O mesmo brilho

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— Você o quê? — A ruiva disse mais alto do que deveria.

— Shhhh! Cala a merda da boca! Você quer acordar as meninas? — Raquel cochichou repreendendo a amiga.

— Oh, me desculpe. Eu esqueci das nossas filhas! — Alícia debochou. — Mas hein, você deu pro agroboy?

— Não foi isso o que eu disse!

— Mas é o que deveria ter feito de uma vez! — A médica comentou bocejando de sono.

— Você está louca, Alícia? Eu sou a chefa dele. Ele é meu auxiliar principal de pesquisa e nós não podemos ter nenhum tipo de relação se não profissio… — Raquel explicava quando foi interrompida pela amiga.

— Você deve repetir essa merda quinhentas vezes na sua cabeça ao longo do dia. Tipo, a cada vez que olha pra ele! Eu te conheço, você quer tanto dar pra ele! — Alícia gargalhou e Raquel se arrependeu de um dia ter conhecido aquela maldita ruiva que ela chamava de amiga.

— Você é ridicula! — Raquel resmungou pegando seu cobertor e virando-se de costas para ela.

— E você vai ficar louca tentando não se atirar para cima desse homem durante todo o verão!

É claro que Raquel não perderia a chance de corrigir a melhor amiga.

— Primeiro: nós vamos chegar na base exatamente na metade do verão. Essa diferença na expedição foi feita apenas para a minha pesquisa. — Ela se gabou e Alícia tapou o rosto com o travesseiro. — Segundo: Eu não me atiraria para cima do doutor Sérgio nem que ele estivesse pintado de ouro da cabeça aos pés! 

Retrucou por fim Raquel. Que havia acabado de se atirar para doutor Sérgio por muito menos que vê-lo banhado a ouro.

Atrasadas. Elas estavam atrasadas para embarcarem no maldito navio quebra gelo e Raquel agia agora como se a embarcação realmente pudesse partir sem elas. Depois de descerem dos táxis totalmente desengonçadas e perdidas no porto, correram até o ponto de embarcação aonde havia toda a tripulação com cara de total desgosto bem em frente a um enorme navio quebra-gelo. O frio estava de doer os ossos e toda a tripulação estava esperando pelas bonitas ao lado de fora da embarcação para mais uma maldita foto oficial por pelo menos quinze minutos de atraso. Prieto estava lá com sua cara três vezes mais pelancuda e rabugenta por conta do frio e do mal humor. Olhou nos olhos de uma Raquel orgulhosa e debochada, embora totalmente errada na situação, e depois olhou para seu relógio de pulso.

— Achei que tivessem desistido, meninas. — Ele soltou debochado.

— Não mesmo, doutor Prieto. O senhor terá de me aguentar até o final do verão, e quiçá do inverno se eu assim desejar. — Ela respondeu e ele trancou a cara com raiva de sua fala.

Mais uma ridícula foto oficial a qual Raquel provavelmente armaria uma fogueira com todas elas quando as recebesse impressas e então todos puderam subir na enorme rampa que dava até o andar de entrada da enorme máquina enferrujada.

Todos entraram e o navio partiu com algumas despedidas dos porteiros e frio na barriga dos pesquisadores novatos. Raquel não teve tempo de se perder em nenhum pensamento sobre o rumo que levava sua vida enquanto o navio se afastava do porto sob a janela redonda e suja da embarcação porque o burburinho de todos lá dentro era estrondoso. A maioria reclamava de como o aquecedor parecia um assopro e se perguntavam aonde diabos estava Prieto para lhes dar alguma direção sobre o que deveriam fazer agora se não esperarem todos juntos naquele andar frio e úmido. A maioria dos veteranos apenas esperava por sabe Deus o quê com cara de tédio e pareciam três vezes mais bem agasalhados que os demais.

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