"Às vezes, a pessoa certa entra em nossas vidas na hora errada".
- Nicholas Sparks
POV Cassie
De todas as coisas ruins que eu já vivi, aquela foi de longe a mais cruel. Deitada naquele chão úmido, escutando apenas o som da água passando perto de mim. Olhei para aquela arvore enorme e pensei o porquê aquilo tinha que acontecer daquela maneira, mas isso já não importava mais, não tinha mais volta e eu nunca mais o veria.
Tudo parece tão igual, a vida, as pessoas seguindo seu caminho. Como dizem, tudo continua, você só não sabe como. E o que importa é o que carregamos dentro de nós, e eu carrego junto comigo todos os dias, a dor, a culpa e a fragilidade que a vida me mostrou, da forma mais cruel, que não temos controle de nada e que não posso fazer o tempo voltar, não posso traze-lo de volta, que tudo acabou e qualquer coisa que eu recorde agora, vai doer.
Em todas as fases do luto eu acho que acabei parando em alguma. Naquela que por minha culpa, somente minha, perdi a pessoa mais importante da minha vida.
Não sei exatamente quantas horas passei aqui, só sei que não foram poucas. Eu não sabia que respirar o ar puro e um pouco de sol poderia fazer tão bem a uma pessoa. Levanto, pego minha mochila e caminho até a estrada em direção a cidade.
Depois de algumas horas andando sem rumo paro em um parque e sento no chão ao lado de uma árvore. Preciso arrumar um emprego, depois arrumar algum lugar para ficar, apesar de saber que não vai ser fácil. Quando perguntarem porque não tenho experiência nenhuma e eu ter que dizer que estava na cadeia.
Recomeçar a vida, após você ter matado seu namorado, não é fácil. Passei três anos presa após confessar a culpa pela morte de Henry. Não sei bem como essas coisas funcionam, na verdade, eu nem quis saber, acho que ainda estava em choque com tudo que aconteceu. Eu perdi a única pessoa que eu amei na vida e ele não merecia isso, pessoas boas não merecem ter um final tão trágico, tão doloroso. E saber que eu causei tudo isso me fez desistir completamente de tudo, eu não tenho mais ninguém, não tenho nada, além da dor que sinto todos os dias ao acordar. Já ele, teria um futuro incrível pela frente, pessoas que o amavam, e isso parece tão injusto, ele ter morrido e eu não.
Enxugo algumas lágrimas que se formaram em meu rosto e quando eu menos espero, um animal feroz e raivoso pula em cima de mim e começa a lamber meu rosto. Começo a rir com sentindo cocegas.
– Olá, garota, você não parece nada com um animal bravo e raivoso – aliso seu pelo. Ela é um Husky Siberiano, ruivo e branco.
– Maya sua malandrinha – uma voz masculina chama ela – me desculpa, ela não costuma fazer isso – olho para ele e quando nossos olhos se encontram sinto algo estranho, como se eu já o conhecesse, mas não faço a menor ideia de onde.
– Tudo bem – sorrio fraco, ele segura na coleira da Maya e sai puxando ela. Mas não antes de me olhar e ficar me encarando por alguns segundos. Pigarreio tentando quebrar esse clima estranho entre a gente – eu tenho que ir – sorrio fraco e levanto para ir embora.
Já está quase anoitecendo, e minha única esperança de conseguir algo com o Gail. Ele é o dono de um bar onde eu trabalhava quando era mais nova. E não tenho muitas alternativas, a maioria das pessoas dessa cidade me conhece e sabe o que fiz, ninguém vai arrumar um emprego para mim, provavelmente ele é a única pessoa dessa cidade que não me odeia.
– Olá, Gail – sento em cima da mesa de sinuca atrapalhando o jogo dele e de uns senhores que estão me olhando com cara feia.
– Cassie, o que faz aqui? – Ele pergunta desconfiado. Ele é um senhor de quase setenta anos, dono de um barzinho no centro de Londres. A falecida mulher dele, dona Neide, era um amor de pessoa e sempre fazia bolo de chocolate para mim.
– Não posso visitar o senhor?
– Não, o que você aprontou, você não fugiu, não é? – Coloco a mão no coração fazendo gesto como se estivesse chocada, cadê minha credibilidade?
– Preciso de um emprego, vou morar no apartamento de cima – pego as bolinhas e começo a colocar nos buraquinhos.
– Não, melhor não, garota – ele vai até umas mesas e começa a limpar.
– Por favor, eu não tenho onde ficar, muito menos grana, você é minha única opção. Ninguém vai dar emprego para uma ex presidiaria e não, eu não fugir, apenas fui liberada mais cedo por boa conduta. Apesar de achar super injusto eu ser presa apenas por três anos e ele ter perdido a vida.
Henry teria um futuro brilhante pela frente, ele era o melhor atleta na patinação artística de Londres. Tinha acabado de ganhar uma bolsa de estudos, ele era o filho perfeito, o amigo perfeito, o namorado, mas teve o azar de me conhecer.
– O apartamento em cima do bar vai desocupar em dois dias, os inquilinos vão se mudar, o aluguel é barato e posso descontar das suas horas extras.
– Sério que vai me contrata? Obrigada – abraço ele.
– Não vou te deixar na rua, garota. A Neide me mataria - sorrio lembrando dela - você pode achar algum lugar hoje numa pensão que tem a dois quarteirões daqui, entrando a direita.
– Vou tentar e até amanhã, Gail – saio pulando.
Não acredito, isso vai ser ótimo, o salário não é muito bom, mas já é algo. Assim vou conseguir juntar dinheiro e vou embora o mais rápido possível dessa cidade.
Na verdade, eu nem sei o que me trouxe aqui, eu não tenho nada nem ninguém, mas parece que algo está me prendendo a este lugar.

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Um casal quase perfeito
Любовные романыCassie é acostumada a mudanças. Ela está presa em um mundo, onde tentar buscar a felicidade é sua meta. Ela compreende que importa apenas adaptar-se e encontrar tudo aquilo que sempre sonhou em cada novo movimento de sua vida. Aos vinte e um anos v...