Intrometidos têm pouca sorte

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Raramente me importava com a responsabilidade de algo, fazia o melhor que podia e pronto. Se me importasse provavelmente ia ficar afetada, stressada, nervosa ou algo do género. Fazia e pronto. Assim foi, dei o meu melhor. O meu penúltimo exame estava acabado, ia-me inscrever no tal curso de tiro e depois ia trabalhar. Como eu queria isto...A rececionista avisou-me mais uma vez da importância do preenchimento correto da folha que me entregara, comecei a preenche-la ali mesmo, ela ficou perplexa. Normalmente levavam a folha embora e preenchiam com todo o cuidado. A probabilidade de correr mal em casa ou nas viagens era maior do que preencher na hora. Acabei e entreguei.

- O resto de um bom dia!- sorri e sai.

Estava feliz, mesmo que não fosse uma das selecionadas tinha tentado. Ia para a escola de surf, hoje tinha que dar uma aula de iniciação. Comprei um chocolate quente e fui para o metro. Incrível como anda sempre tudo com tanta pressa e nem reparam na boa música que um velho senhor estava a tocar. O senhor deveria ter sido um grande saxofonista, adorava ouvi-lo, sempre que passava nesta estação e ele estava cá sorria-lhe, cheguei até a cumprimenta-lo. Nunca o vi triste por estar na rua, houve uma vez em que ele estava a tocar algo mais mexido e eu dancei, ele saiu do seu canto e dançou também. Todos olharam e seguiram o seu caminho. Rimo-nos bastante e ele confessou que para ele bastava saber que animava o dia de alguém para já ser feliz.

Entretanto, cheguei á escola de surf. Estava tudo preparado para a aula, só faltava eu e os alunos. Fui então preparar-me rapidamente e enquanto os alunos não chegavam ainda falei com o Bruce que estava hoje na receção. Ele parecia indiferente ao que se tinha passado, falamos sobre muita coisa mas nunca sobre nós nem a nossa relação. Achei estranho mas nem toquei no assunto. Não queria ocupar a minha cabeça com coisas desnecessárias, apesar de ir para o mar e esquecer tudo eu não ia surfar, ia dar uma aula e dar apoio. Dei a aula e no final quando guardava as pranchas o estagiário abordou-me.

- Tu e o Bruce têm alguma coisa? Deixa-me ajudar-te. – O rapaz falou enquanto guardava algumas das pranchas.

- Não, porquê?

- Ele passou a aula a olhar para ti e antes tinham estado a falar, já lhe perguntei e ele não me quis responder.

- Então acho que devias meter-te na tua vidinha. Obrigada! – Revirei os olhos num ato de insatisfação e irritação.

- Mas...

Sai da sala deixando-o a falar, estava tudo arrumado. Não falava da minha vida com ninguém, não adiantava ficar lá. Detestava que tentassem meter-se na minha vida ou saber algo dela, era minha, não dos outros. Se eu não cuidava da minha vida o problema era meu. Se eu quisesse que soubessem diria, isso só acontecia com amigos e mesmo assim era raro. Eram poucos os meus verdadeiros amigos. Ajudei a preparar o material para mais aulas e depois fui embora. A caminho de casa recebo uma mensagem. Leio.


***

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