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15/12/1995

Hoje era o grande dia da minha viagem e eu estava com absolutamente tudo preparado.

- Ju, você volta quando? - Bento disse, me ajudando a fechar a mala. - Queria passar um tempo a sós com você, pitchulinha.

Eu sorri, depositando um selinho em seus lábios.

- Não se preocupa, eu volto rapidinho. - Sorri.

Ele assentiu e me abraçou, beijando minha testa em seguida. Bento foi chamado por Paulinha para resolver algo em seu quarto e vi que ele havia deixado algo em cima da minha mala. Uma caixinha de madeira com uma estrela dourada em cima. Abri pra ver o que era, com mil possibilidades se passando em minha cabeça.

Ao abrir, a caixinha tocava uma música, eu reconheci os acordes como sendo da nossa música "Uma Arlinda Mulher".

- Mas o quê? - dei uma risadinha, vendo o bilhetinho e o saquinho de veludo azul escuro dentro da caixinha.

No bilhete dizia, "Você é minha Arlinda Mulher." e dentro do saquinho havia um camafeu, um colar onde era possível guardar fotos. De um lado, havia uma foto 3x4 minha e de Bento, que havíamos tirado em um dia aleatório e do outro lado havia uma foto minha dormindo ao lado de Mr. Moustache, meu gato.

No momento em que vi, me emocionei. Ele me conhecia muito bem e sabia as coisas que eu mais gostava. É muito cedo pra me apaixonar por ele?

...

Dia 16/10/1995 eu cheguei no Canadá, de mala e cuia.

Meus pais me recepcionaram e eu nunca estive tão feliz em vê-los. Maria e Richard, as pessoas mais doces que alguém poderia conhecer.

Na primeira semana, fizemos nossos passatempos preferidos. Jogamos dama, assistimos Friends, fizemos anjos de neve e até mesmo um mini iglu no quintal de casa.

Os dias se passaram rápido demais até o natal. Meu irmão John e minha cunhada, Lucy, chegaram no dia 24/12, trazendo o pequeno Lucas nos braços. A criança mais quietinha e doce que eu já vi. Ao conhecer o meu sobrinho, eu fiquei sem palavras. Toda a raiva que eu estava guardando de John, se foi. Eu só conseguia pensar no menino loirinho de olhos azuis como o céu, na forma que sua boca era rosinha e suas mãos eram miúdas o suficiente pra eu ter medo de quebrar.

- Pelo menos algo de bom você fez, na sua vida. - Eu provoquei John, que parecia disposto a deixar a briga de lado por um tempo. Nós nos acertamos naquele dia, pois não poderíamos passar o natal sem olhar na cara um do outro.

Não demorou muito e Silvio, meu outro irmão, também chegou. Ele trouxe a namorada, Katy, que era um amor de pessoa.

No Natal, eu liguei para os meninos. Todos diziam estar morrendo de saudades, desejando a minha volta. Valéria e Dinho estavam noivos, Sérgio e Samuel estavam com os pais. Júlio havia viajado pra Bahia com uma suposta namoradinha e Bento havia ido para Cotia visitar os parentes. Contei a eles que havia perdoado meu irmão e que voltaria em janeiro, antes das férias acabarem.

No ano novo, tiramos uma foto em família com todos presentes, minha mãe fez questão de tirar uma só minha e de meus irmãos. Segundo ela, era pra completar o mural de crescimento. Coisas de mãe.

A cada dia que passava, eu ia me apaixonando por meu sobrinho, que era um príncipe na terra.

- Você não sente vontade de me dar um netinho, filha? - minha mãe perguntou, enquanto lavava a louça. - Eu estou ficando velha e Silvio logo logo vai me dar um. Só vai faltar você.

- Ah mãe, deixe de besteira. - Sorri, secando os pratos. - Eu tenho a minha carreira e... Bem, não tenho um namorado. - Segurei meu camafeu, suspirando.

- Filha, você tem certeza que não tem um namorado? - ela disse, me olhando - Desde que você chegou, não para de falar nesse seu colega de banda, o Bento.

- É complicado, mamãe. - Eu disse - Nós temos... Alguma coisa. Acho que ninguém entenderia.

- Ué, por que minha filha? - ela questionou, colocando as mãos na cintura.

- É difícil de explicar, mas nem todos da nossa produção iriam entender.

- Certo, meu amor. Talvez, seja melhor assim pra vocês dois. - Ela deu de ombros e voltou a lavar a louça. - Mas tome cuidado, certo? Não queremos uma bebê surpresa.

Eu dei risada, era uma coisa impossível já que eu e Bento nos protegíamos sempre. Exceto... Na nossa primeira vez.

E então, liguei os pontos. Os desmaios, as tonturas e enjoo. Que dia era hoje? 27/12. Minha menstruação estava 3 semanas atrasada.

- Ai Meu Deus. - falei, assustando a minha mãe

- O que foi menina? Quer me matar do coração? - ela disse

- Nada mãe. - Gaguejei, guardando os pratos. - Onde fica a loja de conveniência mais próxima daqui?

- Fica há uns 5 minutos a pé, próximo da escola onde você estudou... Por quê? - me olhou desconfiada.

- Nada, é que... Estou com uma cólica terrível. - Fingi uma careta de dor - E sei que a senhora não tem o remédio que eu tomo aqui, então vou lá comprar tá bom? - deixei o pano de prato em cima do balcão e saí andando.

- Mas, Juliana, a louça não acabou menina, volta aqui! - ela me gritou - Essa menina, viu... Silvio, vem me ajudar!

Antes que eu pudesse ouvir mais algo, eu peguei meu casaco e saí correndo pra loja de conveniência e como minha mãe havia dito, era bem próxima.

Entrei na loja e comprei um chiclete, uma revista e dois testes de gravidez, me certificando de que o local possuía um banheiro.

Peguei os testes e segui até o banheiro, contando os segundos pra sanar as minhas dúvidas.

E se eu realmente estiver grávida?


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