"Deuses antigos, se existirem, me ajudem."
Sheeva sussurrava enquanto olhava para os itens mágicos espalhados sobre a mesa. Magia nunca foi o seu forte. Estudar elementos, filosofia, ponderar, pff. Típico de quem não se garante no soco, pensava consigo. Mas ela precisava proteger a rainha, que provavelmente estava a mercê de dois feiticeiros agora, Shang Tsung e Quan Chi, que não disfarça sua crueldade e muito menos sua antipatia pela rainha.
"Sheeva... posso te perguntar uma coisa?" Perguntou um jovem Shokan, que a rodeava.
"Já perguntou."
"Você gosta da imperatriz?"
"Gostar? Bem..." Sheeva ficou surpresa e depois irritada. "Malak eu não te dei serviço?"
"Pra você se interessar por magia e ficar brava assim é porque deve estar gamada nela." Malak deu um sorriso malicioso.
"Vá procurar o antídoto ou eu vou te dar uns 4 tapas na orelha!"
"É contrapoção..."
"Cai fora!"
Malak girou nos calcanhares e saiu apressado.
Sheeva apertou os olhos. Sindel assombrava seus pensamentos nos últimos anos. Era uma relação platônica, pois havia um abismo social que as separavam, mas ao menos tempo ambas se preocupavam com o seu próprio povo e isso as unia pois embora fossem de mundos diferentes, elas tinham os mesmos ideais.
"Um dia me tornarei rainha. E essas merdas não vão mais acontecer comigo. Não haverá patroas para eu me apaixonar e nem homens no meu caminho." Ela pensava, como se estar numa posição de poder a tornasse imune a todos os sentimentos desagradáveis.
~.~
Sentimentos desagradáveis, era o que Sindel sentia. A constante sensação de estar fazendo tudo errado, por mais que ela se esforçasse. Sua filha estava segura, o reino ou pelo menos a maior parte dele, estava bem. Ela e Shao Kahn tinham um bom relacionamento, ela vivia com conforto. Mesmo assim havia aquela ansiedade que lhe tirava o sono e às vezes ela saia para andar pelo palácio. Solitária como uma alma sem descanso, ela vagava e vagava.
"Majestade. Posso lhe falar?"
Sindel ouviu a voz familiar na escuridão.
"Sheeva! Há quanto tempo!"
Sindel sorriu e a abraçou. Sheeva acariciou os cabelos da rainha e desejou que aquele perfume ficasse com ela.
"Majestade eu trago notícias ruins. Podemos falar em particular?"
"Claro, venha. O que houve?"
"Lembra-se das plantas que me pediu para investigar?"
"Ah, aquela tolice-"
"Não, não foi tolice. Aquelas plantas fazem parte de um feitiço de persuasão."
"Como?"
"Olha eu não sei usar os termos chiques que os magos usam, mas resumindo: aquelas plantas deixam você influenciável, mais fácil de manipular e são muito afrodisíacas. Não é por acaso que Shao Kahn fez um jardim delas só para você, elas são veneno, um veneno que te faz fazer o que ele quer."
"Está me dizendo que fui envenenada e manipulada por Shao Kahn através de plantas?" Sindel disse incrédula.
"Sim, eu nunca gostei dessas coisas e-"
"Você me acha burra Sheeva? Acha que não sou capaz de tomar minhas próprias decisões?"
"Não senhora, eu jamais pensaria isso! Você me pediu para investigar e eu-"
"Investigou errado!"
"Não senhora, eu tomei todo cuidado. Elas vieram do Norte, lembra-se que ele vivia por lá no começo do casamento, falando com magos-" Sheeva começou a tremer.
"Ele me deu um colar que detecta veneno." Sindel mostrou a pedra a Sheeva.
"Esse colar não funciona com esse tipo de planta..."
"Já chega, Sheeva. Está falando absurdos. Estou cansada, vá embora."
"Senhora estou cumprindo meu trabalho que é protege-la. Jamais lhe diria informações sem verificar a veracidade delas." Sheeva sentia sua garganta se fechar.
"Eu posso me cuidar sozinha. Vá embora, não preciso mais dos seus serviços."
"Se acredita tanto nele, majestade, então porque me pediu para investigar as flores?"
"Saia, Sheeva. Agora."
Sheeva saiu cabisbaixa e com pressa, mordendo seus lábios até sangrarem. Chegou nas catacumbas e chorou copiosamente. Em seguida socou e destruiu vários objetos.
Sindel ficou ainda mais ansiosa. Agora ela reparava como aquelas flores estavam em todos os lugares que ela ia, até mesmo no seu cabelo. Num acesso de ódio ela as arrancou do cabelo e tacou um vaso delas com força ao chão, bebeu um pouco de vinho para se acalmar e voltou para o quarto.
O feiticeiro Quan Chi observava a cena, a distância.
~.~
Sindel acordou com os lábios de Shao Kahn roçando seu pescoço.
"Estou cansada, dormi muito mal."
"Vai se atrasar, esposa."
"Maldição."
Sindel se levantou num pulo e se arrumou. Olhou para os 4 vasos de flores e fez uma careta de desgosto.
"O que foi?" Shao Kahn perguntou.
"Estou enjoada dessa decoração, não aguento essas flores em tudo que eu olho."
"Pensei que gostasse delas."
"Não gosto mais, quero outras. Melhor, não quero mais nenhuma planta aqui."
"Mande as criadas retirar algumas, então."
"Algumas não, todas! Por que você quer que elas fiquem?"
"Ora... eu não disse nada. Que mal humor. Acho que alguém precisa de café da manhã." Ele a beijou até que ela sorrisse novamente, depois seguiram para o Enclave Real.
~.~
"Paz? Paz é para mulheres e covardes. Enquanto estamos nesses diálogos inúteis os rebeldes se organizam, além disso como esperamos conquistar o plano terreno com tréguas e acordos?" Quan Chi provocou uma discussão. A cada dia ele ganhava mais apoiadores.
De fato, conquistar o plano terreno era um sonho antigo para Shao Kahn, que sempre queria mais e mais, mas agora ele não via necessidade. Algo dentro dele dizia que era hora de parar. Talvez tivesse se acostumado com a estabilidade, talvez Sindel tivesse amolecido seu coração.
"Apenas um tolo se dedicaria a conquistar outra terra sem nem ao menos administrar o território atual de maneira adequada." Sindel respondeu a provocação.
"E desde quando tréguas e acordos ascendem impérios?" Quan Chi retrucou.
"Basta!" Shao Kahn os interrompeu "Essa discussão não vai chegar a lugar algum. Ainda não é o momento de conquistar o plano terreno, precisamos de mais apoio se quisermos vencer Raiden. Não quero mais falar disto."
A sessão se encerrou e Shao Kahn se retirou com Sindel.
Shang Tsung se aproximou de Quan Chi.
"Não conseguimos convencê-lo como Sindel o convence."
"Nunca pensei que Shao Kahn seria um escravoceta" Quan Chi encarou Sindel a distância "Estou lhe dizendo, essa mulher é quem governa tudo e não podemos mais influencia-la."
"Do que está falando?"
"Ela descobriu sobre as flores, não viu como há cada vez menos plantas?"
"Teremos que agir logo se quisermos vantagem sobre o plano terreno." Shang Tsung franziu o rosto, pensativo.

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Segredos Venenosos
FanfictionA Imperatriz Sindel, uma vilã para alguns, uma heroína para outros. Isto é o que sobrou do seu diário pessoal. Suas memórias revelam segredos que nem mesmo a própria Imperatriz Kitana poderia imaginar. Fanfic inspirada nos personagens de Mortal Kom...