The end

88 7 0
                                    

Fomos interrompidos pelo toque do telemóvel de James. Ele atendeu e assim que desligou acelerou.

- O que é que aconteceu? -questionei

- Conseguiram contactar uma sobrevivente, ela está a caminho da esquadra

- Sobrevivente? –olhei-o confuso

- Sim, o homem violou-a mas não chegou a matá-la. A Jennifer vai falar com ela e eu vou actualizar-me sobre o caso

- Eu nunca fiz isso!

Fazer um interrogatório exige muito do agente, principalmente quando se fala com uma vítima.

- Use a psicologia invertida –James gargalhou ao ver-me atrapalhada

(...)

- Eu sei que é complicado mas a sua ajuda é crucial –falei

Já estou numa sala a interrogar a sobrevivente. Após ter começado a falar, a senhora perto dos 35anos esclareceu que não se lembra de muita coisa. O seu caso já foi há vários anos e tentou esquece-lo para mais facilmente ultrapassa-lo. Já começou a chorar e mostrar fragilidade.

Usa as sensações Jennifer.

- Ele ainda anda nas ruas –olhei-a –a sua filha pode ser a próxima vitima

Mais lágrimas saíram dos pequenos olhos. Ela tratou logo de as limpar e anuiu.

- Como é que tudo começou? –questionei-a

- Sai do trabalho tarde, ia sozinha numa rua escura...-olhou para as mãos- olhei para o telemóvel, estava a responder a mensagens, quando ele me agarrou no braço, puxou-me e...-fungou e olhou-me –não me lembro de mais nada

- Feche os olhos –pedi e ela fê-lo –lembra-se de algum cheiro?

Abanou a cabeça que não.

- Algum som? O que ouve?

- Um carro...bem longe no fundo da rua, alguém bateu a porta do carro e caminhou

- Muito bem –incentivei –olhe em volta. O que vê?

Uma das coisas mais interessantes é a forma como podemos reviver momentos através de sensações. Nunca fiz isto com algo muito sério e ver a teoria a dar resultados é incrível.

- Um gancho –disse ao apertar os olhos

Um gancho?

- Um gancho de que? De pescador? De cargas? Dum carro? –enumerei vários elementos

- Um gancho de um barco...de um barco atrelado...ele tapa-me a visão da pessoa que saiu do carro e caminhou –ela olhou-me novamente a chorar

- Concentre-se...volte à rua –pedi calmamente.

Ela fechou os olhos e as mãos, que estavam em cima da mesa, agarraram-se uma à outra.

Na sua cabeça, a sobrevivente já tinha a imagem dela a ser agarrada pelo homem. Sente receio e nojo, e, tenta combater todos os medos do momento.

- Olhem em frente, para ele. O que vê?

- Um homem a...–lágrimas escorreram-lhe pela cara

- Como está vestido?

"Afastar as vítimas do evento traumático para situações à volta é um dos mais fáceis caminhos...elas poderão voltar ao local e relembrar-se de coisas que nunca pensaram. Depois desse feito devem concentrar-se no vosso objetivo, que é normalmente a pessoa que traumatiza, e fazer a vítima recordar elementos e pormenores dela" Lembro-me desta explicação, dada por uma professora na casa dos 40anos, ruiva e com um sotaque acentuado.

UnforgettableOnde histórias criam vida. Descubra agora