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"Em certos momentos, os homens são donos dos seus próprios destinos" (William Shakespeare)

Arabella Rossi

Meus pulsos doem ,minha cabeça gira e essa lugar me dá medo .

Eu me condeno de todas as formas possíveis por ter me colocado nessa situação . Afinal a culpa é minha . Eu que enganei os seguranças ,eu que decidi ir pra balada sozinha , eu que fugi e coloquei a segurança de todos em risco . Tudo isso por que queria um pouco de liberdade .

Quão burra uma pessoa envolvida com a máfia tem que ser pra querer um pouco de liberdade .

Como eu vim parar do outro lado do oceano ? Simples .
Leon veio para negociar com alguns compradores e implorei que ele me trouxesse e quando ele saiu ,eu simplismente fugi pela janela .

Parece meio clichê considerando a questão da máfia mas esse é o segredo . Ninguém espera algo tão idiota quanto simplismente fugir pela janela de incêndio.

Entrei na primeira balada que encontrei ,só queria uma noite normal, beber um pouco e voltaria pra casa ,mas meus planos não dão certo desde que nasci e fui ingênua achando que esse daria pela primeira vez .

Eu sabia que algo estava errado.

Eu simplesmente sabia.

Não só pelo fato de meus raptores não terem aparecido .  Mas havia algo no ar. Uma indicação de que algo terrível estava prestes a acontecer. Nunca me considerei uma mulher supersticiosa. Sexto sentido e intuição não eram meus métodos principais para quase nada. Mas aquele embrulho no estomago conforme a chuva caia torrencialmente lá fora era a indicação de alguma coisa.

Despertei do transe com o barulho suave das portas .A sensação impertinente na boca do meu estômago me incomodando cada vez mais.  Virei em sua direção e então eu vi.

Só não esperava que fosse Ella

-O que você tá fazendo aqui ? -pergunto aliviada enquanto ela me desamarra

-Te mandando pra casa -ela diz quando termina seu trabalho com os nós da corda me soltando ,não há tempo pra agradecer por que ela logo corre e me puxa por trás do galpão

-Você se lembra de como fazer para recarregar uma pistola, Arabella ? - pergunta, me estendendo sua arma que, pelo que me lembro, trata-se de uma Glock.

-Eu quero dizer, você conseguiria recarregar uma em dez segundos? - ela pergunta me olhando e observando o local como se esperasse alguém

- Porque dez segundos? - questiono, tentando não soar tão desinteressada.

- Tempo em que talvez seu inimigo erre o disparo - responde e eu pego a arma. - Tempo em que talvez você não morra -Pois bem Ella me fala, eu, contra vontade, olho para o botão pequeno ao lado da coronha, apertando-o para soltar o pente

-Aqui você tem um pente recarregado, talvez nem sempre o tenha. -Observo-a empurrar pequenas cápsulas para dentro de um pente vazio com uma habilidade sem igual, enquanto me olha nos olhos.

- As armas de fogo sempre foram algo pra mim, Arabella — fala, claro que eu notei isso por mim mesma, então -eu sei qualquer coisa sobre elas. Seus defeitos - diz e eu estremeço quando ele coloca o próprio pente na arma —suas falhas, as probabilidades de atirar no vazio, mas, principalmente, as possibilidades de ser morto.

- Como consegue isso? São tantas coisas - falo, entrecortada, sem respirar.

- Sobrevivência. Quando você se agarra à vida - diz, dando aquele sorriso que não chega aos olhos preocupados - merda alguma a arranca de você. Agora faça sem olhar.

Logo a chuva de disparos começam , Ella revida e eu até tento mas são muitos . O barulho é ensurdecedor , um carro logo chega perto e Ella me puxa enquanto atira tentando nos levar para perto do carro .

Eu vi a van preta parada há dez metros de distância. Eu vi exatamente o momento em que os dois homens mascarados olharam no fundo dos meus olhos. Ella seguiu meu olhar, e foi o que bastou para que a van fosse posta em movimento e Ella me empurrasse para longe, o profundo desespero marcando cada uma de suas feições. Seu grito horrorizado em uma ordem enquanto tentávamos fugir do tiroteio insistente ecoou pelo ambiente vazio.

-ARABELLA CORRE! - Ela berrou enquanto puxava minha mão e me arrastava até lá .A van já estava parada a nossa frente, os homens mascarados já estavam pulando para fora e atirando também .

-Entregue isso para o Lian -ela diz e coloca um envelope em minha mão

-Entregue você ,você vem comigo- ela apensas sorri . Não ,ela não pode estar fazendo isso né

-Você vai pra casa Arabella

Ouvi Ella gritar algo novamente antes das portas se fecharem , e ouvi socos, arfadas de ar. Ouvi Ella chamar por mim mais uma vez, e ouvir o baque surdo do corpo de um dos seguranças cair ao lado do meu. Minhas mãos foram rapidamente presas com um material fino e tateei no escuro até minhas mãos acharem algo em que se segurasse .

Eu berrei.

Eu berrei mais alto do que achei que um dia poderia berrar na vida.

Eu berrei como se estivesse prestes a morrer.

Porque eu preferia estar .

Foi tudo muito rápido ,e logo eu fui colocada em um avião . Eu estava inerte ,como se estivesse dormindo . Eu via tudo acontecendo mas eu só conseguia pensar que a culpa era minha .

Eu entreguei Ella , eu , somente eu

Quando o avião pousou e desci ,braços me rodearam e ali eu acordei .

-Eu estou bem- digo após os braços de meus pais me soltarem

-Como você saiu de lá Arabella ? Por que você saiu ?que merda você fez ?- Leon joga suas perguntas em mim e com razão ,eu entendia sua raiva afinal ele estava como meu responsável

-Ella -eu só consegui dizer isso antes de Lian logo tomar frente das perguntas

-Você viu a Ella ?ela estava lá ?- eu não consegui o olhar ,não conseguia e mesmo quando comecei a contar tudo o que houve eu não conseguia

-Onde ela está Arabella ? Me diz onde ?- ele pergunta olhando em meus olhos , e está lá . A culpa . Esse sentimento desgraçado agora alojado em mim por ver a dor em seus olhos

-Ella não veio comigo Lian ,ela ficou no meu lugar - as lágrimas aquecem meu rosto . Em seu rosto a tanta dor

-E me pediu pra te entregar isso - coloco o envelope em sua mão

-Obrigada- é tudo o que ele diz antes de partir ,deixando comigo a culpa.

ELLA Onde histórias criam vida. Descubra agora