Trégua

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Era madrugada, as únicas pessoas de pé eram os guardas do palácio. Tomei o cuidado de marcar o encontro nas catacumbas, o lugar mais isolado. As pedras eram úmidas, a iluminação escassa. Encontrei Tanya lá, usando dourado e uma expressão de tédio. Ela me olhou surpresa.

"Olá, majestade" Ela fez uma reverência. "Eu esperava o imperador, mas confesso que estou mais feliz em ver você." Ela sorriu.

Tanya possuía os modos mais polidos que alguém poderia ter, com sua elegância e carisma ela sempre passava confiança facilmente a todos. Menos pra mim. Eu sorri para ela sarcasticamente.

"Também estou feliz Tanya. Finalmente descobri a traidora imunda que você é."

"Majestade, eu não disse nada do nosso plano ao imperador Shao Kahn-"

"Me poupe, víbora! Como pode trair sua própria nação? Fingir resgatar e depois enviar seu próprio povo para a morte! Sua cínica maldita eu confiei em você como confiava em seus pais!" Eu rugia agora, me esforçando para não tremer de raiva.

"Ah por favor majestade, não vamos apelar para o emocional." Tanya permanecia calma "Eu iria contar tudo para a senhora hoje mesmo. Veja bem, não havia lugar para aquelas pessoas no reino. Eram miseráveis e não aceitavam o imperador. Só iriam nos trazer problemas e a senhora bem sabe que já temos tantos..."

"Aquelas pessoas eram parte de Edenia e agora se foram por sua causa."

Tanya conteve um riso. "Edenia não existe mais. Agora há somente O Grande Reino de Shao Kahn. Quem não se adapta a ele, morre. Vossa Majestade Imperial, já deveria saber melhor que ninguém... Eu apenas fiz o que tinha que fazer."

"E agora receberá sua recompensa por isso."

Ativei minha magia enquanto Tanya sacava seus machados, o combate começou. Tanya era muito habilidosa e rápida, eu confesso. Ela conseguiu cortar meu rosto e quase me queimou com uma bola de fogo. Mas ela não possuía a mesma experiência e cabeça fria que eu. Seus golpes eram impulsivos e imprudentes, tanto que ela tomou uma surra dos meus cabelos e foi ao chão depois de ouvir um dos meus gritos.

"Por favor Rainha, não me mate eu imploro! Eu apenas estava fazendo meu trabalho..." Ela choramingou.

"E eu estou fazendo o meu. A morte é boa demais para você, criança." Eu disse, destampando um frasco.

Tanya protestou o quanto pode, mas apertei sua boca e a fiz beber todo o conteúdo. Ela começou a convulsionar violentamente.

Eu a deixei lá e voltei para a cama coberta de seda onde Shao Kahn dormia. Tive um sono tranquilo e pesado.

~.~

Me levantei tarde naquele dia, tomei um banho e fui ao conselho real, sem a mínima pressa.

"O que foi isso no seu rosto?" Shao disse acariciando minha face, assim que eu cheguei.

"Você pegou pesado comigo ontem." Eu sorri.

"Ora, você que foi uma rainha muito má." Ele apertou minha cintura e em seguida ficou sério.

"Aconteceu alguma coisa?" Eu perguntei.

"Lembra-se de Tanya, a embaixadora? Ela foi encontrada no porão. Parece que foi atacada e envenenada."

Devo dizer, eu sempre fui uma ótima atriz.

"Tanya? Oh por todos os deuses antigos! Como isso foi acontecer?" Comecei a tremer e chorar de choque. Alguns servos me trouxeram uma cadeira, um lenço e um copo d'água.

"Será que nem no palácio estamos seguros?!"

"Estão investigando tudo. Ela está mais estável agora, porém dormirá por um bom tempo. Ela foi intoxicada."

"Eu quero vê-la agora!"

Enquanto me levavam pude ouvir Shang Tsung dizer "Viu como ela ficou abalada? Também não foi ela."

Ao chegar no hospital vi Tanya dormindo. Pedi para que me deixassem a sós com ela. Me aproximei da cama.

"Olá traidora... Espero que aproveite seu descanso, vai ser bem longo... Se em algum dia você acordar, vai ficar muito sequelada... vai rastejar como uma cobra e vai traçar seus esquemas imundos com a caneta na boca e olhe lá hahaha."

Shang Tsung entrou no quarto.

"Eu estava me lembrando dos momentos felizes que tivemos." Eu disse chorosa.

"É uma lástima, majestade. Tanya era muito talentosa. Mas veja, o lugar dela não pode ser ocupado por qualquer um. Seria bom se a senhora recomendasse alguém, ou mesmo o assumisse."

"Vou pensar a respeito disso."

E sim, logo me tornei embaixadora. Um papel que me dava muito mais liberdade para agir, ocultei rebeldes e simpatizantes de Jerrod. Acolhi os mais fracos. Até que conquistamos um momento de trégua muito próspero para todos. Shao Kahn estava satisfeito. E eu também. Eu, ele e Kitana finalmente vivíamos bons anos em harmonia.

Um dia, Sheeva chegou até a minha sala.

"Imperatriz gostaria de falar com a senhora..."

"É importante?"

"Sim, é sobre os itens mágicos que me pediu para investigar."

"Ah deixe isso pra lá."

"Imperatriz eu descobri algo muito desconcertante. Eu insisto em lhe dizer você pode ter sido enganada."

"Sim, eu fui enganada por Tanya e já resolvi tudo, fique tranquila. Adeus."

Eu me arrependo tanto de não ter ouvido Sheeva naquele dia.

~.~

Enquanto escovava meus cabelos, notei Shao me estudando com o olhar.

"Algum problema?" Eu perguntei.

"Nenhum... Você parece contente."

"E por que eu não estaria? Finalmente teremos uma trégua, eu consegui um cargo novo, Kitana está crescendo bem, sou casada com um homem fogoso e compreensível."

Ele riu maliciosamente.

"Pensei que você estaria mais triste pela Tanya, vocês eram tão... próximas." Ele me encarou.

"Eu estou. Mas sei que ela ficará bem."

"Só queria descobrir quem fez isso." Shao me olhava nos olhos agora.

Eu respirei fundo e fechei meus olhos. Tive de contar. Ele ouviu serenamente, como se já soubesse de tudo.

"E por que você fez isso?"

"Porque ela era uma traidora, conspirava contra você, contra nós. Abrigando todos aqueles rebeldes miseráveis. Aquilo tinha de parar. Além do mais, eu não a matei! Não sei porque está tão preocupado. Ela era sua amante por acaso?"

"Não. Eu pensei que-"

"Você se correspondia bastante com ela."

"Eram só negócios, eu juro, Sindel. Pode ler todas as cartas."

"Não... Eu confio em você." Eu disse sorrindo "Mas se você me trair, terá um final muito pior que o de Tanya."

"Humm esposa, você fica tão gostosa quando faz ameaças..." Ele lambeu meu pescoço e logo me levou para a cama novamente.

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