A destruição causada por aquele incêndio pareceu se concentrar no celeiro, mas algo estranho estava acontecendo do lado de fora. Os pequenos incêndios que os próprios selvagens haviam causado na invasão pareciam estar sendo alimentados pois cresciam exponencialmente, o que antes eram casas já não passavam de fogueiras altíssimas.Toda a Aliança estava queimando, selvagens, soldados, moradores e todos que estavam ali tentavam lutar para fugir. O pânico instaurado era geral e todos estavam perdidos, até que sem esperar as chamas cessaram sem precisarem ser contidas, o que facilitou o trabalho para as tropas do reino que estavam a caminho para ajudar os feridos e capturar qualquer um dos invasores que tivessem restado.
Assim como todo resto o celeiro estava em ruínas, os destroços estavam por toda parte. Ludu já havia recobrado a consciência e estava tentando se mexer para sair dali, sabia que logo pessoas viriam até onde estava, sabia que se fosse capturado seria julgado como selvagem e poderiam matá-lo, então continuou tentando, mas não teve muito sucesso. Ele não conseguia ver muita coisa pois estava enterrado debaixo de cinzas, ossos e restos carbonizados do que a pouco eram seus pais. Suas costas ardiam e seu corpo doía muito, presumiu que estivesse ferido, ele estava desolado e aterrorizado, não sabia o que fazer, ter toda sua família queimada na sua frente o deixou inerte e por um breve momento, só queria gritar e chorar sem parar.
Depois de enterrar o desespero o mais fundo possível ele tentou se levantar mais uma vez, mas tudo o que conseguiu foi virar seu corpo para o lado acabando com o que estava sendo sua camuflagem. Não se importou de início, se sentiu até aliviado por tirar o peso da natureza mórbida que era aquela situação, mas para o que pareceu ser seu total azar um guarda apareceu cambaleando entre os destroços e o viu. Sua respiração foi interrompida quando o homem veio em sua direção e o pegou em seus braços o fazendo derrubar o livro que ainda estava com ele.
Ludu tentou com o pouco que lhe restou de força protestar, mas nem mesmo uma palavra ele conseguiu formar, apenas se debatia fraco e exausto. Ele pode ouvir barulhos vindo do lado de fora, o que fez o guarda recuar, o homem então agachou se escondendo dos outros soldados que estavam entrando ali.
Sem entender o menino tentou se mexer novamente, mas foi impedido. Ele estava assustado, com medo, confuso e com muita dor, mas no momento em que o homem tirou seu capacete Ludu sentiu o mais profundo alívio. Era seu tio, Eduim que parecia também estar ferido. Eduim fez sinal para que ele ficasse em silêncio e então voltou a observar o que acontecia.
Os soldados afastaram os restos que estavam bloqueando a passagem, quando finalmente conseguiram passar pelos obstáculos, não acreditaram no que seus olhos viam.
- Mestre Vargo, precisa ver isso. - O homem que aparentemente comandava os outros se aproximou de restos queimados e cinzas que se espalharam com o vento. Sua expressão de surpresa era a mesma de seus homens que se mantinham céticos com a situação. Bem ali estava um bebê que dormia tranquilamente e só se mexeu quando ele a pegou com cuidado. - Mestre, o que devemos fazer com isso? - Ele a embrulhou com o tecido de sua capa.
- A criança deve ser levada ao rei. Avise a vossa majestade. - Ele a olhou novamente e continuou. - Diga que achamos uma elemental. - Já prestes a sair, Vargo chutou algo que parecia ser um livro, o pegou analisando. - Me parece que isso pertence a você. - Colocou o livro junto ao bebê e seguiu para fora.
Ludu e seu tio ficaram até que os soldados fossem embora e então partiram. Sozinhos eles conseguiram chegar aos túneis onde encontraram soldados remanescentes de seu exército e assim puderam fazer o caminho de volta a Nação Barbat.
*****
Levou um tempo para que Ludu se recuperasse das queimaduras que sofreu, mas sentia que sua alma nunca estaria curada.
Já Eduim, optou por não mostrar sua dor, ele se apegou ao seu sucesso ao invés disso. Mesmo com muitas reviravoltas seu plano havia funcionado, ele era o chefe da Nação Barbat, pelo menos até Ludu provar que era apto a função.
Certa noite eles começaram a conversar sobre o que havia acontecido em Aliança.
- Tio, o que é uma Elemental? - Ele contou tudo o que sabia sobre a história dos elementais e a destruição que causaram até que o menino ficasse satisfeito. Quando Ludu estava prestes a deixá-lo sozinho novamente Eduim o interrompeu.
- Sabe, você não precisa se preocupar com essas coisas. - Ele tentou soar o mais sereno possível. - Vou protegê-lo, mantê-lo a salvo, como ela queria.
- E do que isso me adiantaria? - Se virou para seu tio e continuou. - Meu pai... desejava que eu fosse como ele. "Um espírito forte precisa ser quebrado por uma mão forte para tomar sua verdadeira forma." Essa é a sua chance, meu tio. Prove que sua mão é mais forte que a dele e me transforme no líder que nasci para ser! Essa será minha salvação.
- Naquele instante, Eduim pensou em Vanil enquanto via surgir na sua frente o futuro senhor da guerra.
O Estopim
Espero que tenham gostado.
Não esqueçam de votar e comentar bastante.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Última Elemental - O Estopim
AdventureE de repente todo encanto acaba e você nota que o paraíso não é nada mais que uma ilusão. Essa passou a ser a realidade fria e dolorosa de Vanil. Restava a ela duas opções: abaixar a cabeça e torcer por tempos melhores ou lutar. Ela escolheu...