Cinza, azul e branco

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A cabeça dela doía tanto. Ela abriu os olhos com receio de que a luz a incomodasse, mas percebeu que a única brecha de luz vinha do pequeno abajur na mesinha de Alícia ao lado de sua beliche. Sua boca estava seca e ela sentia cada pedaço de seu corpo doer. Ela tentou levar as mãos ao rosto e só então percebeu que estava coberta com algo grosso e quente.

Ela virou um pouco a cabeça em uma tentativa não dolorosa de averiguar do que se tratava a peça pelo cheiro que saía dela. Seu nariz tocou entre o capuz e a gola da peça almofadada internamente e um cheiro conhecido e estranhamente prazeroso invadiu suas narinas. A dor de cabeça aliviou, ela se sentiu tão confortável que poderia até mesmo dormir novamente.

Até que sua memória olfativa finalmente a levou para o dono daquele cheiro. Aquele cheiro era parecido ao ombro que ela dormiu confortavelmente dopada por horas a fio naquele avião.

Aquele cheiro era de Sérgio!

Madre mía!

Ela olhou para os dois lados apalpando seu colchão. Talvez procurando pelo homem e averiguar se ela havia dormido com o doutor Marquina e agora não se recordava de merda nenhuma.

Ela levantou tão depressa que bateu com a testa na madeira da cama que ficava acima dela no beliche em que estava. Ela gemeu de dor e Alícia se assustou.

— Coño! — Ela gemeu de dor esfregando a própria testa.

— Acordou a Rapunzel... — Alícia suspirou indo em direção à amiga.

Raquel suspirou aliviada. Ela estava em seu quarto, e não havia o doutor Sérgio nu ao seu lado.

— Rapunzel é a princesa dos cabelos longos, a bela adormecida é a que dormia. — Raquel corrigiu a amiga e Alícia quase joga a cabeça de Raquel contra a madeira novamente.

— Que se foda. Você não parece nenhuma delas agora mesmo. Você está horrível. — Alícia disse já se ajoelhando em frente ao beliche de Raquel.

— O quê aconteceu? — Raquel perguntou agora sentada coçando os olhos sem conseguir se lembrar do que havia acontecido e percebendo que somente haviam ela e Alícia no quarto. — onde estão as meninas?

Chegava a ser loucura mas uma das primeiras preocupações de Raquel ao acordar era saber por onde estavam suas garotas.

— Mandei que todas dormissem no outro quarto. As marinheiras estavam de vigia essa noite e eu queria deixar você descansando sem aquelas tagarelas para te acordarem. — Alícia respondeu séria e só então Raquel percebeu que seu humor não era dos melhores e algo a dizia que ela tinha culpa nisso.

— De quem é esse casaco? Que horas são? — Raquel perguntou confusa enquanto buscava o copo de água que estava em sua mesa ao lado da beliche. — Ali, minha cabeça está me matando. Eu preciso de algo...

— Você não vai tomar analgésico nenhum. Nem porcaria nenhuma! Eu não vou te dar nada! — Alícia disse firme para a amiga, com aquela feição já conhecida por Raquel.

— Eu não vou te dar nada! Joder! — Alícia bateu com força contra a cabeceira da beliche de cima e deu meia volta no quarto respirando fundo. O choro entalado em sua garganta e o peito se esfarelando em uma culpa conhecida.

Raquel respirou fundo enquanto fazia algumas conexões lógicas. Ela começava a se lembrar de algo.

— Eu quero saber como você conseguiu driblar o exame toxicológico da expedição, Raquel!

...

— Eu já disse que não vou! Eu não quero dar de cara com aquela ruiva de novo! — Marselha resmungou para Sérgio, negando seu pedido. — Porque não vai você?

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