Abriu os olhos, olhou em volta, confuso por alguns segundos e então se lembrou de tudo. O viajante desejava que fosse apenas um pesadelo e que acordasse logo, mas era real.
Há alguns dias, num fim de tarde, passava em uma estradinha, rumo a Vilarinho, quando encontrou um homem tentando consertar a roda de uma carroça, que havia se soltado, e se ofereceu para ajudar, depois de alguns minutos a carroça estava nova em folha e o homem pôde seguir viagem..
– Obrigado.- agradeceu o dono da carroça – Me chamo Tadeu e você?
– Sou só um viajante, sem nome nem rumo.
– Como um cigano? Para onde vais?
– Prefiro viajante. Vou para a cidade mais próxima.
– A pé?
– Sim.
– Só chegará na cidade mais próxima amanhã, tanto a pé quanto de carroça.
– Não tem problema – disse o viajante -, eu durmo na estrada, já me acostumei.
– Venha, eu moro numa fazenda aqui perto, você pode passar a noite lá.
– Não quero incomodar e o senhor não devia levar um estranho para a sua casa.
– É uma forma de agredecer pela ajuda com a roda da carroça e você não parece perigoso.
– As aparências podem enganar.
– Vou arriscar, vamos!
Subiram na carroça e foram para a casa de Tadeu que era dono de uma fazenda, onde vivia com sua mulher Tereza e sua filha Rosinha. O viajante jantou com a família e foi levado ao quarto de hóspede onde passou a noite.
Quando amanheceu estava chovendo e o viajante foi convidado a permanecer na fazenda até a chuva passar. Chovia de manhã, estiava à tarde e voltava a chover à noite com isso o viajante ficando.
Ajudava Tadeu nos trabalhos da fazenda, ajudava Tereza na cozinha e passava horas conversando com Rosinha, que tentava sem sucesso conquistá-lo. No quarto dia descobriu que havia cometido um erro ao ir para aquela fazenda.
Rosinha, cansada de não ser correspondida, armou um escândalo, acusando o viajante de tê-la beijado à força. Os pais dela acreditaram, Tadeu quase o esganou, depois de muita discussão Tereza sugeriu que os dois se casassem. O viajante recusou tal sugestão e ia embora quando foi barrado, “ou casava ou morria” disseram – lhe.
Esperou a noite e quando todos dormiam fugiu, mas foi denunciado pelos cachorros e agora ele estava ali, acordando naquele quarto, amarrado à cabeceira da cama. Não casaria e pensava em uma forma de escapar quando a porta abriu, soltaram suas mão, deixaram café e uma roupa para vestir, casariam naquela tarde.
A tarde chegou sem demora, foi levado para a sala, lá estavam a noiva, os pais da noiva e um padre. O viajante implorou:
– Por favor acreditem em mim, eu não fiz nada com a Rosinha.
– Nossa fia é moça de respeito, ingênua e você se aproveitou dela, agora vai casar sim.
– Tão de respeito que ficou correndo atrás de mim o tempo todo, só faltou… – PAF! O viajante levou um sopapo de Tadeu:
– Cale-se! Pode começar padre. – disse o fazendeiro.
O viajante agradeceu silenciosamente a Tadeu pelo tapa, havia lhe dado uma ideia. Começou a tremer, caiu no chão se debatendo, com a língua pra fora, os olhos revirados, o padre disse que era o coisa ruim se apossando dele, a noiva começou a chorar, botaram ele na carroça e levaram pro hospital.
Quando foi atendido contou a um enfermeiro que estava sendo mantido em cativeiro e o convenceu a ajudá-lo a fujir. Quando a família do fazendeiro foi informada de que ele estava bem, que era apenas nervoso e seu Tadeu disse que ficaria com o futuro genro, o enfermeiro disse que não era permitido acompanhante e que ele teria que esperar do lado de fora da enfermaria. Seu Tadeu zangou-se, mas depois de uma longa discussão obedeceu ao enfermeiro.
Bem mais tarde o enfermeiro entregou uma roupa de enfermeiro para o viajante, ele a vestiu e saiu do hospital sem ser reconhecido. Quando perceberem sua fuga já estava longe. Nunca mais o veriam.
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As histórias do viajante
Historia CortaDepois de uma desilusão amorosa, e inspirado em um amigo de seu pai que viajava por muitos lugares como mercador, um jovem que vive em Portugal, no séc. XIX, resolve sair por aí, de cidade em cidade e sem destino certo. Em uma série de contos esse l...