Camila Cabello

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Manhattan, 5 de dezembro de 2014

Camila colocou seu gorro vermelho e correu na neve da 5ª Avenida. Começara a nevar mais cedo que o normal, e a paisagem quase translúcida lhe dava a sensação de paz, mesmo em meio a intermináveis buzinas e a um trânsito infernal comum naquela hora do dia. Seus pés a estavam matando, apertados por horas dentro daquelas botas Louboutin de salto finíssimo - mas ela não podia reclamar. Ainda que tivesse certeza que um dia teria uma síncope de tanto estresse, trabalhar na editoria de moda da Vogue America sempre foi seu sonho - um sonho menos glamoroso quando tornou-se realidade, isso é bem verdade.

Aquele dia tinha produzido um ensaio de tendências para a moda verão, ao ar livre. Tente fazer isso no meio da neve, com modelos ameaçando morrer de hipotermia.
Mas, ao menos, ela não era nenhuma Andy Sachs, em O Diabo Veste Prada. Amém.
Nada mal para uma garotinha de Cuba, que desafiou a família toda quando decidiu que não seria enfermeira, que não trabalharia no Hospital Geral e que faria Moda na Universidade de Columbia. Seu pai não tirara seu chapéu para isso. Mas Camila nunca ligou, sempre teve certeza de que estariam todos em sua formatura, o que de fato aconteceu.
Viver em Nova York sempre fora seu sonho, desde pequena. Não voltaria jamais para aquele fim de mundo. 

- Ufa! - exclamou ao sentir o ar quente da Starbucks encher seus pulmões.
O dono da Starbucks deveria ser canonizado. Aquele cara sim era um gênio. - Um caramelo macchiato e um mocha branco, por favor! - sorriu para a atendente, já sacando o celular da bolsa.
Ela atendeu no terceiro toque.

- Oi, amor! – Camila disse digitando a senha de seu cartão de débito com a mão livre. - Que saudade!
Ouviu a risada rouca que tanto gostava do outro lado da linha.

- Nós nos vemos essa manhã, Karla. - ela disse rapidamente.

- Está ocupada? - Camila indagou. Achou estranha aquela resposta. Certamente, Allison sua namorada há quatro anos e noiva há um ano e meio, estava atolado de processos para solucionar em sua frente? Ela a imaginou de vestido, atrás de uma pilha de papel, e achou aquilo incrivelmente sexy.

Lembrou da vez que elas fizeram certas coisas na mesa daquele escritório. Com direito a jogar todos os papéis para o alto, como nos filmes. Riu sozinha de sua idiotice quando a ouviu chamar do outro lado da linha.

- Opa, desculpa, me distraí aqui com os pedidos - disse rapidamente, chacoalhando a cabeça. - Quer seu Mocha com muita canela, como sempre? Eu estou aqui na esquina do seu escritório, vou passar aí para...

- Eu estou em casa - ela disse, rapidamente.

- Em casa? Wow, essa é nova - ela riu. - Nossa, isso é incrível, amor, finalmente te deram uma folga! Acho que seu café vai chegar meio frio, infelizmente... Mas vou tentar correr! O que acha de pedirmos tailandesa hoje? Estou morrendo de vontade de comer aquele frango de tangerina, espero que dessa vez não venha laranja, se não eu...

- Camila! - Allison a interrompeu. Camila tinha acessos e costumava falar mais que os cotovelos do nada. Ela não riu. - Vem logo para casa, estou esperando você... Amor.

Ao segurar os dois copos com certa dificuldade, devido ao telefone, Camila teve certeza que havia algo muito errado com Allison.
Ela a conhecia mais que a si mesma. Moravam juntas há dois anos, conviviam o suficiente para que ela entendesse, por seu tom de voz, que as coisas estavam estranhas. Respirou fundo, sentindo um súbito arrepio na espinha.

- Eu estou indo - disse, quase em um sussurro, e jogou o aparelho na bolsa.
Não colocou canela no café dela.

One Night Only - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora