Senti um ar gélido no meu rosto. Quando abri meus olhos vi apenas paredes de pedra. Ao descobrir o cobertor, encontrei ratos. Eu os expulsei aos gritos. Minha cabeça latejava. Eu estava no calabouço. Pelo tamanho mediano dos ratos, aquela era uma das celas para prisioneiros especiais, lembro que Jerrod me mostrou aquele lugar pouco depois da nossa lua de mel.
Estive ali recém casada e voltava agora, recém viúva. Aquele lugar nunca foi usado enquanto Jerrod reinava, mas agora o movimento dos guardas era constante.
Me sentei na cama dura. Estava exausta. Minhas feridas de batalha estavam tratadas. Eles me queriam viva. Mas por quê?
O tempo passa de forma estranha quando se está em isolamento. Me lembro do meu cabelo duro de sujeira e de contar algumas refeições, talvez 7 ou 15 por dia... Eu apenas belisquei a comida, pois temia um envenenamento. Os guardas não falavam nada e ignoravam minhas perguntas. Foi como se eu nunca houvesse sido rainha.
Depois temi que Kitana estivesse morta, pois era esse o destino dos herdeiros de um rei deposto. Acho que me convenci de que ela estava morta e chorei, bebi minhas lágrimas no lugar daquela água nojenta que me ofereciam.
Num dia a cela se abriu, guardas me seguraram pelos braços e me arrastaram já que eu não tinha forças para andar. Lembro das minhas pernas se arranhando pelas escadas e da luz do sol machucando meus olhos acostumados com a escuridão.
Primeiro um banho básico, depois trajes básicos e mais uma viagem nos braços dos soldados que me soltaram na sala do trono, aos pés de Shao Kahn.
"Como ousam tratá-la assim? SAIAM TODOS!" O usurpador rugiu e todos fugiram nos deixando a sós.
"Sindel, me contaram da sua greve de fome. Acredito que tenha alguma exigência." Shao Kahn levantou meu rosto para que eu o olhasse.
"Você parece sedenta." Ele levou o copo aos meus lábios, que não se abriram. Ele então tomou um gole e tornou a me oferecer, bebi toda a água fresca do cálice.
"Desejo apenas me unir a minha filha e ao meu marido."
"Mãe?" Ouvi a voz de Kitana de onde eu estava. Devo tê-la ignorado pois já estava acostumada a ter alucinações com ela na prisão.
Ela se aproximou, mãozinhas quentes me abraçaram e eu a toquei. Era real, Kitana estava viva! Eu a apertei até que ela desse um gritinho de dor.
"Kitana! Você esta bem?"
"Estou. Porque você não quer comer mãe? Você está doente?"
"O quê?"
"O pai disse que você estava doente. Já melhorou?"
"Pai?" Eu perguntei completamente confusa.
"Saia daqui. Preciso conversar com sua mãe." Shao Kahn disse a Kitana friamente, ela me beijou e saiu.
Kitana achava que Shao Kahn era o pai dela. Fiquei atônita e depois furiosa.
"Como ousa tomar a minha filha? O que fez com ela?" Eu vociferei enquanto me levantava.
"Eu a adotei. Ou preferia que eu a tivesse matado?" Shao Kahn respondeu num tom ainda mais alto.
"Você apagou as memórias dela! Deturpou a mente de uma criança! Como pode?" Eu disse com a voz contida de horror. "Usurpador!"
Shao Kahn beliscou algumas frutas num prato e me explicou calmamente:
"Não posso ter filhos, pois o meu poder destruiu minha fertilidade. Ainda sou um homem viril, faço sexo muitas vezes, mas nunca engravidei nenhuma mulher. Também nunca me casei, pois nunca encontrei uma mulher digna para dividir meu império." Ele me fitava agora.
"Até que você apareceu, Rainha Sindel, com sua filha Kitana. Todos tentam me convencer a matar as duas, mas não posso esquecer de você matando os meus melhores naquele templo onde eu a encontrei. Muito menos de como sua filha foi esperta e corajosa. Acredita que quando eu a encontrei, na sala de tesouros, ela me desafiou para um duelo? Até que ela luta bem." Ele riu.
"Você não é o pai dela e nunca será."
"Tudo o que eu quero é Edenia, o Outworld e uma dinastia com uma mulher a minha altura." Shao Kahn me agarrou pela cintura e forçou meu corpo contra o dele. Prendi seu pescoço com meus cabelos e com ódio o arremessei para o outro lado do salão.
Shao Kahn se levantou e chamou os guardas furioso.
"Muito bem, pelo visto você é uma tola igual ao seu marido, pois que se junte a ele! Eu criarei Kitana sozinho então ou talvez a mate. Direi a ela que a sua mãe ficou doente e morreu! Segurem-na firme!" Shao Kahn ordenou, e os guardas me forçaram a ficar de joelhos enquanto Shao Kahn desembainhava uma espada, a mesma lâmina que matou Jerrod.
"Espere, Por favor!" Eu gritei.
Shao Kahn parou a lâmina na minha garganta e me olhou, seus olhos brilhavam como brasas.
"Eu reconsidero." Eu disse resignada. O orgulho se contorcendo dentro de mim.
Eu não me importaria de morrer, mas deixar Kitana nas mãos daquele monstro era inaceitável.
"Eu faço tudo o que quiser, apenas me deixe ficar com a minha filha, por favor, imperador."
Ele colocou seu rosto bem perto do meu. Me lembro de como seu olhar reptiliano parecia invadir a minha alma.
"Você será minha?" Ele sussurrou.
"Eu serei sua." Uma lágrima solitária escorreu. Ele a secou e sorriu.
"Soltem-na agora."
Os guardas me soltaram e Shao Kahn me levantou pela mão.
"Preparem um banquete! Convidem toda a corte pois esta noite selarei minha união com Sindel." Shao Kahn anunciou com uma gargalhada e beijou meus lábios levemente. Eu permaneci sólida. Me sentindo uma peça de troca barata.

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Segredos Venenosos
FanfictionA Imperatriz Sindel, uma vilã para alguns, uma heroína para outros. Isto é o que sobrou do seu diário pessoal. Suas memórias revelam segredos que nem mesmo a própria Imperatriz Kitana poderia imaginar. Fanfic inspirada nos personagens de Mortal Kom...