Inglesa maldita

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Manhattan, 5 de dezembro de 2015.


Não, aquilo NÃO estava certo.
Ela tinha certeza que tinham marcado nove da noite. CERTEZA! No entanto, eram onze e quinze e cadê aquela inglesa maldita?
Seu coração estava apertado, ela estava tensa e com vontade, para variar, de gritar. Há tempos não se sentia assim. Passara a semana inteira procurando o vestido perfeito, a maquiagem perfeita, os sapatos mais bonitos, o perfume ideal... E nem tinha cem por cento de certeza que a outra iria.
E agora estava começando a desconfiar que estava certa. Ai, Murphy.

Primeira coisa: Passaram oito horas juntas e depois não se falaram por 365 dias. É muito, muito tempo.
Segunda coisa: O ano da inglesa podia não ter sido bom. Ou, na verdade, podia ter sido ótimo, mas talvez ela tivesse conhecido alguém ou sei lá, esquecido dela por qualquer motivo, e não tivesse achado necessário aparecer e fazê-la de babaca.
Virou sua taça de vinho – estava querendo ser chique ou ficar posuda e bonita – e deixou o dinheiro sob o balcão.

Estava com vontade de chorar. Pensou, mesmo sendo uma hippie maluca, que Lauren fosse diferente. Ela esmurrou Allison e a chamou de filha da puta, sabe? Isso tinha que significar algo bom. Mas, para variar, estava errada.
O frio estava cortante do lado de fora do bar, mas não nevava. Colocou suas luvas e olhou para o céu, na esperança que alguns flocos de neve caíssem sobre sua cabeça, e seria o suficiente para lembrar ainda mais da noite de um ano antes. Sentiu seu celular vibrar, mas demorou eras para encontrá-lo dentro de sua bolsa gigantesca.

- Alô - atendeu rapidamente, sem olhar direito para o visor.
Teve a impressão que a pessoa já ia desligar.
- Alô? - ela disse um pouco mais alto.

- Camila? - ouviu a voz que, mesmo um ano depois, conseguiria reconhecer de qualquer maneira. E seu coração acelerou idiotamente com isso.

- Lauren? - disse rapidamente, mas não estava a escutando direito devido ao barulho. É, talvez nem fosse...

- Olha, acho que meu sotaque é inconfundível - ela riu.

- Onde você está?

- Camz? - ela gritou. - Olha, eu não tô te ouvindo direito! Eu estou no aeroporto...

- Aeroporto? - ela gritou de volta.

- Meu vôo atrasou, só vou poder aparecer... - e então a voz se foi.

- Lauren? Lauren? - Camila berrou do outro lado da linha, mas sua resposta foi o irritante "tu tu tu" do telefone. - Merda!
Discou rapidamente para a última chamada recebida.

"O telefone chamado está desligado ou fora da área de cobertura".

- INFERNO! - gritou, quase tacando seu telefone à longa distância.
É claro que não ia dar certo esse encontro das duas. Tudo bem, se ela estava no aeroporto, é porque pelo menos estava vindo, e isso iluminou seu rosto com um sorriso besta. Então ela se importava, ótimo. Precisava dar um jeito de falar com a inglesa e saber quando conseguiria "aparecer".

Mas mesmo sem a neve, as ruas estavam congelantes, e ela resolveu ir para casa, porque ao que lhe parecia, não a veria naquele dia.

- Táxi - gritou para o primeiro veículo amarelo que apareceu, e felizmente, ele estava desocupado.

Discou para Lauren sete vezes enquanto estava dentro do táxi, ouvindo The Corrs enquanto um motorista que parecia árabe cantarolava empolgado com um sotaque carregadíssimo e seu perfume de quinta categoria muito, muito forte.
Ótimo, uma crise de espirros era tudo o que ela precisava.

- Oi, aqui é a Lauren. No momento não posso atender, mas você sabe o que fazer.

Biiiiiiip.

- Laur, é a Camila. Não sei onde você está e nem que horas vai chegar, mas estou entrando no meu prédio. Me liga assim que ouvir isso. Quer que eu te busque no aeroporto? Beijos e... Bom, feliz um ano vivas e inteiras para você - ela sorriu, como se a outra fosse poder ver isso.
Ai, como era idiota.

One Night Only - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora