LOS RABOS

18 6 17
                                    

Florbela era capaz de deixar qualquer homem hipnotizado com sua beleza estonteante e o viajante não era a exceção. Ouvira em Pedroche que depois da vila de Pozoblanco tinha uma fazenda onde precisavam de gente para a colheita de milho e ele fora para lá, passava pelo centro de Pozoblanco quando resolveu comer alguma coisa, entrou numa taberna movimentada e Florbela foi quem o atendeu:

- ¿Qué vas a querer? - ela perguntou com um sorriso enorme.

- O que a senhorita quiser - ele respondeu sem tirar os olhos do decote avolumado dela.

- ¿Eres de Portugal? - O viajante, a muito custo, desviou o olhar do decote da mulher para o belo rosto dela e sorriu.

- Sí.

- ¿Bien, la especialidad de la casa es el rabo de toro, puedo servir?

- Pode.

- ¿Qué tal un amontillao para acompañar?

- Claro.

- Ya vuelvo. - Florbela foi atender o pedido do viajante e ele a seguiu com olhos brilhantes que a observaram de alto abaixo, fixando-se no meio até ela sumir de vista.

Meia hora depois ela voltou com um prato cheiroso e bem cheio de carne bem temperada com alguns acompanhamentos numa mão e uma taça e uma garrafa de vinho na outra, colocou na mesa e desejou - lhe bom apetite. O viajante sentiu um desconforto no estômago ao ver aquela refeição, pensou em devolver, mas não conseguiu, agradeceu à mulher e se serviu. Quando ele terminou, pegou as moedas que tinha no bolso e contou - as tristemente, não daria para pagar nem o cheiro daquela comida.

O viajante olhou ao redor, ninguém prestava atenção nele, levantou - se e disfarçadamente foi para a saída da taberna, mas quando alcançou a porta uma voz familiar perguntou:

- ¿A donde vas portugués? - Ele se virou e viu Florbela com as mãos na cintura e ela não sorria.

- Eu...

- No me importa - ela o interrompeu. -  Antes de irte, paga por lo que comiste. - Ela estendeu a mão aberta para ele.

- Houve um pequeno engano no meu pedido...

- Si no tienes un dinero, tendrás que pagar de otra manera - Florbela avisou, imaginando que aquele português estava tentando sair sem lhe pagar nada.

- Que maneira? - o viajante desconfiou. Florbela pensou por alguns minutos e lhe respondeu:

- Vas a quedarte y librarme de algunos borrachos que aparecen aquí de vez en cuando.

- Como um guarda?

- Eso.

- Por quanto tempo?

- Una semana.

- Está bem - o viajante concordou, não tinha outra opção.

Três horas depois um homem embriagado entrou na taberna e agarrou uma das moças que trabalhavam com Florbela, o viajante o empurrou e pediu que se retirasse do estabelecimento, o homem, que era um pouco mais alto que o viajante, o olhou de cima a baixo com o sorriso de desprezo e ordenou que não se metesse em seu caminho. O homem foi em direção à moça, o viajante o seguiu, o puxou pelo braço insistindo para que saísse, o bêbado já irritado deu um soco violento no viajante que caiu por cima de uma cadeira e desmaiou.

O pobre coitado foi acordado com uma jarra de água e quase morreu engasgado com ela, seu olho já estava vermelho e começava a inchar, ele mal conseguiu abri-lo, quando o fez viu Florbela em cima de si a sorrir:

- Creo que ponerte en guardia no fue una buena idea. - O viajante apenas fechou os olhos e gemeu, sua cabeça doía muito.

- Al menos lo intentaste. Consideraré su comida como pago. Puedes irte si quieres. - Ao ouvir isso o viajnte pôs -se de pé, num pulo, e cambaleou para longe dali o mais rápido que pôde, não viu o bêbado que o batera, nem queria. Aquilo era tudo culpa dos rabos, do touro e da mulher, e agora ele odiava rabos.

As histórias do viajanteOnde histórias criam vida. Descubra agora