Capítulo 23

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Eu me acordo no susto com Yon me balançando com uma expressão de espanto no rosto. Ainda atordoado eu tento me localizar, e noto Joane sentada nas escadas com as mãos na cabeça. Olho para os lados procurando pela Sara, mas não a vejo em lugar nenhum. Logo, sinto um arrepio percorrer a minha espinha.

- O que aconteceu? - minha voz quase não sai.

- A Sara sumiu junto com a sua irmã - responde a médica sem olhar para mim, ela ainda está com as mãos em sua cabeça.

- O quê?! - grito me levantando com um salto, e corro até o quarto de Yon. A cama está vazia, mas as coisas da Sara e de minha irmã ainda estão no mesmo lugar.

Não consigo acreditar que elas desapareceram assim do nada, sem que ninguém tenha notado. Então, me vem uma possiblidade inacreditável em minha mente, que Sara tenha nos traído e isso explicaria a súbita decisão de soltarem ela – pensar nisso faz meu estomago embrulhar, ela não faria isso despois de tudo o que passamos. Me ajoelho e cerro as minhas mãos com tanta força que acabo ferindo as minhas palmas das mãos. Assim, sinto alguém tocar o meu ombro e vejo que é o Yon.

- Vai ficar tudo bem – ele sorri, mas sei que não é um sorriso sincero, é apenas para me reconfortar. Porém, isso só me deixa com raiva e frustação.

- Não, não vai ficar tudo bem – grito com o Yon, que me olha assustado e se afasta de mim. Faz muito tempo que eu não grito com ele. - Minha irmã desapareceu... ela é a única pessoa que restou da minha família e agora ela sumiu... droga, a minha única função era protege-la.

- Agora não é hora de pirar – diz Miguel que também está ao meu lado. - Deve ter uma explicação para tudo isso, a Sara não...

- Nos trairia? - eu completo a frase dele com a minha voz carregada de raiva, e o mesmo apenas desvia o rosto. - Droga, droga eu deveria ter percebido que tinha algo muito estranho com a Sara, e por que do nada os desgraçados mudaram de ideia e soltaram ela...

- É da Sara que estamos falando – Miguel pega na minha gola, me erguendo do chão com facilidade. Eu empurro a sua mão para me desprender, e tento me controlar para não socar a cara dele.

- Você está tão apaixonado por ela, que não consegue aceitar que ela nos traiu...

Miguel disfere um soco em meu rosto que me faz cair no chão, cuspo um pouco de sangue e me levanto rapidamente, lhe dando um soco também que não parece ter sido tão forte assim. Antes do moreno revidar novamente, Yon se põe em minha frente com uma expressão séria, que há muito tempo não via.

- Não é hora de brigarmos – diz ele me empurrando para longe de Miguel. - Temos que pensar no que fazer agora.

O Yon está totalmente certo, se eu sucumbir ao ódio e a raiva novamente não terei como salvar a minha irmãzinha. Então, limpo a minha boca e vou em direção a cozinha, para beber um pouco d'água e tentar me acalmar. Eu aproveito para ligar para o Marcelo, e informa-lo do que está acontecendo – e espero que ele faça algo. Joane se aproximando de mim e noto que seus olhos estão vermelhos, provavelmente, ela estava chorando – me surpreendo um pouco ao vê-la assim, pois sempre pensei que ela lidasse com situações como essa de forma fria e calculista.

- Me desculpe, eu estava do lado delas e não percebi nada - diz ela cabisbaixa com suas mãos cerradas. - Se eu...

- A culpa não foi sua, não tínhamos como prever que isso iria acontecer – ponho minha mão sobre o ombro dela.

- Você está ligando para o seu pai? - indaga ela e eu apenas confirmo com a cabeça

Miguel vem até onde estou com uma expressão bem mais calma que antes, e eu apenas o ignoro - já é a segunda vez que ele me dá um soco, e eles não são nenhum pouco fracos.

O Que Os Olhos Não VeemOnde histórias criam vida. Descubra agora