da cidade. Há muitas árvores frutíferas espalhadas por todo o lado e alguns animais de pequeno porte, como galinhas, porcos e cabras em seus cercados.

Aos poucos vou recordando de alguns momentos alegres da nossa infância, quando passávamos o dia inteiro brincando das mais diversas brincadeiras – isso me deixa levemente triste, pois depois dessa época deixamos de ser os mesmos. Theo vai até um grande armazém ao lado da casa, no qual está a velha caminhonete azul de sua avó. Na parte de trás da mesma, está a minha moto cheia de arranhões e amassada na lateral - dói só de leva-la assim.

Entro no veículo e vou mostrando o caminho para chegar no galpão. Ainda bem que vamos todo o trajeto sem trocar uma palavra se quer, o que me dá um bom tempo para pensar no que dizer a todos. Não sei se contar a verdade nua e crua seria a melhor opção no momento, mas também não pretendo mentir para eles. Logo, terei que dá uma boa explicação do porquê termos ido sozinhos enfrentar aqueles desgraçados, a única escolha que tenho é, realmente, assumir que tudo foi por minha culpa.

O Que Os Olhos Não VeemOnde histórias criam vida. Descubra agora