Cap 4

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Elain

Escuridão, não havia nada além de escuridão, ninguém iria vir ajudá-la.

Em sua primeira tentativa de respirar, o líquido prata que fluía como água entrou por suas narinas e desceu queimando como chamas até seus pulmões. Podia ouvir e sentir cada osso, cada membro de seu corpo quebrando como galhos secos, ela queria chorar mas as lágrimas não vinham, queria gritar mas ninguém a ouviria, ela só poderia desejar a morte para que a dor parece, estava sendo dilacerada viva.

Respirar, respirar era impossível, se debatendo com o pouco de força que lhe restará ela implorava em sua mente

Por favor! Me mate, acabe com isso!
Por favor! Me mate!
Me deixe morrer!

Era a única saída que imaginava, mas parecia que aquela coisa a queria viva, a queria para si e ser parte dela, ela conseguia ver o passado, presente e futuro em questão de segundos, a magia estava entrando e se instalando em cada célula de seu corpo como parasita. Ela o sentia entrando em sua mente, tomando conta de um espaço muito profundo dela.

Visões como um milhão de fragmentos circulavam por toda parte, uma explosão dourada, fogo queimando exércitos inteiros vivos, um palácio de vidro estilhaçando, uma luz estrelar branca.

Uma voz gutural e antiga, sussurrava

Você é minha agora
Eu faço parte de você
Irei te encontrar e seremos um só.

Braços a puxaram para cima, seu corpo bateu contra o chão de mármore branco, estava frio e tinha olhos negros pousados nela, os olhos de Hybern, que se transformaram nos olhos da morte.

Com um puxão de ar Elain saltou da cama buscando respirar. Lágrimas cobriam seu rosto por completo, pânico se espalhava por seu corpo. Seus olhos varriam o cômodo escuro tentando se lembrar de onde estava.

Casa, estava na casa do vento.

Ela se lembrou como se finalmente tivesse retomado a consciência levando as mãos ao pescoço, estavam encharcados de suor.

Havia sido mais um pesadelo, uma lembrança de seu tormento, seu corpo inteiro estremeceu. Ela não conseguiria voltar a dormir esta noite. Respirando profundamente ela se virou e colocou seus pés no chão de mármore que estranhamente estava aquecido, após a festa todos decidiram se hospedar na Casa do Vento para que não houvessem problemas na descida devido a embriaguês.

Elain não conhecia muito de local, estivera ali poucas vezes e não fazia ideia de onde os labirintos de corredores a iriam levar, estava em busca da cozinha e talvez procurar alguns ingredientes para cozinhar pães e fazer chás para que amanhã cedo todos curassem suas dores de cabeça devido ao execrado de vinho.

O ar gelado da noite acariciava seu rosto, Velaris poderia ser bonita de dia, mas a noite... Era uma visão impecável, a Casa do Vento tinha janelas que iam do chão ao teto dando livre acesso àquela vista impecável, em toda sua sua vida como humana jamais havia visto algo tão formidavelmente maravilhoso, o que a fez pensar que realmente as outras Cortes também guardassem paisagens de tirar o fôlego, talvez um dia gostaria de conhecer cada uma delas.

Estava tão perdida em seus pensamentos que quase não notou os minúsculos cochichos familiares que vinham de um lugar distante no corredor dentro da casa, era como se várias vozes sussurrassem algo. Sua curiosidade se aguçou e fez com que decidisse seguir os pequenos ruídos na escuridão até a sala, movendo-se tão silenciosamente quanto um felino, ela ajustou sua visão para tentar enxergar em meio ao breu conforme os sussurros iam aumentando, a cada passo se tornavam mais altos e nítidos, mas ainda não conseguia distinguir que língua era aquela.

Corte de flores e sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora