Estopim

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Desde o primeiro dia, nada foi parecido com o que Sergio imaginava.

O grupo tinha uma sintonia única e íntima que ele nunca tinha visto antes em nenhuma outra equipe de pesquisa. Não era de se estranhar a quem as visse em ação o porquê delas terem chegado tão longe. Pelos corredores da base as alunas de Raquel pareciam que tinham acabado de sair do ensino médio, porém, dentro dos laboratórios elas trabalhavam como máquinas e o talento e esforço de uma complementavam o das outras. Elas eram brilhantes e pareciam terem nascido para aquilo e trabalhado naquilo durante toda a vida.

Mônica era organizada e obediente, controlava para que nada fugisse do cronograma que ela mesmo montava. Ela lidava com o tempo cronometrado e com a organização. Era a mais calma e paciente de todas as moças também. Ela também era quem saberia dizer se algo estava fora do lugar, da ordem e sabia resolver os problemas que surgiam.

Silene era altruísta e desafiadora. Um pouco abusada e desobediente também, diria Raquel. Ela arriscava alto e podia deixar todos loucos às vezes por conta disso, mas a verdade é que não se sai do lugar para nada sem saber arriscar. E a garota sabia. Ela tinha coragem para inovar. Poderia ficar horas analisando o que poderia ser alterado em algo que não estava funcionando.

Manila era desatenta e devagar para algumas coisas, mas da cabeça aparentemente inquieta demais da menina surgiam ideias incríveis. Era a mais criativa e dedicada delas, também a mais nova do grupo. Ela aparecia com uma nova ideia e todas paravam para escutá-la. Era incrível de se ver. Ninguém a diminuía ali, ela era brilhante na sua forma de ser. Buscava uma inovação dentro do conhecimento vasto que tinha. Ela também sabia se virar com tudo, a famosa gambiarreira de mão cheia que não deixava ninguém na mão.

Ágatha era surpreendente. Sergio quase engasgou quando a viu ditar sem errar um ponto sequer em um código genético imenso base por base e a sequência exata de procedimentos longos a serem aplicados no laboratório. Ela era daquelas pessoas que apareciam vez ou outra nos programas de televisão demonstrando um pouco da sua superdotação em troca de uma miséria qualquer das emissoras. Era o típico talento que por vezes é desperdiçado. Ela tinha uma capacidade de memorização incrível e uma memória fotográfica que Sergio nunca tinha visto antes na vida. Além de superdotada, a garota era muito trabalhadora e focada.

Sergio não duvidava agora quando Raquel disse em entrevistas que escolheu a dedo sua equipe.

E por falar em Raquel... Ela se transformava na sua melhor versão dentro do laboratório. Ela era a mulher mais inteligente que ele já conheceu em toda sua puta vida. Melhor dizendo, era a pessoa mais inteligente que ele já conheceu e ele se sentia um merda do lado da loira. A mulher era uma gênia e Sergio não entendeu como ela não se tornou tão conhecida bem antes da aurora. Ele entendeu porque Paula se deu tão bem com Raquel. A menina era a aluna mais brilhante que ele já teve. A inteligência das duas era inigualável.

E logo estava Sergio. Ali. Se sentindo tão útil quanto um cone de trânsito. Ou até menos, na verdade. Ele se sentia um completo inútil. Não tinha realmente a ver com o fato dele estar acostumado a liderar pesquisas, porque nas expedições que fez para a Antártida ele também não era líder. Ele simplesmente não conseguia se aderir a dinâmica do grupo.

No primeiro dia ele apenas esperou por ordens. Ele não estava ali para obedecer ordens realmente, ou ao menos não totalmente. Mas ele acreditou que dessa forma seria melhor. Então tudo o que as moças o pediam em ajuda, ele o fazia. A diferença era que Raquel estava tão ocupada com suas teorias e contas e fiscalizando e verificando os trabalhos das alunas que ignorou quase que completamente a existência dele.

Nos outros dias ele se colocou diretamente a disposição de Raquel, a perguntando o que deveria ser feito. Ela pareceu um pouco nervosa e sem saber como lidar com a situação, mas por fim o pediu coisas tão banais que Sergio mal pôde acreditar. Ele preferia acompanhar as outras garotas e ajudá-las como podia. Só assim ele não se sentia tão desprezível ali, as alunas de Raquel o davam um pouco mais de abertura e o ouviam. Ele se sentia um pouco mais parte do grupo e envolvido na pesquisa quando com elas.

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