Cap 7

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Azriel

A noite era gélida, Elain esfregava seus braços expostos, não havia um casaco para lhe oferecer, talvez se ela o permitisse carregá-la eles chegariam mais rápido na casa.

Havia ido ao Rita's naquela noite atrás de uma distração e não esperava dar de encontro com ela, principalmente conversando e lançando seus doces sorrisos a um macho que claramente gostaria de levá-la para a cama. Aquilo o consumiu de ciúme, havia ficado parado por alguns minutos os observando e se perguntando se deveria interrompe-los, mas ele não tinha aquele direito, ela estava longe de pertencê-lo e poderia ir para cama com quem bem entendesse, mesmo que apenas a ideia dela montando outra pessoa o fizesse bufar de ódio. Estava prestes a ir embora quando notou aquele bebado imundo se aproximar e toca-la, ele o mataria por isso e apenas pura força de vontade o impediu de fazê-lo.

Estavam quase alcançando as margens do rio Sidra quando a observou, seu rosto era indecifrável mas seus olhos estavam marejados, ver aquilo despedaçou seu coração e o fez interromper a caminhada.

- Elain - Ela continuou andando como se não o ouvisse, ele tocou seu ombro para trazê-la de volta de seus pensamentos - Gostaria de conversar?

Girando em seu toque finalmente pode ver que ela estava se contendo, lágrimas agora corriam por toda parte, como uma barragem que havia se quebrado.

- Não deveria me sentir culpada mas me sinto - Sua voz saia esganiçada - Não entendo o porque.

Azriel se aproximou relutante, ele não se permitia pensar em toca-la depois da ameaça de Rhys, um nó se formou em sua garganta e tomou coragem para emoldurar o rosto dela com suas mãos.

- Nunca será sua culpa que existam pessoas desprezíveis como ele. - Disse limpando cada lágrima.

Ele observou sua pele deformada, suas cicatrizes contra aquele rosto perfeito e não pode evitar a sensação de se afastar, ele recolheu uma de suas mãos e antes que pudesse abaixar a outra, Elain a segurou contra seu rosto.

Os dedos delicados pressionaram sua palma contra a bochecha, um sinal para que não recuasse o toque. Seus grandes olhos castanhos o encaram e um leve sorriso estampou seu rosto como se tudo estivesse bem.

Ela era forte e neste momento também percebeu que ela era boa em esconder sua dor através de uma máscara, assim como ele.

*

Elain

Alguma coisa estava errada, aquilo não era comum, ela estava de volta dentro do Caldeirão, imersa, mas dessa vez não estava revivendo a dor, era como uma espécie de gestação, apenas flutuava nas águas de prata quando braços a puxaram de lá, mas não eram os guardas de Hybern, quando foi lançada ao chão de mármore o salão estava vazio.

Não havia ninguém, não havia os olhos do rei, nem sua família, apenas ela e um chamado.

Era como uma canção que já havia escutado antes, vozes jovens e velhas, femininas e masculinas, todas a seduzindo, a envolvendo, suplicando que as seguissem.

Ela se ergueu com dificuldade, as vozes a chamavam por um corredor escuro. As sombras pensou, aquelas vozes, já as tinha ouvido, as sombras queriam lhe dizer algo.

Ela as seguiu escuridão a dentro e cada passo conseguia ouvir mais nitidamente, uma língua antiga que talvez apenas os Deuses antigos pronunciassem.

Havia uma porta ali, um ar frio como uma corrente de ar soprou sua pele enviando arrepios por todo seu corpo, as vozes estavam atrás daquela porta. Abaixando-se para ouvir entre a fechadura agora conseguia distinguir o que diziam.

Et vincam droyale
Noit chain et logun ayai
As gaion trucom

Seus olhos se abriram e ela encarou o teto de seu quarto, suor estava espalhado em sua testa, fôlego ofegante, seus lençóis foram chutados para fora da cama.

O caldeirão

Em um salto disparou para o corredor, precisava de ajuda.

*

Elain encarava suas mãos pousadas no topo de seus joelhos, estava sentada no grande sofá da sala de estudos. Rhys andava de um lado pro outro em frente a uma mesa de carvalho, Feyre estava ao meu lado esfregando minhas costas e Amren parecia prestes a voltar a dormir encostada em uma poltrona com seu robe de plumas.

Até que um baque soou da porta que quase fora esmurrada para ser aberta, Nestha atravessou como um raio em minha direção ainda vestida em sua camisola de cetim, Cassian e Azriel entraram logo atrás. O encantador de sombras estava com uma camisa branca que ressaltava os músculos de seus braços definidos e calças largas, jamais o vira antes em roupas de dormir, isso a afastou um pouco seus pensamentos e quase a fez rir.

- O que houve? - Nestha exigiu saber

- Elain teve um sonho, um pesadelo em Hybern, ela pediu para que eu entrasse em sua mente e ouvisse o que as vozes lhe diziam - Rhys falou em seguida, seu pomo de Adão se movia junto com uma veia que saltava em sua testa de preocupação.

- E o que disseram? - Nestha agora encarava a irmã buscando respostas

- Era uma língua antiga, mais antiga do que já havia estudado para traduzir sem ajuda, busquei nos livros do primeiro reinado de Deuses em Prythian - Ele disse esfregando o queixo e apontando para a pilha de livros sobre a mesa - Elas diziam:

Me encontre criança
Não deixem me usar novamente
Ou mundos iram se colidir

Todos pareciam confusos se entreolhando com o cenho franzido como se não soubessem o que aquilo significava. Após uma inalação profunda, Elain se levantou

- O caldeirão, ele estava falando comigo esta noite

- Não entendo, porque não senti nada? - Disse Nestha

- Talvez porque você tenha devolvido seus poderes a ele e agora ele tem apenas Elain - Rhysand respondeu pensativo - Precisamos falar com Drakon e Miryam

- "Não deixem me usar novamente" eles não haviam escondido a porra do caldeirão? - Cassian estava com os braços cruzados encostado em uma estante de livros

- Sim, mas pelo visto temos alguém com interesse em por suas mãos nele novamente.

De repente a visão de Elain caiu, turva quase se apagando, as vozes das pessoas que conversavam ao seu redor estavam distantes, como se estivesse dentro de um aquário, até que uma visão inundou sua mente

Um homem alado jogado ao chão, penas brancas saltavam a extensão de suas costas, sua túnica estava manchada de sangue por todas as partes, havia apenas uma tocha acesa sob uma coluna do templo, uma sombra escura se aproximou do guardião ensanguentado

- Diga onde ele está!

- Nunca!

A escuridão se intensificou em torno do homem ao chão, uma lâmina foi cravada em seu estômago e torcida lentamente arrancando gritos que ecoavam por toda parte.

Os olhos de Feyre a encaravam enquanto sacudia seus ombros como se para trazê-la de volta a realidade, todos na sala a encaravam como se ela fosse uma espécie de criatura mutante.

- Precisamos achá-lo imediatamente. - Foi a única coisa que conseguiu dizer

Corte de flores e sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora