Lauren Jauregui

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 Manhattan, 5 de dezembro de 2014

- Senhorita Jauregui, esqueceu algum celular de novo? - Joseph, o porteiro do prédio, perguntou, já quase rindo.

Terrível aquela mania que Lauren Jauregui tinha de esquecer celulares, chaves, carteiras e até garotas presas dentro do escritório. A expressão de Lauren fez com que o adorável velhinho murchasse atrás do balcão.
- Aconteceu alguma coisa? - Joseph perguntou e Jauregui rolou os olhos.

As veias de seu pescoço estavam saltadas, seus olhos pareciam que iam pular do rosto. Qualquer um que a encarasse por pouco mais de um segundo ficaria confuso em decidir se Jauregui estava transbordando ódio ou morrendo de pânico.

- Agora não, Joe - disse, seca, esmurrando os botões do elevador.

Nunca havia tratado aquele senhor daquela forma. Adorava Joseph.
Mas seu coração estava tão acelerado que os quinze segundos esperando o elevador lhe pareceram mais lentos que dois anos e alguns meses. Todos os momentos que passara naquele prédio vieram em sua mente - desde o dia em que fora contratada, das horas correndo de um lado para o outro, dos papos com Joe, das noitadas com as garotas nas sextas feiras, das garotas que levara para a copiadora quase que semanalmente.
Ela era uma lenda viva ali.

- Dois anos, nove meses e dezessete horas - sussurrou, esmurrando a parede do elevador.

Eleonor, a ascensorista, já tinha ido para casa. Todos já tinham.
Mas ela sabia que a pessoa com quem queria falar estaria, como sempre, fumando um charuto com os pés em cima da mesa, admirando a vista do 63° andar após o expediente.
Entrou como um furacão na sala dela.

- Jennifer! - gritou para a senhora de meia idade que estava virada de costas. Seus cabelos loiros emolduravam seu rosto redondo e ela vestia um conjunto de saia e blazer escuros. Era uma perfeita dama durante o dia, mas agia como seu antigo marido - de quem tinha herdado aquela empresa, após seu infarto em uma viagem ao Cabo três anos antes - alguns diziam que Charles detestava férias, e isso o matou - quando estava sozinha.

- O que é, Jauregui? Quem está morrendo? - disse, com seu típico tom de voz entediado.
Ao girar a cadeira, no entanto, percebeu, pelos olhos avermelhados da garota, que o assunto dessa vez era sério. - Alguém ESTÁ morrendo? - perguntou, assustada.

Lauren jogou um mandado policial na mesa de Jennifer. Ao sentar na cadeira em sua frente, abaixou o rosto e passou as mãos pelos cabelos nervosamente enquanto a mulher analisava o que estava escrito.

- Ah, querida - Margareth quase sussurrou. - Eu sinto... Eu sinto muito. Nós fizemos tudo o que poderíamos ter feito, mas...

- NÃO FIZERAM! - Lauren berrou, levantando da cadeira. - Se tivessem feito essa merda direito, eu não teria recebido a porra desse mandado oficial! OFICIAL, Jennifer! - Jauregui quase correu até a mesa de drinks da sala da chefe. Alcançou uma garrafa de whisky, e sem preocupar-se em procurar um copo, entornou uma grande quantidade do líquido.
Jennifer não parecia espantada, no entanto.

Contratou Lauren pessoalmente dois anos e alguns meses atrás. Quando a garota apareceu em seu escritório, devidamente atrasada para uma legítima inglesa recém chegada de Kent, afobada com as palavras e visivelmente desesperada por uma chance naquela cidade, encantou-se por ela. Não da maneira que todas as garotas e garotos do prédio se encantaram - e Lauren aproveitou-se bastante disso, ouvira falar. Sabia que ela era uma boa pessoa e uma profissional cheia de potencial. Ficou sabendo, meses depois de contratá-la, que Lauren havia vindo para os Estados Unidos sem absolutamente nada, deixando uma família rica para trás, e que, naquele dia, estava desesperada com a possibilidade de ter que voltar para casa e decepcionar seus pais novamente.
E agora, isso estava acontecendo de fato.

DEPORTADA.

Lauren leu a palavra que a fazia sentir vontade de vomitar novamente.

- Lauren, querida, você sabia quando entrou aqui da duração do contrato! Fizemos tudo pela renovação, no entanto, há algum problema com seus documentos... Eu nem sabia que ingleses eram deportados da América! - Jennifer disparou. Lauren a olhou, jogando o cabelo pro lado em um tique nervoso.

- Então é isso? Eu simplesmente tenho que... Ir embora?
Merda, como aquilo doía!

Pela primeira vez em vinte e quatro anos ela era o orgulho da sua família. Sempre fora tudo sobre Chris, seu irmão mais velho.
Ele orgulhara sua família ao ganhar uma bolsa em Oxford, mesmo sem precisar de uma.
Ele orgulhara seu pai ao tornar-se um médico renomado.
Foi Chris quem casou com a herdeira de uma fortuna na nobreza britânica.
E também ele quem dera o neto que seus pais sempre sonharam.

Lauren sempre foi a garota bagunceira do colégio, que visitava a diretoria duas ou três vezes por semana, que sumia em bebedeiras com os amigos e que nunca tinha uma namorada fixa para apresentar nas festas familiares. E ainda era lésbica. Nunca ligou para escola, nem para o dinheiro do pai. Não ganhou bolsa em lugar algum, mas formou-se em Administração de Empresas na Universidade de Cardiff.
Nem ela sabia como isso tinha acontecido, já que ela pouco frequentava as aulas e só vivia em festas. Mas gostava daquela profissão, e sabia que quando deixasse de agir como um moleca, era isso que iria fazer com prazer. Quando largou tudo sem aviso prévio e fora para Nova York, seu pai apontou o dedo em seu rosto e disse quatro palavras que agora ecoavam em sua cabeça tão cortantes quanto fascas afiadas.

"Você não é capaz". "Você-não-é-capaz".

Quando conseguiu aquele emprego, sua vida mudou. Em poucos meses, saiu de seu micro apartamento em um bairro perigoso para um duplex com vista para o Central Park. Não era sobre o dinheiro, mesmo sabendo, antes mesmo de entrar naquela entrevista, que enriqueceria muito fácil ali. Era uma questão de orgulho.
A melhor coisa de sua vida foi quando voltou no Natal para Kent.
Ver seu pai engolir tudo o que sempre disse sobre ela foi quase como um presente trazido pelo bom velhinho. Lauren levou Rose, uma secretária de Jennifer que era perfeita (fisicamente e mentalmente) para apresentar como sua namorada. Claro que o relacionamento acabou duas semanas depois. Mas naquele dia, seu pai lhe dissera:

"Filha, você é uma mulher agora. Estou muito orgulhoso de você".

Agora, ela estava voltando pra mesma merda de antes.
Nada de independência. Nada de Nova York. Nada de orgulho.

- Querida, eu liguei para alguns contatos, posso arrumar um emprego pra você em Londres, em uma empresa conhecida, até que você arrume tudo e que possa voltar para...

- Eu não quero ir - sua voz quase não saía. Sentia-se como uma garotinha indefesa de cinco anos.

- Mas, infelizmente, você terá que ir, Lauren - Jennifer estendeu o mandado judicial junto com outra folha a ela.
Sua demissão.

- Você está me...?

- Não torne isso mais difícil do que já é, por favor. Você sabe que eu queria que você ficasse.
Lauren assinou de forma descoordenada o papel, enquanto Jennifer dava a volta na mesa.

Ao levantar-se, viu, por trás dos óculos de armação preta da senhora, que seus olhos estavam marejados. E então se abraçaram.
Lauren deixou que algumas lágrimas caíssem. Aquele era seu lugar.
O que faria de sua vida agora?
Ao correr para fora das imponentes portas de vidro, ignorando Joseph, encarou a neve e as luzes de Natal.
E teve certeza que, dali em diante, sua vida seria uma merda.
Não sabia pra onde ir quando entrou no táxi.

One Night Only - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora