10/12/1995
Já se passaram 2 meses desde aquele dia que não sai da minha mente. Bento e eu transamos mais algumas vezes, todas tão mágicas quanto a primeira.
Não contamos pra absolutamente ninguém, com medo do que poderia acontecer. No palco nossa energia era demais, estávamos muito conectados, como se fossemos um só.
Entramos em miniturnê há 1 semana, na região de Brasília e Goiás. Eu não sei o porquê, mas ultimamente ando muito sem fôlego. Foram 3 shows que não consegui acompanhar o pique dos meninos na hora de pular e cantar. Em uma dessas vezes, cheguei a quase desmaiar de tontura, na hora de girar. E eu nunca fui assim, sempre fui enérgica.
Talvez seja só o cansaço da turnê.
Enquanto pensava, eu dobrava as minhas roupas para o último dia de show em Brasília.
- Nossa, tenho que lavar essas roupas urgentemente. - comentei só pra mim - Tô igual molambenta com essas roupas.
Ao tentar colocar o uniforme dos irmãos metralha, percebi que mesmo folgado, não estava servindo mais nos meus braços. Estranho, afinal sempre foi um uniforme muito folgado pra mim. Dei de ombros e vesti mesmo assim.
Ouvi a porta se abrir e em seguida braços se enrolarem em minha cintura. Sorri, sabendo quem era. Eu tinha um quarto de hotel só pra mim, paguei a mais por ele pra ter um pouco de privacidade. Bento sorriu enquanto beijava meu pescoço, pronto pra me virar e me beijar. Fomos interrompidos por batidas na porta. Ele se jogou na cama antes que pudéssemos ser pegos.
- Juzinha mi amore está pronta? - Samuel colocou a cabeça dentro do quarto, com um sorriso enorme.
Eu virei enquanto acertava o chapéu em minha cabeça e assenti dando um leve sorriso.
- Vamos vocês dois. Aliás Ju, você está melhor? - ele entrou no quarto, segurando as minhas mãos. - Talvez você tenha comido demais no show de ontem.
- É Samu, talvez tenha sido isso mesmo. Não existiria outro motivo pra eu passar mal daquele jeito. - Suspirei - Mas vamos logo, vamos arrebentar nesse show! - sai empurrando-o e Bento, trancando o quarto em seguida.
Bento nunca falava nada nessas situações, parecia mudo.
Ao sair do quarto, demos de cara com uma menina, que estava acompanhando Simone.
- Oi, pessoal, está tudo certo? - Simone perguntou. - Essa aqui é a Ana, ela ganhou uma promoção da rádio e vai poder ver o show dos bastidores.
- Oi Ana, é um prazer. - falei, apertando a mão dela.
- Olá, o prazer é meu. - Ela disse, olhando entre meus olhos e a minha mão estendida na frente dela. Em seguida, desviou o olhar para Bento e Samuel.
Eu me senti constrangida, nunca fui tratada assim por nenhuma fã. Geralmente, elas preferem os meninos mesmo, mas nunca chegaram a me ignorar.
- Oi Ana, é um prazer viu? - Samuel apertou a mão dela e ela sorriu, puxando-o para um abraço em seguida.
Bento apertou a mão da menina sem falar nada. Ele sabia o que estava acontecendo e parecia constrangido quando Ana o puxou para um abraço.
Samuel me olhou incrédulo e pude ver Bento ficar vermelho. Ana o soltou, mas sua expressão mostrou que queria mais.
- Hã... Vamos, Ana. - Simone disse, puxando-a. - E vocês, pra Kombi.
Antes que eu pudesse raciocinar sobre o que aconteceu, Bento e Samuel me puxaram até o elevador do prédio.
Seguimos de Kombi até o pavilhão onde aconteceria o show. Eu estava emburrada, os meninos tentando descobrir o que tinha acontecido. Graças a Deus, a Miss Simpatia não foi no mesmo carro que a gente.
Fizemos o show, como sempre foi muito bom sentir a energia do público. Pulamos, corremos e gritamos. Nesse show eu dei o melhor de mim, mesmo sem energia. Descontei toda a raiva que eu sentia na guitarra e no vocal, pois hoje me colocaram pra cantar Débil Mental e Shopis Centis. Foi o melhor show de nossas vidas.
Ao sair do pavilhão, fomos parados por alguns fãs que queriam tirar fotos e pediram autógrafos. Atendi a todos com a maior paciência do mundo, ainda chateada pelo acontecimento de mais cedo.
- Ju, vamos? - Bento chamou, me puxando.
Assenti, me despedindo dos fãs e entrando na Kombi.
Naquela noite, fui dormir pensativa. Bento e eu não fizemos nada dessa vez, apenas dormimos juntos, o que foi um sacrifício porque ele quase foi pego vindo até o meu quarto.
15/10/1995
Após os 2 últimos shows, não havia muito o que fazer na cidade de Brasília, então resolvemos voltar para Guarulhos 1 dia mais cedo para organizarmos como iria ficar a casa onde dormimos nessas férias.
Mesmo com a passagem de dias, eu ainda estava chateada com o ocorrido. Além disso, eu só conseguia pensar em como o voo estava me deixando enjoada. Tentei cutucar Bento, que dormia na poltrona do lado, mas ele estava em um sono extremamente pesado.
Em desespero, comecei a hiperventilar, com medo de vomitar de verdade e sujar o jatinho alugado.
- Ju, tá tudo bem? - Sérgio, que estava no banco de trás, perguntou. Eu fiz que não com a cabeça.
Sentia que o mundo inteiro estava rodando, minha boca acumulava muita baba e meu corpo não obedecia aos meus comandos.
- Ju, você tá meio verde. Quer um saco pra vomitar? - Júlio, que estava na poltrona do lado, disse. Ele parecia preocupado.
Bento finalmente acordou e me olhou com cautela. Ele nunca sabia como agir em situações onde o pensamento deveria ser rápido. Mas ainda assim, ele parecia extremamente preocupado.
Eu não podia culpar eles, por conta da minha fobia de avião eu já havia vomitado umas boas vezes. Mas nunca me deixam pegar o ônibus, impressionante.
- Eu... Eu preciso ir ao banheiro. - Consegui balbuciar, soltando o cinto.
E eu levantei, com a cara e a coragem, pra cair logo em seguida.
Eu havia desmaiado, caindo no chão igual um saco de batatas. Os meninos me disseram que por pouco, não bati a cabeça na quina de uma poltrona. Foi tão rápido que parecia um piscar de olhos.
- Ué, por que vocês estão todos a minha volta? - perguntei, levando a mão a cabeça - Ai, o que aconteceu?
- Você deu um puta desmaio, parecia que tinha morrido. - Dinho riu de forma desesperada, estendendo a mão para eu me levantar. - Tá tudo bem? Não assusta a gente assim!
Eu dei uma risadinha, mas por dentro estava meio assustada. Até onde a minha fobia por avião poderia me levar? A preocupação no olhar de todos era evidente, mas não conseguia evitar situações como essa.

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E agora, Creuzebeck?
FanfictionO que fazer quando um beijo desencadeia uma série de mudanças na sua vida? Esta história se trata de uma homenagem a banda mais arteira do Brasil. As personagens não são de minha autoria, somente a personagem Juliana Souza. *Comentários maldosos re...