Capítulo 50

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“Charlotte... Hey, acorda” alguém me sacode e eu passo as mãos em meu rosto, logo depois me arrependo pois lembro que estou ainda de maquiagem.
“Nós...” consigo nem pronunciar uma frase, já que acabei de acordar. Tento não cossar os olhos por conta das lentes de contato e o rímel.

         Olho em volta e percebo que ainda estamos no barco, mas só o nosso está lá. O frio havia aumentado e eu estava me tremendo inteira, sentindo as pontas dos meus dedos tão frias que parecem que vão cair juntamente com meus braços. Nós dormimos aqui, durante o filme ou mais pro fim, Zayn começou a cochilar e antes mesmo do filme acabar, nós dormimos no chão do barco e estamos aqui até agora.

“Você está com bateria no celular? O meu morreu” sua voz é baixa e um pouco tremida devido ao frio e eu sento suspirando, pegando minha pequena bolsa.

“Preciso de um carregador, estou com três por cento. Mas respondendo, são duas e dez da madrugada” digo, logo em seguida fechando os olhos e quase cochilando sentada.

“Vamos pra casa Lottie, está frio pra caralho e você deve ficar doente assim” ele liga o barco e segue em direção a margem do Rio Sena, que mesmo de madrugada, parecia que nunca perdia a graça ou o encanto. O barco morre três vezes devido ao gelo que já tem na água e por pouco, ou graças ao destino, nós não encalhamos.

         Eu me apoio em seu corpo, não me importando com a maquiagem manchar a roupa que Doniya delicadamente desenhou para o irmão, o que ele também parece fazer. Eu não estava aguentando de frio, além de dor nos pés. Tive que tirar os saltos e meus pés já estavam vermelhos de frio e de dor, indicando que eu não deveria colocar eles mais uma vez. Eu não conseguia parar de tremer, e tenho certeza que a essa altura, estou com o rosto pálido e quase tendo uma hipotermia.

         Ele para na borda, onde que graças a Deus, o moço que trouxe o barco estava lá, ele só estava dormindo tadinho. Ele o chama e o mesmo sorri sem graça. O cara todo de preto ao meu lado, se levanta pra sair do barco, quando faço o mesmo, eu sinto minhas pernas bambas, mas ainda assim eu tento por forças suficientes pra poder sair. Pego meus saltos e minha bolsa, segurando a mão de Zayn e saio, quase caindo pelo chão.

“Zayn, eu não vou conseguir andar até lá. Trás o carro até aqui, por favor” quase imploro de voz baixa, vendo fumaça sair de meus lábios.

“Não vou te deixar sozinha aqui de madrugada. Pode ser Paris, mas ainda é perigoso” ele me analisa, enquanto eu me encolho mesmo em pé. “Não consegue mesmo andar até lá? Para de frescura”

“Frescura? Tenta ficar o dia inteiro andando pra cima e pra baixo com isso, sem ao menos estar acostumado” eu claramente me irritei com a sua fala, e se fosse outros tempos, eu sairia andando descalço mesmo, mas estou numa posição de impedimento duplo: meus pés doem e eu estou morrendo de frio.

         Sem aviso prévio, ele me pega no colo estilo noiva, depois de resmungar claro, e eu solto um gritinho por conta do susto. Ponho meus saltos na barriga e ele vai andando comigo pela rua até chegarmos no hotel em que seu carro estava estacionado.

“Não se acostume com isso. Foi somente desta vez” o Zayn ranzinza de sempre voltou.

         Eu não respondo, apenas tento me concentrar em me aquecer. Posso ver pelo chão, pequenos flocos de neve, indicando que cada vez mais tarde iria nevar. Eu nunca mais saio de casa sem ao menos um casaco de moletom. Ele fica parado na entrada do estacionamento durante uns minutos, parecendo pensar profundamente nas seguintes ações.

         No segundo em que dou uma piscada mais lenta, meu corpo agradece por entrar em contato com um ambiente um pouco mais quente, mas não o suficiente, melhor do que lá fora, claro. Abro os olhos e os mantenho pequenos, devido a alta claridade do local. Por que estamos no saguão do hotel?

Heathens// Z.M. (HIATOS)Onde histórias criam vida. Descubra agora