Amargo e mel

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Raquel abriu e fechou a boca uma e outra vez tentando dizer qualquer coisa que fosse mas nada saía. Ela só pensava o quanto ela queria afundar sua cabeça no piso e nunca mais sair de lá e… E no quanto aquele homem era… charmoso? 

"Raquel?" 

Paula a chamou do outro lado da linha e Raquel pôde ao menos piscar quando os olhos escuros do homem desprenderam dos seus por um segundo. 

— Me desculpe, mas é que a porta estava aberta e… — Ele disse apontando para a porta que Raquel havia pedido que abrissem para não morrer congelada naquele cubículo quadrado e que não havia ajudado muito já que área externa da cafeteria estava igualmente congelante. 

"Puta merda!" 

A voz de Paula percebendo o que havia acontecido soou novamente no telefone e só então Raquel lembrou de desligá-lo bem na cara da moça. Ela voltou o olhar para o homem para dizê-lo qualquer cumprimento que fosse e fingir que ele não tinha acabado de escutá-la dizendo atrocidades sobre ele e até sobre ela mesma. Mas então seus olhos perduram nos dele por mais tempo que o normal novamente. Os olhos dele eram como uma hipnose doce, era difícil largar deles e a profundidade era quase viciante.

Ele tinha os cabelos escuros e grossos. Brilhosos por natureza, formavam largos cachos por seu cumprimento. Tinha barba espessa e escura e naquele momento estava perfeitamente cortada e desenhada em seu rosto. A barba escondia belos lábios cheios e rosados que se moviam rápidos tal qual a forma que ele falava. A pele era brilhosa e jovem, salpicada de sinais, subindo por um nariz largo e de formato raro, seguindo o comprimento até os olhos pequenos, escuros e apertados sob cílios longos.

O cheiro dele era marcante e Raquel agora não entendia como não havia notado ao menos o seu cheiro na sala antes. Era amadeirado e quente, parecia que emanava dele e de suas roupas para todo o ambiente.

— Sim, claro. Tudo bem. — Ela forçou um sorriso de lábios fechados e desviou o olhar do seu como se não pudesse respirar enquanto o mirava.

Ela se levantou e pôs-se de pé à frente dele, percebendo a abrupta diferença de altura entre ambos. Mas isso não foi o que mais a chamou atenção, se não o fato dele parecer estranhamente… familiar?

— Prazer, Ra… — Ela iria usar seu primeiro nome apenas, mas se corrigiu e pensou não ser ideal dá-lhe essa informalidade. — Doutora Raquel Murillo. — Ela o estendeu a mão para cumprimentá-lo.

Ele logo espelhou o gesto e estendeu a mão de volta e… Joder! O tamanho das mãos dele!

— Muito prazer, doutora Murillo. Sou Ser… — Ele repensou sobre se apresentar com o primeiro nome também. — Doutor Sérgio Marquina. 

Ele apertou um pouco suas mãos e ela soube que era possível gritar em silêncio. Porque toda a superfície de sua pele pareceu fazer algo do tipo.

— Hum… Bom… Por favor, sente-se. — Ela apontou para a cadeira que estava bem em frente a sua. Separados apenas por uma pequena mesa de centro. O ambiente realmente fora preparado para uma reunião de negócio. — O garçom deve vir a qualquer momento. 

O homem sentou-se e Raquel fingiu que estava ocupada demais abaixando o próprio vestido e esfregando os braços tentando amenizar o frio que fazia ali, mas ela estava mesmo era notando cada movimento dele. Enquanto ele tirava o casaco de material pesado que levava, Raquel pôde ver que sua camisa social estava um pouco respingada da chuva do local. Seu cabelo também estava molhado em algumas partes e as gotas brigavam com os tantos fios para descerem por seu couro cabeludo que quase não se via.

Ela se perguntou porquê diabos ele estava tirando o casaco quando ela estava prestes a congelar naquele lugar e realmente gostaria de ter levado um casaco consigo. Além do mais, ele havia enfrentado um pouco da chuva… Estranho!

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