Estiquei as pernas e abri o Skype. Não tínhamos nenhum caso e para já não era preciso fazer alguma coisa na esquadra ou fora dela. Em conjunto com James encerrei o caso resolvido há uns dias. Nada de especial, um pequeno grupo que traficava droga.
A minha relação com James tem evoluído, assim como com Jack, embora sejam totalmente diferentes. Ainda não assumi algo com Jack, ainda não me sinto preparada e tenho medo de nunca vir a estar. Já com James passamos de colegas de trabalho a amigos. Ele é uma excelente pessoa e embora continuemos muito profissionais, as brincadeiras aparecem cada vez mais. É ótimo trabalhar com bom ambiente! Devia agradecer-lhe mais vezes por me ter escolhido mesmo sabendo que a resposta dele seja 'era inevitável'. Eu sabia que o era, eu sempre tive uma queda por ele e ele por mim, e, além disso, ambos temos vocação e seguimos os instintos, deixando de parte todas aquelas teorias de como agir. Alguns colegas já reclamaram disso embora saibam que é esse instinto que resolve os casos e nos traz sucesso. Ah, gostamos os dois de fardas e detestamos rotinas, preferindo um bom desafio para nos por à prova. Afinal não somos assim tão diferentes.
De Jack: Hoje fiz uma casa linda. Acho que ias gostar!
De mim: Quero ver!
De Jack: Logo mostro
De mim: Isso quer dizer que vamos estar juntos?
De Jack: Pensei levar-te a comer um gelado à beira-mar
De mim: Hum...parece-me bem
De Jack: Tenho saudades tuas
-Jennifer! -James chamou-me ao levantar-se - ligaram-me a pedir reforços. Explico-te no carro
Certamente James recebera um telefonema mas estava tão distraída que nem me apercebi. Peguei na minha arma e coloquei-a no coldre enquanto escrevia para Jack.
De mim: Fomos chamados para ajudar num caso.
De mim: Amo-te
E o barulho de uma notificação no Skype reinou pela sala vazia e eu sorri ao caminhar para a saída. Jack era maravilhoso e fazia-me sentar especialmente bem.
Nestes últimos tempos eu e Jack somos como que namorados, contudo sem relação ou algo do género. Não há um nome para o que somos e como detestamos rótulos nem nos preocupamos com isso. Aliás, não nos devemos ter preocupado porque andamos muito bem. Ele trabalha e tem treinos, tendo conseguido sucesso. Eu trabalho e vou treinando, não me tenho metido em nada de especial a não ser ir à praia fazer um bocado de surf. Não me tenho exposto a perigo e não sei explicar bem porquê. Porque o meu trabalho tem perigo? Ou porque estou com Jack e ele conforta-me? Não sei e agora não é momento para descobrir. Um assassino está prestes a cometer uma loucura, matar, mais uma vítima por estrangulamento. James contou que ele tinha algumas perturbações e tratou de as explicar enquanto íamos para o local. Inevitavelmente, uma estratégia formou-se na minha mente e a adrenalina veio a seguir...
*James a narrar*
Ao adentrar a sala observei o assassino com mais uma mulher nos seus braços. Ele segurava-a pelo pescoço, com o seu forte braço impedindo-lhe o acesso ao indispensável oxigénio. Sabia que ele era perigoso e matava pessoas apenas para as ver morrer e tentar descodificar o enigma da morte. O tenente responsável dialogava provocando-lhe o choro. Caminhei até ao tenente e Jennifer tomou o meu lugar.
- Quieta! -o malfeitor berrou para a bonita polícia ficando a encará-la.
Depois, a mão de Jennifer empurrou o casaco para trás quando sacou da própria arma. Raios, ela desafia a morta. A morena continuava morena. Ao contrário de mim e do outro tenente já pálidos com a situação, ou do assassino e da vítima que se encontravam vermelhos.
- Largue a arma e solte-a! -ela disse num tom autoritário embora reticente e o tenente responsável olhou-a incrédulo.
Kyle, o assassino, apercebeu-se disso. Por favor Jennifer, não o desafies mais.
A adrenalina dera-lhe novas forças. Ele abanou o rosto de um lado para o outro e sorriu. Estava de novo no controlo. A comprazer-se. E, nem eu nem o tenente da investigação nos atrevíamos a mexer.
- Ah, não me parece. Acho que a menina é que tem de largar a sua.
- Nem pense. Última oportunidade -a adrenalina também dera forças a Jennifer fazendo-a desafiar o assassino muito mais convicta.
- Shhh -Kyle inclinou-se sobre a mulher a escutar -Mal sinto o pulso dela. Está mais fraco. Devagarinho...devagarinho...
- Se a mata não há nada que me impeça de matar a si!
Ela sorriu e a bravata de Kyle desapareceu. Eu e o tenente olhámo-nos.
Uma mulher tão bela a deixar um brutamontes tão frágil. Com a sua bravura e loucura. Os dois insanos. Ela de uma maneira boa. Mas algo em mim dizia que este não era o melhor caminho a seguir e sempre me aconselharam a seguir os instintos, porque é isso que um polícia com vocação faz. Queria impedir toda a coragem da jovem, queria negociar com Kyle assim como o outro tenente estava a fazer. Sabia que Jennifer apenas aparentava agir impulsivamente e ao mesmo tempo demasiado natural e despreocupada, contudo ela não era assim, ela estava a seguir os seus excelentes instintos. E, sendo eu o seu parceiro e conhecendo-a tão bem sabia que isto não era o melhor e que o caso ficaria resolvido envolvendo perigo.
Kyle arrancou a sua arma e disparou. Vi Jennifer cambalear, mas ela própria alvejara Kyle.
Enquanto a vítima caia quase inconsciente, houve mais dois estampidos e uma parte do espelho explodiu, cobrindo o chão de estilhaços. Depois, a arma de Kyle foi para ao chão e ele caiu como se lhe tivessem cortado os fios.
Os meus ouvidos zumbiram quando corri para junto da Jennifer. Estava apoiada na ombreira da porta, a arma ainda hirtamente apontada ao sítio onde Kyle jazia. O rosto branco como cal, contrastando vivamente com a mancha escura que alastrava no casaco. O outro tenente ajudava a mulher e eu questionava-me se a morena agora estava branca por ter morto um homem ou por ter sido alvejada.
Do seu lado esquerdo, um borrão luminoso entre o pescoço e o ombro que ia aumentando diante dos meus olhos. Pestanejou.
- Estou...acho...
- Sente-se- Não tente falar.
Se a bala tivesse atingido alguma artéria, ela poderia esvair-se em segundos. Passos no corredor ouviram-se e Jennifer deslizou até ao chão pousando a arma. Afastei-lhe o casaco do ombro ferido e já via, apreensivo, como a sua típica camisa branca estava ensopada de sangue, quando irromperam algumas figuras fardadas pela porta. Fui afastado por agentes mas rapidamente voltei para junto da minha parceira. Ela ainda se focava num ponto aleatório à sua frente. Ela tinha as pupilas dilatavas, do choque. E, pela primeira vez, os seus bonitos olhos azuis pareciam assustados.
Os gritos aumentavam assim como a entrada de pessoal especializado e não havia tempo a perder. A bala abrira-lhe um rasgo na parte de cima e a hemorragia parecia não ter fim. Enrodilhei-lhe a camisa e comecei a pressionar a ferida.
- Diz-lhe que sim- ela pediu ao fechar os olhos.
- O que? Jennifer! -supliquei e aproximou-se um agente com um saco dos primeiros socorros.
Ela podia estar a fechar os olhos devido à dor, devido ao seu pensamento ou devido à perda de sangue. Eu não entendia e estava tudo a ser demasiado rápido. Ver a energética jovem quieta, inerte e quase sem vida causava-me uma sensação inexplicável, um aperto no coração. Possivelmente angústia e medo.
Recuei para dar espaço ao colocarem-lhe gaze esterilizada na ferida. A sua expressão mostrou um pouco de dor ao sentir de novo o toque todavia logo normalizou mostrando-nos um sorriso pacífico. Como é que ela conseguia continuar a mostrar um sorriso de forma a acalmar-nos? Ela era de facto um anjo e assim o parecia, tão calma, tão bonita e tão magoada com a humanidade.
- Por favor... -Jennifer voltou a pedir confundindo-me ainda mais, assenti sem saber muito bem do que se tratava e a sua cabeça tombou.
***
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Unforgettable
ChickLitUma polícia recentemente formada que trabalha com um atraente tenente. Uma miúda aventureira e que não poupa na adrenalina. Uma mulher sonhadora, desarrumada e peculiar. Uma menina que saiu do seu país em busca de algo que nem ela sabe. Estas são a...