Reino

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Fui procurar Kitana, mas Shang Tsung me encontrou no corredor.

"Bom dia, majestade. A Senhora está bem?"

"Bom dia. Eu teria algum motivo para não estar bem?" Eu tentava conter minha raiva.

"Nenhum. Como uma rainha recém casada a senhora deveria estar mais que radiante." Tsung disse o mais sonso possível, como se nada tivesse acontecido.

"Não pense que esquecerei o que fez ao meu marido, ao verdadeiro rei. Pode ter uma boa posição na corte, mas não irá muito longe. Você é um traidor e jamais terá o poder que almeja."

"Um dia a senhora entenderá que tudo isso foi pelo bem de todos."

Me limitei a fuzilá-lo com o olhar e segui procurando Kitana. Será que Tsung tentou me drogar? Ou seria apenas um mal estar devido aos vários dias na prisão?

Senti que alguém me observava e percebi uma grande sombra. Shokan. Me virei e dei um belo chute no estômago na criatura. Para a minha surpresa, o Shokan era uma fêmea.

"Majestade, por favor. Não pretendo fazer mal-"

"Quem é você e por que estava me seguindo?"

"Sou Sheeva. O Imperador me designou para servi-la." A Shokan se levantou e realmente era uma fêmea muito alta e forte.

"Ah, agora serei vigiada. Nunca mais se aproxime pelas minhas costas ou será assassinada."

"A senhora sabe que os Shokan são seus aliados. Apenas zelo pela sua segurança."

"Eu a chamarei se necessitar de algo."

Resignada, Sheeva se afastou e foi embora.

Respirei fundo, o dia mal começara e minha paciência já estava no limite.

Encontrei Kitana treinando com Jade. Jade era alguns anos mais velha e muito habilidosa com a vara. Kitana sabia lutar com muitas armas, mas ainda não possuía uma arma ou estilo favoritos. Acompanhei a luta, Jade saiu vitoriosa e Kitana foi ao meu encontro.

"Mamãe! A senhora está bem? Eu a escutei gritando ontem à noite e tive medo."

Ela ouviu. Fiquei envergonhada.

"Estou bem sim, você deve ter sonhado. Que tal treinar com a mãe um pouco? Pegue seu bastão. Você também Jade, as duas contra mim."

E um combate começou. Jade tinha cerca de 16 anos, quase uma mulher, uma lutadora formidável. Kitana estava com 8 anos e apesar da agilidade ainda tinha muito o que aprender, além disso não possuía uma arma para se especializar, o que a preocupava.

Um momento depois, derrotei as duas que caíram exaustas. O treino me revigorou.

"Muito bem! Podem fazer uma pausa. Mais tarde lutamos de novo. Preciso resolver uns assuntos."

As meninas foram se hidratar e eu fui até a sala do Conselho Real, queria saber mais sobre os rebeldes que Shao Kahn havia ido enfrentar e quem ele havia designado.

Quando entrei vi que os membros estavam todos mudados e Shang Tsung estava lá, como eu já esperava. Procurei meu lugar e não o encontrei, logo sentei no trono de Shao Kahn. Me olharam com desconfiança.

"Bom dia a todos. Gostaria de lembrá-los que eu ainda sou a rainha. Espero ter a minha cadeira de volta aqui o quanto antes."

"Naturalmente." Shang Tsung se levantou "Seu lugar ainda não foi colocado, pois a sala assim como todo o reino passa por uma série de reformas."

"As quais desejo ser atualizada. Começando pelos rebeldes que meu marido foi enfrentar no leste, em plena lua de mel, já que vocês não foram competentes o suficiente."

Houve um murmúrio. Alguns se sentiram provocados, enquanto a maioria tentou explicar que o próprio imperador fez questão de ir até lá pessoalmente. Me mantive a parte do "plano de reinado" de Shao Kahn e descobri que na verdade era um plano de dominação e exploração. Eu não podia fazer quaisquer modificações sem a presença dele.

Me preparava para deixar a sessão quando Shao Kahn chegou, com seu martelo ensanguentado. Ele me olhou de cima a baixo e depois cumprimentou todos. Todos saudaram sua vitória, o aplaudiram e o bajularam. Discretamente eu me retirei da sala e fui para a sacada, pude ver alguns focos de incêndio em Edenia. Minha cidade estava sangrando, meu povo estava morrendo.

"Não está feliz com a minha vitória?" Shao Kahn perguntou ao se proximar.

"Matar civis a sangue frio não é uma vitória." Respondi friamente "Mais parece que você quer criar um deserto de escravidão."

"É apenas a transição para a monarquia."

"Havia outro modo! Poderíamos ter negociado, nós dois! Poderíamos encontrar uma saída vantajosa para ambos, não essa destruição em massa. Às vezes é preciso usar a força, mas sempre é preciso saber negociar."

"Você sempre foi boa em negociar, Sindel. Acha que pode me ajudar?"

"Tenho certeza."

"Então voltemos ao Conselho Real. Seu lugar a espera."

Foi uma tarde de muita discussão. Usei de meu conhecimento sobre Edenia e expliquei tudo o que cada região precisava e como poderíamos conquistar a todos sem um derramamento de sangue, usando a minha influência e diplomacia. Muitos discordaram de mim, mas Shao Kahn permaneceu em silêncio. Por incrível que pareça o usurpador ouviu a todos e afirmou que na próxima semana apresentaria suas decisões.

Ao crepúsculo todos deixaram a sala enquanto eu e Shao Kahn permanecemos em silêncio.

"Eu sou muito mais eficiente que Jerrod, mas logo você se acostuma." Ele me tocou e eu me esquivei.

"Respeite a memória do meu marido!"

"Eu sou o seu marido!" Num acesso de fúria, ele limpou uma mesa com o braço e me jogou sobre ela. Eu tentei reagir mas ele já havia me dominado.

"Sindel, minha querida esposa. Você pode governar comigo se quiser, pode dar seus palpites à vontade, mas saiba que eu sou o Imperador. Conheça o seu lugar."

Ele abriu as minhas pernas e tocou minhas partes íntimas enquanto me segurava. Eu cravei minhas unhas em seus olhos, arrancando sua máscara. Em seguida consegui chutá-lo e me livrei.

"Eu não sou sua prostituta!" Joguei uma mesa sobre ele e logo começamos um combate. Destruímos boa parte da sala do conselho. Embora eu me esforçasse, eu sabia que não era capaz de derrotá-lo.

O lancei para longe de mim e corri, corri o mais longe que pude, mas não importa para onde eu fosse, eu não poderia fugir daquele palácio, não poderia fugir de Shao Kahn. Quando alcancei uma dos pequenos santuários e me escondi, eu rompi em prantos. Eu estava enojada não só pelo o que Shao Kahn fez, mas pelo que eu fiz. Eu permiti que aquele casamento falso acontecesse, permiti que ele me tratasse assim. Como eu pude aceitar um usurpador? 

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